Força-tarefa combate garimpeiros ilegais em Sararé, terra indígena de MT mais devastada do país


Força-tarefa combate garimpo no território indígena mais devastado do país
Uma operação do Ibama, de órgãos federais e de três estados está combatendo garimpeiros ilegais na terra indígena mais devastada do país.
O garimpo devora a floresta e deixa feridas abertas em vários pontos da terra indígena Sararé. São 67 mil hectares no oeste de Mato Grosso. Os invasores disputam a exploração ilegal de ouro.
No local, há uma cava grande e recente, aparentemente aberta há pouco tempo e em operação.
“Primeiro, a escavadeira hidráulica cava esse buraco. Fazem o desmonte do barranco, ela vira uma lama, e essa lama que é transportada para as caixas. E aquilo que não é retido, a maior parte, é aportada novamente para o rio”, diz Hugo Loss, coordenador de Operações de Fiscalização do Ibama.
“Também existe o lançamento de mercúrio que causa poluição”, acrescenta.
Quando um ponto de garimpo se esgota, novas áreas começam a ser ocupadas com acampamentos improvisados. Em um deles, o Ibama estima que havia mais de mil garimpeiros.
Abaixo, uma indígena relata o que viveu pela primeira vez. Ela não mostrou o rosto, tem medo. Cerca de 200 Nambikwara Katitaurlu moram na terra indígena Sararé, onde o garimpo provocou um conflito interno entre as aldeias.
“O garimpeiro mesmo fala que ‘ah eu pago. Quanto você queria? Pago…R$ 3 mil, R$ 4 mil’. Aí, acreditou, deixou entrar. Minha comunidade, ela acreditou nesses garimpeiros. Alguns estão a favor de garimpo. Por mim, eu não vou acreditar. Estou de olho nessa terra, floresta.”
Outro indígena reforça que os prejuízos são maiores do que qualquer vantagem.
“O peixe. Isso é preocupação. Antes dele, eu comia no rio peixe, todo. Como o garimpo estragou, o garimpeiro toda hora ameaça todo dia que ele vai matar. Se você não deixar ele trabalhar aqui, e te mato tudo.”
Nos últimos três anos, a mineração ilegal no território se intensificou de forma avassaladora. Hoje, Sararé é considerada a terra indígena com mais degradação no Brasil — a mais desmatada e com o maior número de alertas de garimpo.
“Outras terras indígenas no território Yanomami, Munduruku ou Caiapó, foram objeto de operações em anos anteriores. Há uma suspeita de que parte dos garimpeiros migraram para essa área”, diz Jair Schimidit, chefe de operações do Ibama.
Mas essa não é a única ameaça no radar.
“Isso aqui é uma munição de calibre 556, carabina, fuzil, e ela é uma munição que as forças de segurança, em geral, o Ibama, pelo menos, não usa quando vem para esse tipo de situação aqui. Tudo indica que o pessoal aqui estava bem armado.”
Segundo a Polícia Civil, as organizações criminosas entraram inicialmente para vender drogas.
“E, depois, perceberam que a própria extração do ouro traria mais recursos. E passaram a tentar tomar. Os grupos criminosos que já atuam na extração de ouro muito tempo, muitos deles com base no Pará, Rondônia, também se fortificaram e passaram a defender esses pontos. O que gerou os conflitos”, diz o delegado regional João Paulo Berté.
Sessenta assassinatos foram atribuídos diretamente à disputa pelo controle do garimpo, desde 2023.
Os invasores fazem de tudo para esconder as máquinas da fiscalização. Eles fogem pela mata ao escutar o barulho do helicóptero.
O acampamento tem sinais de que foi deixado há pouco e às pressas. Tem muita comida, documentos, cartão de crédito. Na pressa, deixaram chinelo para trás.
A lenha para cozinhar ainda estava queimando, o fogão também estava quente. O que chama a atenção é que o acampamento já foi destruído há poucos dias e, mesmo assim, os garimpeiros voltaram.
A operação cumpre uma determinação judicial de 2023 para a retirada dos invasores. E reúne o Ibama, o Ministério dos Povos Indígenas, a Funai, forças federais e as polícias de Goiás, Mato Grosso e do Distrito Federal.
Em três semanas, os agentes destruíram mais de 400 acampamentos e 100 escavadeiras — mais da metade das máquinas que os fiscais estimam na região.
Segundo o Ibama, a ação de desintrusão atende a uma decisão judicial de 2023 e não tem prazo para terminar.
“A expectativa é que, na medida que conseguimos cessar essa situação do ouro, a área possa ser recuperada. A vegetação pode ser regenerada, evitando outras consequências ao meio ambiente e aos indígenas”, diz o chefe de operações do Ibama.
Força-tarefa combate garimpeiros ilegais em Sararé, terra indígena de MT mais devastada do país.
Reprodução JN
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