
Advogada Isete Evangelista é suspeita de causar morte de Jesus Aguilera, adolescente de 16 anos
Reprodução/Instagram e Arquivo Pessoal
O Ministério Público de Roraima (MPRR) recuou e decidiu reabrir a investigação contra a advogada Isete Evangelista Albuquerque, que atropelou e matou o adolescente Jesus Samuel Salazar Regardiz, de 16 anos, em Boa Vista. A decisão foi assinada nesta sexta-feira (22) pelo procurador-geral de Justiça, Fábio Bastos Stica.
O advogado Bruno Caciano, que defende da mãe da vítima, a faxineira venezuelana Karla Betania Regardiz Aguilera, pediu a revisão do arquivamento. O caso havia sido arquivado em maio pela promotora Ilaine Aparecida Pagliarini, que entendeu não haver provas suficientes para responsabilizar a motorista.
No entanto, a Procuradoria-Geral de Justiça considerou que houve imprudência da condutora ao cruzar a avenida Ville Roy sem observar a presença do ciclista, mesmo que ele estivesse fora da mão correta e trafegando pela contramão.
“As duas hipóteses revelam quebra do dever objetivo de cuidado, caracterizando culpa na modalidade imprudência, ainda que concorrente com a do ciclista”, escreveu o procurador-geral em sua decisão.
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Com a revisão, o promotor de Justiça Ademar Loiola Mota foi designado para analisar o caso. Isete foi indiciada pela Polícia Civil por homicídio culposo, quando não há a intenção de matar.
O g1 procurou a defesa de Isete, questionou se há o interesse em se posicionar e aguarda a resposta.
No indiciamento, a Polícia Civil considerou como provas contra a advogada os depoimentos da vítima, o dela, e exames que indicavam a morte de Jesus foi causada diretamente pelo atropelamento. A investigação concluiu que Isete atravessou a via sem olhar para os dois lados, como exige a lei, e acabou atingindo o menino.
O acidente
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O acidente ocorreu no dia 4 de janeiro deste ano, no cruzamento da avenida Ville Roy com a rua Casemiro de Abreu, no bairro Caçari, região nobre de Boa Vista.
Segundo investigação da Delegacia de Acidentes de Trânsito (DAT), Jesus conduzia uma bicicleta com uma “carrocinha” frontal quando foi atingido pelo carro da advogada, um SUV. Ele estava fora da ciclovia. Segundo a mãe, ele trabalhava como ajudante de pedreiro e voltava do trabalho quando foi atingido.
O adolescente ficou internado por 15 dias e passou por cirurgia na coluna cervical, após lesão em três vértebras. Com isso, perdeu os movimentos dos braços e pernas, necessitando de cuidados especiais e fisioterapia.
A mãe do menino conta que foi necessário adaptar a estrutura da casa, comprar cadeiras de rodas, pagar transportes privados para levá-lo a fisioterapia, além de fraldas, medicamentos e alimentação especifica durante os 4 meses em que sobreviveu ao acidente.
Em 1º de abril, o adolescente morreu por complicações neurológicas e abdominais decorrentes do atropelamento, de acordo com laudo médico.
“Ele começou a convulsionar. Ele convulsionava, se dobrava, era muito constante a convulsão. Até que um dia, ficou convulsionando tanto que tive que chamar o Samu. Quando o Samu chegou, tentaram reanimar, mas estava praticamente morto”, disse.
“Nós fomos para o hospital e lá os médicos disseram que só um milagre de Deus”.
Com a morte do filho, a mãe passou a ser assistida por um advogado na investigação contra a suspeita. Além de advogada, a suspeita também é professora no curso de Direito da Universidade Federal de Roraima (UFRR).
Inquérito da polícia
Durante as investigações, a Polícia Civil concluiu que Isete agiu com imprudência ao cruzar a avenida. O relatório da delegada Ariane Grisolia Faria Silva destacou que a motorista teria olhado apenas para um lado antes de avançar no cruzamento, desrespeitando o dever de cautela.
“Em seu interrogatório disse que olhou apenas para um lado, o lado esquerdo e que, como não viu nenhum veículo, avançou com o carro. Nesse momento, atingiu a vítima Jesus. Caso tivesse olhado para ambos os lados, certamente teria percebido a aproximação da bicicleta, que não era pequena, vindo em sua direção”.
“Por isso, a transgressão dessa norma acarreta a violação do dever objetivo de cuidado, por imprudência […] concluo as investigações nesta seara e INDICIO Isete Evangelista Albuquerque pela prática do crime de homicídio culposo”, escreveu a delegada no inquérito.
Isete, no entanto, negou a acusação e disse ter olhado para ambos os lados. Ela alegou que o adolescente trafegava no sentido contrário ao fluxo, fora da ciclovia. Uma testemunha que estava com ela reforçou essa versão.
Quando ainda estava internado, Jesus afirmou em depoimento que estava na mão correta da via, na faixa da direita, e que a advogada não o viu atravessando.
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