Você conhece o lobisomem do seu bairro? Livro reúne curiosidades sobre a criatura lendária pelo Brasil


Escritor de Campinas (SP) lança livro com episódios antigos e recentes de aparições de lobisomens pelo país, além de se aprofundar em como cada região descreve a figura e os hábitos do animal.
Matheus Hass
Você já viu um lobisomem? A pergunta pode soar estranha, mas há quem garanta que a criatura peluda e uivante exista de fato. Embora não tenha visto um ainda, um escritor de Campinas (SP) transformou em livro relatos de aparições pelo Brasil, além de se aprofundar em como cada região descreve, de forma única, a figura e os hábitos da criatura.
“Conheça o lobisomem do seu bairro” será lançado nesta sexta-feira (22), quando é comemorado o Dia do Folclore.
Em entrevista ao g1, o escritor Thiago Souza conta como o personagem conseguiu atravessar continentes e se incorporar a diferentes culturas, além de explicar que o lobisomem mantém a mesma representação metafórica, ao ser “uma tradução do comportamento violento dos homens”.
🐺 O folclore brasileiro define lobisomem como um homem comum, que sem escolha ou culpa, é vítima de uma maldição que o transforma em mostro todas as noites de lua cheia. A figura humanoide perde a consciência e memória ao assumir o semblante de um lobo violento e mortal.
📱Baixe o app do g1 para ver notícias de Campinas e região:
App do g1 para Android
App do g1 para iOS
Modus operandi
Thiago explica que a lenda do lobisomem não é universal, e costuma passar por adaptações e mudanças conforme a região ou país onde é contada.
Há, inclusive, versões com histórias semelhantes em que o humano se transforma em uma criatura híbrida, como tutubarambá (que é um homem-porco) e o homem-anta.
No trabaho de pequisa, o escritor percebeu que o modus operandi da criatura é bem singular na sua terra natal: Campinas.
Diferente da “espécie” de outras lugares, o lobisomem campineiro gosta de sal, tem muita sede na forma humana, unhas enlameadas, além de ser resignado à maldição de outra forma (entenda abaixo).
Diferentes versões da maldição
Segundo o autor, não é incomum que a maldição do lobisomem seja determinada pelo número de irmãos.
Na versão da história em Campinas, a família – e o irmão mais velho – vivem em agonia pelas próximas seis gestações, esperando para saber se haverá um lobisomem na família.
Thiago explica que, normalmente, o homem que receberá a sina de se tornar um lobo a cada lua cheia é o filho mais novo, com versões em que ele é o sétimo de uma linhagem de seis irmãs mais velhas ou de seis irmãos mais velhos.
“A maior parte das regras são voltadas ao sétimo filho, depois de uma linhagem de outras seis mulheres em sequência. Aqui em São Paulo [capital] é o sétimo depois de uma linhagem de outros seis homens. E o lobisomem de Campinas é diferente de todos: ele é o primeiro de uma linhagem de outros sete. Então, ele vive a agonia de esperar ver quem vai nascer”, diz.
Escritor de Campinas (SP) lança livro com episódios antigos e recentes de aparições de lobisomens pelo país, além de se aprofundar em como cada região descreve a figura e os hábitos do animal.
Matheus Hass/Ilustração
Lobisomem gosta de comer sal
O escritor afirma que descobrir a face humana de um lobisomem pode ser uma tarefa difícil, e que exige muita estratégia.
Segundo ele, moradores de Campinas que viviam em áreas rurais espalhavam sal nas propriedades que achavam que o lobisomem iria passar para tentar identificar o homem que se transforma em lobo.
” O lobisomem e outras criaturas amaldiçoadas têm uma necessidade muito grande de comer sal porque o sal é um agente purificante. O sal acaba sendo uma estratégia interessante para descobrir quem é o lobisomem, porque durante a madrugada, o lobisomem come o sal. Então, na manhã, quando amanhece, a pessoa que vira lobisomem está morrendo de sede”, conta Thiago.
O autor explica que moradores acreditavam, e uns ainda acreditam, que com o raiar do sol, ao voltar para a forma humana, o lobisomem irá sentir uma sede insuportável ao ponto de pedir um copo de água na primeira casa que passar em frente.
Unhas sujas de terra
O escritor explica que as pessoas também tentavam identificar quem era um lobisomem pelas mãos. Há uma crença que em sua forma humana, as criaturas não conseguiam se livrar das unhas sujas de terra.
“As pessoas que apareciam com a unha toda cheia de terra acabavam sendo identificadas como lobisomem. Isso é um dado social interessante, pois em alguma medida, isso é o preconceito que existia com o povo do campo, com o homem sem o campo. Quem tinha unha suja de terra e sede eram quem trabalhava no campo e vivia na terra”, explica Thiago.
Em noite de lua cheia, imagem de lobisomem viraliza na web e intriga moradores do DF
LEIA TAMBÉM:
VÍDEO: em noite de lua cheia, imagem de ‘lobisomem’ viraliza na web e intriga moradores do DF
Lendas de Sorocaba: conheça histórias de invasão alienígena e os mistérios da casa dos padres
‘Zé do ET’: conheça artesão que roda o Brasil vendendo estatuetas de alienígenas de até 2 metros 🛸
Você já viu um lobisomem?
Thiago Souza conta que ainda não viu um lobisomem frente a frente, mas segue em preparação para o encontro, apesar de manter uma postura agnóstica sobre a existência do mesmo.
Mas reuniu no livro uma série de relatos, oriundos de vários locais no Brasil, de pessoas que juram que já sentiram todos os pelos arrepiarem ao ficarem frente a frente o ser.
Uma das aparições, por exemplo, teria acontecido em Pedreira (SP), em 2018. O relato ouvido pelo autor conta que um cidadão foi abordado – e atacado – por um ser peludo e idêntico a um lobo ao sair para o trabalho, nas primeiras horas da manhã.
Thiago diz que a vítima teria desmaiado no momento da queda, e que um segurança conseguiu espantar a criatura.
Escritor de Campinas (SP) lança livro com episódios antigos e recentes de aparições de lobisomens pelo país, além de se aprofundar em como cada região descreve a figura e os hábitos do animal.
Matheus Hass/Ilustração
Caçada ao lobisomem
Além de explorar os casos, o escritor foi conhecer de perto o que ele define como “pânico do lobisomem” em uma cidade.
Em 2025, dedicou alguns dias para participar de uma caçada a um lobisomem em Várzea Paulista (SP).
“Eu vi de perto as pessoas parando de sair de casa para evitar qualquer ataque”, diz.
Homem transformado em lobo
Thiago explica que o lobisomem é um personagem que acabou transitando entre continentes e absorvendo culturas de maneira muito única.
“Eu gosto muito dele por essas razões e também pelas metáforas que ele significa. Afinal de contas, o lobisomem é um monstro muito masculino.”
No entanto, é evidente para o autor que a criatura traduz violências masculinas.
“O lobisomem aparece quase como uma figura que assume certas brutalidades que homens cometem”, detalha Thiago.
O autor define que lobisomem acabou abraçando a responsabilidade de justificar as violências masculinas, e o porquê de homens tão pacatos e bacanas cometerem monstruosidades.
“O lobisomem, ele é uma besta, ele reage com a violência de um animal. Ele é humano e se transforma em outra coisa para ser violento. O homem é absolvido da violência. Ele é incapaz de fazer violência. Quem comete violência é a besta que eles transformam”, finaliza.
‘Conheça o lobisomem do seu bairro’
O livro “Conheça o lobisomem do seu bairro” é a terceira publicação do Thiago. O lançamento presencial será feito em Campinas, na Livraria Pontes, na noite desta sexta-feira (21).
Data: sexta-feira, 22 de agosto, das 17h30 às 18h30
Local: Livraria Pontes
Endereço: Rua Dr. Quirino, 1223 – Centro, Campinas
Escritor de Campinas (SP) lança livro com episódios antigos e recentes de aparições de lobisomens pelo país, além de se aprofundar em como cada região descreve a figura e os hábitos do animal.
Acervo Pessoal
*Sob supervisão de Fernando Evans
VÍDEOS: Tudo sobre Campinas e região
Veja mais notícias sobre a região na página do g1 Campinas
Adicionar aos favoritos o Link permanente.