
Pedro Camilo Garcia Castro foi preso após espancar a namorada em um apartamento alugado em São Paulo
Matheus Croce/TV Tribuna e Redes sociais
A perda de memória relatada pela advogada e família da médica de 27 anos, espancada no rosto pelo namorado fisiculturista Pedro Camilo Garcia, pode ter sido causada por uma amnésia pós-traumática ou amnésia dissociativa, segundo análise da neurologista Andréa Anacleto, feita a pedido do g1.
A advogada Gabriela Manssur contou, na última sexta-feira (15), que a cliente começou a relembrar do dia das agressões, em 14 de julho, em um apartamento alugado pelo casal em Moema, em São Paulo. Ela foi internada na capital paulista, transferida a Santos e recebeu alta em 27 de julho. O agressor fraturou a mão com os golpes e está preso.
De acordo com a neurologista Andréa, o tratamento um quadro semelhante ao da vítima envolve acompanhamento multidisciplinar, com neurologistas, psiquiatras, psicólogos e fisioterapeutas. Sobre as amnésias citadas por ela, explicou:
Amnésia Pós-Traumática (Física): De acordo com a médica, é causada por uma lesão cerebral provocada por impacto físico. O golpe pode atingir áreas sensíveis do cérebro, como o hipocampo e o lobo temporal (partes do cérebro responsáveis pela memória) o que pode levar à perda temporária ou permanente das lembranças.
Amnésia Dissociativa (Psicológica): Segundo a especialista, ocorre em decorrência de trauma emocional intenso, mesmo sem lesão física. Nesse caso, o cérebro “bloqueia” certas lembranças como mecanismo de defesa, fazendo com que a pessoa esqueça eventos traumáticos.
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Andréa ressaltou que casos de violência doméstica podem provocar perda de memória nas vítimas tanto por lesões físicas diretas no cérebro quanto como resposta ao estresse emocional. “É relativamente frequente em casos de traumatismo cranioencefálico ou violência grave”.
⚠ A análise da especialista tem caráter informativo e não substitui uma avaliação clínica. Vale lembrar que a perda de memória da médica pode ter outras causas além das mencionadas.
Socos, traumas e memória
Médica espancada por fisiculturista começa a retomar a consciência
A neurologista explicou que, dependendo da força e da área atingida, um soco no rosto pode causar lesões cerebrais, especialmente quando há impacto direto contra o crânio. Segundo ela, esse tipo de agressão pode levar à perda de memória temporária ou permanente.
No caso da médica, que teve os ossos do rosto quebrados pelo ex-namorado, o golpe pode ter provocado uma amnésia pós-traumática, causada por alterações em regiões do cérebro responsáveis pela memória, como o hipocampo e o lobo temporal.
Por outro lado, a especialista também destacou que o trauma psicológico intenso pode gerar um tipo diferente de perda de memória, a amnésia dissociativa. Nesse quadro, o cérebro “bloqueia” certas lembranças como forma de proteção, como um mecanismo de defesa diante de situações extremas.
‘Níveis’ da perda de memória
Segundo a neurologista, o ‘nível’ da perda de memória varia conforme a extensão do dano causado. Quando não há lesão estrutural, como a destruição de tecido cerebral, a recuperação tende a ocorrer em dias ou semanas. Nesses casos, a perda de memória é temporária, geralmente associada a inflamações, concussões ou traumas emocionais, e costuma ser reversível.
Por outro lado, quando há danos estruturais ao cérebro, a recuperação pode não acontecer. “Em muitos casos, mesmo com melhora, a vítima pode apresentar ‘lacunas’ permanentes no período próximo ao trauma”, destaca a especialista.
Tratamento
Ainda de acordo com Andréa, os tratamentos para estes casos envolvem uma abordagem multidisciplinar. Além da avaliação neurológica completa, com exames de imagem. Ela ressaltou as seguintes medidas:
Acompanhamento neuropsicológico para avaliação e reabilitação da memória;
Terapia medicamentosa quando indicada, para controlar sintomas associados (como dor, ansiedade ou depressão);
Fisioterapia e terapia ocupacional para recuperação global;
Psicoterapia para lidar com o impacto emocional e prevenir transtorno de estresse pós-traumático (TEPT).
Retomando a memória
Médica é espancada pelo namorado fisiculturista em Moema, São Paulo
A médica de 27 anos ainda sofre com sequelas físicas e deverá passar por novas cirurgias reparadoras. Ela começou a retomar a memória sobre as agressões e se movimentar com mais segurança. As informações foram dadas ao g1 pela advogada de defesa da família, Gabriela Manssur.
A médica, que já foi submetida a diversas cirurgias no nariz, olhos, arcada dentária e seios da face, está sob os cuidados da família em casa. Muito abalada emocionalmente, a jovem está sendo avaliada a cada dia.
“Está começando a retomar a sua consciência [memória], começando a se movimentar de forma um pouco mais livre e segura”, informou a advogada Gabriela Manssur.
De acordo com ela, a médica deverá passar por outras intervenções cirúrgicas futuramente. “Ainda apresenta intenso abalo emocional, intensas sequelas físicas e, obviamente, passará ainda por algumas outras cirurgias reparadoras que serão avaliadas no decorrer do seu desenvolvimento”, afirmou.
Anteriormente, uma familiar da vítima havia informado que a médica não se lembrava de nada sobre as agressões. Porém, o g1 apurou que ela recuperou parcialmente a memória.
Fisiculturista foi preso após quebrar a mão espancando namorada médica, no bairro Moema, em São Paulo (SP)
Redes Sociais e Matheus Croce/TV Tribuna
Ossos destruídos
Gabriela Manssur havia informado que a mulher teve os “ossos da face destruídos” durante as agressões e foi submetida a cirurgias que “contiveram as lesões”.
Um prontuário médico, obtido pelo g1, indicou que a jovem passou por tomografias no crânio, coluna cervical e face, onde foram encontradas as lesões.
Fisiculturista foi preso após quebrar a mão espancando namorada médica, no bairro Moema, em São Paulo (SP)
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Justiça
Pedro Camilo teve o pedido de habeas corpus negado pela Justiça e segue preso no Centro de Detenção Provisória (CDP) de São Vicente, no litoral de São Paulo.
A 7ª Câmara de Direito Criminal do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) negou o pedido, pois considerou que não há justificativa para substituir a prisão preventiva por medidas cautelares, como a prisão domiciliar.
Ao g1, o advogado Eugênio Malavasi informou que a defesa impetrará uma nova ordem de habeas corpus perante o Superior Tribunal de Justiça (STJ), alegando a possibilidade da conversão da prisão preventiva por medidas cautelares diversas. De acordo com ele, o fisiculturista ainda não passou por uma cirurgia para a fratura na mão.
Já a advogada Gabriela Manssur, que representa a vítima, celebrou a decisão da 7ª Câmara do TJ-SP. “É o símbolo da Justiça, da proteção a uma mulher vítima de tentativa de feminicídio. É a segurança da própria vítima e de sua família e também a resposta do poder judiciário para a sociedade que vê diariamente mulheres sendo agredidas, espancadas e, infelizmente, sendo mortas nas mãos dos seus parceiros ou ex-parceiros”, disse em entrevista ao g1.
De acordo com ela, a defesa da família espera que o processo legal seja respeitado e a punição seja aplicada conforme a gravidade do crime. “Penas rígidas, com prisões em regime inicial fechado e com mais rigorismo em eventuais progressões de regimes e benefícios na execução da pena”, afirmou.
Fisiculturista Pedro Camilo foi preso após agredir a namorada em um apartamento alugado em SP
Reprodução
Prisão mantida
Pedro Camilo teve a prisão em flagrante convertida para preventiva após audiência de custódia realizada no dia 15 de julho, segundo o Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP).
O juiz Diego De Alencar Salazar Primo, do Foro de Santos, converteu a prisão em flagrante de Pedro em preventiva e citou: “O modus operandi denota covardia, descontrole emocional e periculosidade concreta por parte do custodiado, homem fisiculturista de robusto porte físico, que teria socado intensamente o rosto de sua namorada”.
Fisiculturista que espancou a namorada confirma que quebrou a mão durante a agressão
A decisão do magistrado acompanhou o posicionamento do Ministério Público, que defendeu a necessidade da medida. O magistrado também considerou que a liberdade de Pedro representaria risco à ordem pública.
Raio-X
Pedro Camilo teve uma fratura após espancar a namorada em São Paulo
g1 Santos e reprodução
Um exame de raio-X mostra a fratura na mão do fisiculturista. Ao g1, a médica ortopedista Érica Cecília Arantes de Gerard Ferreira analisou as imagens e identificou uma fratura na base do quarto metacarpo, o osso que conecta o punho ao dedo anelar, na mão de Pedro Camilo.
Dois exames de imagem da lesão de Pedro Camilo foram apresentados à Polícia Civil, além de um atestado de 30 dias com o CID correspondente à fratura de ossos do metacarpo.
Entenda o caso
Vídeo flagra prisão de fisiculturista durante fuga após espancar a namorada médica
Pedro foi preso na Avenida Presidente Wilson, no bairro José Menino, em Santos, no dia 14 de julho. Ele deixou a capital paulista após cometer o crime.
O g1 obteve as imagens do Controle Operacional (CCO) da Prefeitura de Santos, que auxiliaram na prisão do fisiculturista, e registraram a detenção (assista acima).
Aos policiais militares, ele alegou que cometeu o crime por ciúmes, após ver uma conversa em que ela mandou fotos sensuais para outro homem. “Ele teria visto no celular da vítima conversas com um rapaz e, ao mesmo tempo, encaminhamento de nudes para esse rapaz […] É uma pena né? São dois jovens e por motivo muito fútil”, disse a delegada Deborah Lázaro, da Delegacia de Defesa da Mulher (DDM) de Santos, em entrevista à TV Tribuna, afiliada da Globo.
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