‘Cada gota fez diferença’, diz mãe que teve crises de ansiedade e dificuldade para amamentar gêmeas


Tauana teve sangramento pós parto e gêmeas precisaram de leite humano do Banco de Leite do HC de Ribeirão Preto, SP
Arquivo Pessoal
No último dia 2 de agosto, Liz e Mariah completaram 5 meses de vida. Prematuras, nasceram em março, com 33 semanas – quando o considerado a termo é de 39 a 40 semanas.
As gêmeas, filhas da analista administrativa Tauana Garcia Alves, precisaram permanecer mais de 20 dias na unidade neonatal do Hospital das Clínicas (HC) de Ribeirão Preto e, logo nos primeiros dias de vida, receberam leite humano pasteurizado do Banco de Leite Humano do HC para complementar a alimentação.
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Tauana enfrentava dificuldades para produzir leite suficiente para alimentar as duas, causadas por crises de ansiedade e um sangramento intenso pós-parto.
“Enquanto eu iniciava a extração das primeiras gotas, elas já precisavam ser alimentadas. Recebi muito apoio de toda a equipe para dar continuidade à produção do leite e ao aleitamento materno. Esse serviço foi muito importante para a sobrevivência e desenvolvimento delas”.
Por isso, o Banco de Leite Humano do HC foi essencial para Liz e Mariah.
As meninas recebiam meu leite, mas precisavam do leite do banco para completar as mamadas. Lembro que senti um alívio enorme por saber que existia essa rede de apoio, que o leite doado estava ali para garantir a sobrevivência delas. Foi o que manteve minhas filhas fortes até que eu conseguisse amamentar. Cada gota fez diferença na vida das minhas filhas
Liz e Mariah completaram 5 meses no dia 2 de agosto deste ano
Arquivo pessoal
Por que o Banco de Leite é importante
Atualmente, o Banco de Leite Humano do HC de Ribeirão Preto fornece leite pasteurizado para cerca de 40 bebês todos os dias.
Ao g1, a diretora técnica de saúde do HC, Larissa Alves, disse que qualquer mãe que esteja amamentando e tenha leite excedente pode se tornar doadora, desde que não tenha doenças infecciosas contagiosas.
O leite coletado deve ser armazenado em frascos de vidro esterilizados, fornecidos pelo banco.
“A mãe passa por uma entrevista, onde é avaliado todo o perfil sorológico, exames e uso de medicamentos, e uma médica responsável analisa se ela está apta para doar. Além disso, ela não precisa doar 200 ml de uma vez. Vai ordenhando aos poucos, colocando o leite no frasco e congelando. Ao longo de uma semana até dez dias, consegue atingir o volume mínimo necessário para o processamento”.
Após a coleta, o leite é levado para o HC com transporte exclusivo e controlado. No banco, passa por controle físico-químico e microbiológico, é pasteurizado e depois congelado. O leite pasteurizado pode ser mantido congelado por até seis meses.
O leite humano doado é destinado a bebês prematuros, de baixo peso ou com alguma doença que exija cuidados especiais nas unidades neonatais do Hospital das Clínicas.
Gêmeas Liz e Mariah
As gêmeas amamentam hoje em casa com a mãe Tauana, que agora consegue produzir leite suficiente para ambas
Benefícios do aleitamento materno
Dados do Estudo Nacional de Alimentação e Nutrição Infantil (ENANI) mostram que o aleitamento materno exclusivo até os seis meses de idade é a forma mais eficaz de reduzir mortalidade infantil, prevenindo diarreias, infecções e complicações perinatais, principais causas de morte entre recém-nascidos.
Além dos benefícios para os bebês, a amamentação protege a saúde da mulher, reduzindo o risco de câncer de mama e ovário.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) apontam que o aumento das taxas de aleitamento materno poderia salvar mais de 820 mil vidas de crianças por ano.
Apesar dos desafios iniciais, Tauana conseguiu estabelecer a amamentação depois que as filhas tiveram alta do hospital, com apoio da equipe. Hoje, ela consegue amamentar as gêmeas exclusivamente.
“Foi desafiador, mas consegui produzir leite suficiente para as duas. O banco salvou a vida delas e me permitiu criar vínculo afetivo pelo aleitamento materno, que é fundamental para a saúde e o desenvolvimento do bebê. Serviços como o banco tornam isso possível”.
Gêmeas Liz e Mariah com a equipe médica após a alta: mãe expressa gratidão pelo apoio recebido durante toda a internação
Arquivo pessoal
Gestação inesperada e de alto risco
Tauana e o marido são casados há 15 anos e sempre desejaram ter filhos, mas a gravidez gemelar não foi planejada e ela conta que foi um susto descobrir.
“Foi um baque pra gente. Descobri que estava grávida e logo veio a notícia de que seriam gêmeas. Inicialmente, foi um susto enorme. Meu marido ficou muito assustado no início, porque achávamos que não daríamos conta, mas logo nos adaptamos e ficamos muito felizes com a notícia”.
Tauana e o marido com as filhas durante internação na unidade de pré-natal do HC, em Ribeirão Preto, SP
Arquivo pessoal
A gestação, no entanto, não foi isenta de complicações. Tauana, que já tinha hipertensão, desenvolveu diabetes gestacional e, por volta da 20ª semana, uma das gêmeas apresentou restrição de crescimento, ou seja, ela estava recebendo menos nutrientes que a irmã.
Ao g1, Tauana contou que teve uma gestação de alto risco, o que exigiu acompanhamento semanal e exames constantes para garantir a saúde das bebês.
Eu ia ao hospital toda semana, fazia ultrassom, passava por consultas, porque a qualquer sinal diferente, já era motivo de preocupação. Era uma mistura de ansiedade e esperança, porque sabia que elas poderiam nascer a qualquer momento, mas também tinha muita fé de que daria tudo certo.
O parto cesáreo ocorreu na 33º semana, no dia 2 de março deste ano, quando o médico decidiu pela antecipação para proteger a saúde das meninas.
Assim que nasceram, Liz e Mariah foram imediatamente para a unidade neonatal, pois precisavam de cuidados especiais devido ao baixo peso. Uma delas permaneceu internada por 24 dias e a outra, por 34.
Agosto Dourado: mês da valorização do aleitamento materno
O mês de agosto, conhecido como ‘Agosto Dourado’, reforça a importância da doação de leite humano e do apoio ao aleitamento materno. Campanhas educativas e de conscientização incentivam mães a conhecerem os benefícios da amamentação e a contribuírem para o banco de leite.
De acordo com Larissa, há períodos do ano em que as doações diminuem e campanhas como as do ‘Agosto Dourado’ ajudam a manter o abastecimento do banco.
“Temos alguns períodos do ano em que as doações caem, principalmente durante as festas de final de ano e férias, quando muitas mães viajam ou mudam a rotina. Nesses meses, nosso estoque fica menor e precisamos intensificar as campanhas de doação. Por isso, iniciativas como o ‘Agosto Dourado’ são importantes, porque ajudam a conscientizar a população e manter o banco de leite sempre abastecido”.
Agosto é o mês de conscientização sobre aleitamento materno
A diretora conta ainda que muitas mães que precisaram do leite humano pasteurizado para alimentar seus filhos, acabam se tornando doadoras posteriormente.
“Já tivemos mães que, no início, precisaram do leite do banco para alimentar seus filhos, mas depois, com todo o apoio e orientação da equipe, conseguiram amamentar e decidiram se tornar doadoras. Elas vivenciam a importância do leite humano e querem ajudar outros bebês que também precisam. É uma forma de retribuir e salvar vidas”.
Para Tauana, toda a experiência com a doação de leite e o puerpério aumentaram a gratidão e o valor do aleitamento materno.
“Sou muito grata a toda equipe do banco de leite. Minha mensagem para outras mães é ter paciência e persistência: mesmo com dificuldades, o aleitamento materno é fundamental para a vida do bebê e para criar um vínculo afetivo duradouro”.
*Sob a supervisão de Flávia Santucci
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