Falta de canetas de insulina em SP se agrava após indústria priorizar remédios para emagrecimento


Falta de canetas para aplicação de insulina nos postos de saúde em SP
A falta de canetas aplicadoras de insulina nas Unidades Básicas de Saúde (UBSs) de São Paulo tem prejudicado pacientes com diabetes. Segundo o Ministério da Saúde, o problema está ligado à priorização da indústria farmacêutica na produção de canetas usadas para emagrecimento, que têm alta demanda no mercado.
Na prática, a insulina continua disponível, mas os aplicadores — que permitem maior precisão e praticidade — sumiram.
Maria Helena dos Santos, é aposentada e conta que há dois meses não consegue retirar a caneta. “Sempre que vou ao posto, eles avisam que não tem. A gente escuta só: ‘não tem, não tem’”, relatou.
O marido da Eliane Sales é diabético. Ela afirma que moradores da região se organizam em busca dos aplicadores. “Estamos praticamente fazendo mutirão. Um vai para um lado, outro vai para o outro, batendo de posto em posto. Procurando medicação e está todo mundo sem”, disse.
Com a falta dos dispositivos, a Secretaria Municipal da Saúde passou a distribuir frascos de doses múltiplas de insulina e seringas. O método, no entanto, é considerado mais doloroso e difícil de aplicar.
Frascos de insulina e seringas são distribuídas para substituir as canetas aplicadoras.
Reprodução
“Hoje a gente está levando a seringa com o líquido mesmo. Mas, se fosse para escolher, a caneta é menos assustadora. Eu mesma aplico”, contou Maria Lúcia que é diabética.
O aposentado Celso Clemente também relatou dificuldade. “Tenho problema de visão. Então peço para minha esposa colocar a medida certa e aplicar”, explicou.
Vanessa de Angelis disse que o pai, de 81 anos, também sofre com a troca do dispositivo. “Qualquer mudança é complexa. Agora ele precisa calcular mililitros na seringa, e treme um pouco. É muito mais complicado”, afirmou.
Importância do aplicador
De acordo com João Salles, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Diabetes e diretor da Santa Casa de São Paulo, a falta da caneta compromete o controle da diabetes.
“A caneta tem uma precisão maior na aplicação da insulina. Cada clique equivale a uma unidade, o que ajuda principalmente pacientes com deficiência visual. Já na seringa, muitas vezes só conseguimos aplicar de duas em duas unidades”, explicou.
Canetas utilizadas na aplicação de insulina
Reprodução
O que diz o Ministério da Saúde
Em nota, o Ministério da Saúde afirmou que a escassez das canetas aplicadoras é consequência de uma mudança global no mercado farmacêutico. Segundo a pasta, fabricantes têm priorizado a produção de versões para emagrecimento, mais lucrativas.
O governo federal não informou prazo para normalização do fornecimento.
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