
Imagem aérea mostra proporção de incêndio que atingiu área florestal e povoados como Saint-Laurent-de-la-Cabrerisse, no sul da França, em 6 de agosto de 2025.
Securite Civile/ Reuters
Incêndios florestais continuam a queimar no sul da Europa em meio a ondas recordes de calor em muitas regiões propensas a queimadas.
A Espanha vive uma das piores e mais destrutivas temporadas de fogo das últimas décadas, ainda que o calor extremo ao longo da Península Ibérica tenha dado uma trégua.
A situação é particularmente grave na região da Galícia, acima do norte de Portugal, onde a quantidade de focos de incêndio também preocupa as autoridades; em alguns casos, o avanço das chamas foi tão rápido que moradores tiveram que lutar contra elas sozinhos antes da chegada dos brigadistas para não perder suas casas.
Na Espanha, os incêndios deste ano mataram quatro pessoas e queimaram até agora uma área de cerca de 3,8 mil quilômetros quadrados – mais que o dobro do tamanho da cidade de São Paulo –, segundo o Sistema Europeu de Informação sobre Incêndios Florestais (Effis), órgão da União Europeia.
Em Portugal, outras duas pessoas foram mortas e uma área de 2,3 mil quilômetros quadrados foi consumida pelo fogo. O país teve que pedir brigadistas à UE; a Espanha também está recebendo ajuda de forças de países no continente.
Um homem segura um batedor de fogo enquanto um incêndio florestal assola Veiga das Meas, na Galícia.
Reuters/Nacho Doce
Ao todo, a UE perdeu até agora mais de 8,9 mil quilômetros quadrados para as chamas. Isso é quatro vezes mais que o dano causado pelas queimadas no mesmo período em 2024.
Em algumas regiões do sul do continente, os incêndios são exacerbados pela vegetação que cresceu abundantemente após uma primavera relativamente chuvosa, apenas para pegar fogo facilmente graças a um verão seco.
Mulher usa uma mangueira perto de baldes plásticos enquanto a fumaça de um incêndio florestal se espalha em Vilar de Condes, na província de Ourense, Galícia, Espanha, em 15 de agosto de 2025.
Nacho Doce/Reuters
Quais são as regiões da Europa mais afetadas pelo fogo
“Estamos vendo temperaturas extremas em grandes porções da Europa, recordes de 40 ºC sendo quebrados em muitos lugares”, afirma Julie Berckmans, cientista climática da Agência Europeia do Ambiente. “O sul da França, Espanha, Grécia, Turquia, Bélgica, Holanda, Reino Unido – todos estão atingindo altas temperaturas. Há incêndios massivos na Espanha, em Portugal, França, Grécia, Turquia, Albânia.”
Em Portugal, cerca de 4 mil bombeiros lutam contra as chamas; na Grécia, um número ainda maior de brigadistas foi mobilizado.
Além de Portugal e Espanha, os incêndios e o calor extremo neste verão também fizeram vítimas em Montenegro e na Itália.
Bombeiro tenta apagar incêndio florestal em Kryoneri, na Grécia, neste sábado (26)
Yorgos Karahalis/AP
Temporada de queimadas castiga a Europa
A Europa monitora focos de incêndio através da frota de satélites do Copernicus, o serviço climático da União Europeia. Esses dados são compilados pelo Effis, e apontam para uma quantidade significativa de danos em 2025.
A quantidade de área queimada até agora já é 2,5 mil quilômetros quadrados maior que o mesmo período de 2024. A Europa registrou mais de 1,6 mil incêndios até 15 de agosto; no ano passado, foram menos de 1,1 mil no mesmo período. E novas regiões têm registrado um número de incêndios acima da média.
A Espanha, por exemplo, teve mais que o dobro de área queimada em comparação com a média de 2006 a 2024; na Romênia, as chamas consumiram uma área quatro vezes maior. Já o Chipre, que costumava perder em média cerca de 0,32% de seu território para o fogo a cada ano, bateu a marca de 2,5% neste ano.
O número de focos de incêndio também preocupa. Na França, ele foi quase três vezes superior à média, com o sul do país vivendo a sua pior temporada de queimadas em décadas.
Fumaça de um incêndio florestal colore o pôr do sol observado por visitantes em Grandeur Point, na borda sul do Grand Canyon, no Arizona, em 14 de julho de 2025.
REUTERS/David Swanson
Prejuízo bilionário, futuro sombrio
Além das mortes e perdas materiais, as queimadas também impactam negativamente os ecossistemas, que sofrem com a perda de vegetação, a saúde humana e a economia.
Segundo Berckmans, a conta do prejuízo na UE gira em torno dos 2,5 bilhões de euros (cerca de R$ 16 bilhões) anuais. “De 2008 a 2023, uma média de 45 mil pessoas foram deslocadas por causa de incêndios florestais”, afirma ela.
A primeira avaliação de risco de queimadas da Agência Europeia do Ambiente, publicada em 2024, defendeu a necessidade de ação climática urgente para lidar com o risco crítico que incêndios florestais representarão para populações, infraestrutura e a biodiversidade no sul da Europa.
“Incêndios florestais são um risco urgente que precisa ser considerado”, pontua Berckmans. “São também um grande risco que precisa de mais ação, já, no resto da Europa.”
À medida em que o outono europeu vem chegando, o número de queimadas e o dano que elas provocam tende a desacelerar. Ainda assim, está mais difícil prever a duração da temporada de incêndios e como as chamas vão se comportar.
As mudanças climáticas não vão só gerar um tempo mais seco e quente, mas também alterar outros fatores dinâmicos. Sistemas de ventos mais velozes e voláteis, por exemplo, tornarão mais difícil para as autoridades prever o comportamento das chamas. Como consequência, civis e trabalhadores dos serviços de emergência estarão expostos a um risco maior.
“Imagine um incêndio tão feroz, tão veloz e tão imprevisível que parece ter vida própria, ser capaz de alterar o clima ao redor e se espalhar por quilômetros num piscar de olhos”, explica o especialista em queimadas Antonio Lopez, da Universidade de Sevilla, na Europa.
Europa sofre com onda de calor; na Espanha, incêndio florestal confina 18 mil moradores da província de Tarragona, na Catalunha
Com informações de AP e dpa.