
Mulheres fazem protesto no Recife em apoio às vítimas do caso Rodrigo Carvalheira
O empresário Rodrigo Carvalheira foi ouvido, nesta segunda-feira (28), na última audiência do primeiro processo por estupro que tramita contra ele na Justiça. Durante o depoimento, um grupo de mulheres realizou um protesto do lado de fora do tribunal em apoio às vítimas (veja vídeo acima).
Segundo os relatos das vítimas, que pediram para não serem identificadas, ele deu comprimidos a elas e praticou os abusos enquanto as mulheres dormiam. O empresário foi alvo de cinco denúncias registrados entre 2005. Além do processo da audiência desta segunda, ele é réu em outras duas ações. Uma prescreveu e uma não teve andamento formal (saiba mais abaixo).
✅ Receba no WhatsApp as notícias do g1 PE
A sessão foi realizada no Fórum Desembargador Rodolfo Aureliano, no bairro de Joana Bezerra, na área central do Recife. A manifestação teve início por volta das 8h e contou com a presença de familiares, amigos e apoiadores, que usaram cartazes e camisas com frases como “Violência sexual é crime. Silêncio nunca mais!” e “Culpe o estuprador. Nunca a vítima!”.
Na manifestação, as manifestantes pediram mais agilidade no julgamento, conduzido pela juíza Blanche Maymone Pontes Matos, da 18ª Vara Criminal. Ainda não há uma data prevista para sair a sentença.
A vítima do processo disse que o resultado da ação foi prorrogado em quase um ano por causa de “manobras jurídicas” feitas pela defesa do empresário para adiar o depoimento o máximo possível.
“Já era para ter acabado faz tempo, mas por manobras jurídicas dos advogados dele, ele conseguiu prorrogar quase um ano para que ele finalmente conseguisse ser ouvido. (…) A expectativa é que de fato ele venha, fale, seja ouvido e, após isso, esperar a sentença da juíza, que se Deus quiser, a gente acredita muito na condenação”, disse uma das vítimas.
Para ela, a mobilização das mulheres é fundamental para fortalecer o combate à violência sexual. “É muito gratificante ver que outras mulheres se mobilizam e se unem em prol de todas as outras. […] É muito difícil você enfrentar tudo isso sozinha. Então, quando você tem o apoio de outras mulheres que lhe conhecem ou não, você se sente mais forte e com mais força de continuar”, afirmou.
A mãe de outra vítima, que também estava presente no fórum, participou da manifestação e disse que foi pega de surpresa quando descobriu o que tinha acontecido com a filha.
“Eu só soube dela, que ela foi uma vítima, há dois anos atrás, quando tudo [o processo] começou. E fiquei chocada. Perguntei a ela: ‘onde é que eu estava, minha filha, que você não recorreu a mim?’. E isso me corroeu por muito tempo […]. A gente esperava mais da Justiça, dela tomar mais alguma medida […]. O que foi péssimo porque inibiu mais algumas vítimas”, disse.
Outra participante do ato foi a trabalhadora doméstica Ângela Maria de Souza. Ela mora em Camaragibe, na Região Metropolitana, e não conhecia nem Carvalheiro nem as vítimas.
“Eu me senti muito sensibilizada com o que aconteceu. Aconteceu uma coisa com uma mulher, é como se fosse comigo. Não conheço, nunca vi, não sei de nada, mas mexe, sabe? Porque é tão triste alguém fazer uma coisa com você e você ser culpada pelo que aconteceu. Você não tem nada a ver, mas você foi culpada. Eu não consigo. Para mim, é muito emocionante, é forte demais”, afirmou.
Mulheres se reúnem no Fórum Desembargador Rodolfo Aureliano, no Recife, para pedir justiça no caso Rodrigo Carvalheira
Mariane Monteiro/g1 PE
O que diz a defesa de Rodrigo Carvalheira
Procurado pelo g1, o advogado Yuri Herculano, que representa o empresário Rodrigo Carvalheira, enviou uma nota informando que:
o interrogatório foi um “momento profundamente significativo” para o réu, tanto do ponto de vista jurídico quanto pessoal;
“depois de uma longa espera”, o acusado pôde ser ouvido para apresentar “com serenidade e verdade” sua versão dos fatos;
os últimos meses foram de “angústia e expectativa” até o momento de falar sobre o caso;
o réu “falou com o coração tranquilo de quem sabe da própria verdade”;
reitera “a plena confiança na Justiça e na força do direito” e segue firme na busca pela verdade.
Cronologia do caso
Empresário Rodrigo Carvalheira é preso pela segunda vez
Empresário de 35 anos, Rodrigo Carvalheira faz parte de uma tradicional família pernambucana, com empreendimentos nas áreas de gastronomia, produção de eventos e imóveis (veja vídeo acima).
Ele já foi secretário de Turismo de São José da Coroa Grande, no Litoral Sul de Pernambuco.
Também foi nomeado presidente do diretório estadual do antigo Partido Trabalhista Brasileiro (PTB).
Preso preventivamente em 11 de abril de 2024, ficou sete dias detido no Centro de Observação e Triagem Professor Everardo Luna (Cotel), em Abreu e Lima, no Grande Recife.
Foi solto, com uso de tornozeleira eletrônica, em 17 de abril de 2024.
Carvalheira voltou a ser preso em 6 de junho, a pedido do Ministério Público de Pernambuco (MPPE), por causa de um telefonema que fez, em dezembro de 2023, para o tio de uma suposta vítima, o que foi considerado uma tentativa de interferir nas investigações.
Foi solto novamente em 26 de novembro de 2024, após cinco meses detido.
VÍDEOS: mais vistos de Pernambuco nos últimos 7 dias