
Tentativa de feminicídio: vítima relembra agressão sofrida em Fortaleza
A cicatriz com 283 pontos na cabeça não deixa Elisângela dos Santos Gomes, de 48 anos, esquecer as agressões que sofreu do seu ex-companheiro no Bairro Lagoa Redonda, em Fortaleza, em julho deste ano. Ela foi esfaqueada e teve uma das orelhas arrancadas pelo homem de 61 anos, que não aceitava o fim do relacionamento dos dois.
Em entrevista exclusiva à TV Verdes Mares, Elisângela relata o que lembra do dia e descreve como tem sido sua recuperação após mais de um mês do ocorrido. O suspeito foi preso em flagrante após ser espancado pela população.
Vítima já sofria ameaças do ex-companheiro.
Reprodução/TV Verdes Mares
➡️ Atenção: esta matéria apresenta conteúdo sensível sobre violência doméstica e violência contra a mulher, o que pode despertar gatilhos. Para denunciar casos semelhantes, o Disque 180 é o telefone exclusivo de atendimento à mulher do governo federal. No fim da reportagem, confira mais detalhes sobre como realizar denúncias.
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Ex não aceitava fim da relação
Elisângela foi internada após ser atacada a facadas pelo ex no Bairro Lagoa Redonda, em Fortaleza.
Arquivo pessoal
Elisângela dos Santos se relacionou com Francisco Ricardo Damasio de Oliveira por cerca de 8 meses. Os dois moravam no mesmo condomínio, porém a mulher morava com a filha caçula de 7 anos, diagnosticada com autismo, enquanto o homem morava em outro apartamento.
Na semana anterior à violência, Elisângela havia terminado o relacionamento com o agressor e foi passar uma temporada na casa da mãe dela, local onde o crime ocorreu.
“Ele pulou o muro e já foi tirando a faca de dentro da mochila, uma faca muito grande, e veio pra cima de mim. Foram muitos golpes. Eu acho que já tinha sangue no chão, que eu escorreguei. Quando eu escorreguei, ele caiu em cima de mim, começou a golpear a minha cabeça. Minha mãe, querendo me ajudar, sentou em cima do braço dele, ficou puxando a camisa dele, pra ver se ele parava de me golpear. Graças a Deus o meu sobrinho conseguiu pedir ajuda. O meu vizinho entrou, conseguiu conter ele”, relembra a vítima.
Elisângela foi internada no Hospital Instituto Doutor José Frota (IJF). Ela chegou a ser intubada e precisou passar por cirurgias: uma para controlar a hemorragia causada pelas facadas e outra para reconstruir a orelha atingida.
Após atacar a ex-companheira, o homem foi espancado por populares. Em seguida, ele foi preso em flagrante por uma equipe da Polícia Militar. O homem já tinha antecedentes criminais por ameaças e difamação.
Hoje, Elisângela pede justiça e compartilha sua história para que outras mulheres não passem pela mesma situação: “E eu estou aqui hoje pedindo a Deus que a justiça seja feita, para que ele não faça isso mais com ninguém. Até comigo mesmo, porque eu não consigo nem sair, vivo com medo”.
O caso foi registrado no 30º Distrito Policial, onde o idoso foi autuado por tentativa de feminicídio e outros crimes relacionados à violência doméstica.
Homem era violento
Elisângela terminou o relacionamento após Francisco Ricardo apresentar sinais de abuso e violência. De acordo com a vítima, ele era muito ciumento, já havia batido nela e a ameaçado através de mensagens.
“Eu não consigo dormir direito, não consigo sair. Eu estou com medo até de sair do portão. Não durmo direito, tenho pesadelos. Está muito difícil de conseguir apagar isso da memória”, lamenta.
Além das consequências psicológicas, Elisângela também carrega marcas físicas: após as 20 facadas, ela teve 283 pontos na cabeça. Um dos braços ainda está machucado, dificultando sua movimentação:
“Todo dia são dores horríveis. Todo tempo tomando medicamento para passar essa dor e é constante essa dor. Peço muito que ele fique preso, que possa também ter um julgamento pra que ele pague por isso que ele fez. É muita crueldade”, concluiu a vítima.
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Violência contra mulher: como pedir ajuda
Além de denunciar em distritos policiais e delegacias especializadas, a mulher em situação de violência doméstica pode recorrer a uma rede assistencial de entidades dos poderes municipal, estadual e federal.
Disque 180
O Disque 180 é o telefone exclusivo de atendimento à mulher do governo federal. O número presta apoio e escuta mulheres em situação de qualquer tipo de violação ou violência de gênero. Por meio do canal, os casos são encaminhados a órgãos competentes.
Delegacia de Defesa da Mulher
O serviço de denúncia em Fortaleza é direcionado para a unidade especializada de Defesa da Mulher, que fica no complexo da Casa da Mulher Brasileira, no Bairro Couto Fernandes. A delegacia também funciona de forma ininterrupta. Além da unidade na capital, há Delegacias de Defesa da Mulher nas cidades de Pacatuba, Caucaia, Maracanaú, Crato, Iguatu, Juazeiro do Norte, Icó, Sobral e Quixadá.
Endereço: Rua Tabuleiro do Norte, s/n, Bairro Couto Fernandes
Telefone: (85) 3108-2950
Casa da Mulher Brasileira
O equipamento gerenciado pela Secretaria da Proteção Social, Justiça, Cidadania, Mulheres e Direitos Humanos (SPS), do Governo do Estado, atua no atendimento às mulheres que foram vítimas de violência em Fortaleza.
No mesmo espaço, funciona a Delegacia de Defesa da Mulher (DDM), o Juizado de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, uma unidade do Ministério Público e uma da Defensoria Pública, além de um centro de referência municipal.
Na Casa da Mulher, também são ofertados cursos de capacitação profissional dentro da Promoção da Autonomia Econômica, bem como alternativas de acolhimento temporário e espaço infantil para as crianças que estejam acompanhando as mães em atendimento.
Horário de atendimento: 24 horas por dia
Endereço: Rua Teles de Sousa, s/n, Bairro Couto Fernandes
Telefone: (85) 3108-2968
Centro de Referência Municipal Francisca Clotilde
Em Fortaleza, é disponibilizado o Centro de Referência e Atendimento à Mulher em Situação de Violência Francisca Clotilde. O espaço, que faz parte do complexo da Casa da Mulher Brasileira, promove acompanhamento e encaminha as vítimas aos serviços da rede de atendimento, acolhendo mulheres que sofreram violência psicológica, sexual, física, moral, patrimonial, abuso, exploração, assédio moral e tráfico de mulheres.
Horário de atendimento: Segunda a sexta-feira, das 8h às 20h.
Endereço: Rua Teles de Sousa, s/n, Bairro Couto Fernandes
Telefone: (85) 3108-2968
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