Abigeato cresce em uma a cada quatro cidades do RS, apesar da queda geral nos números


Casos de abigeato caem 27% no Rio Grande do Sul
Um levantamento feito pelo Grupo de Investigação da RBS (GDI) revela um dado preocupante: em 124 municípios, os casos de furto de gado aumentaram no Rio Grande do Sul nos primeiro seis meses de 2025 na comparação com o mesmo período de 2024, apesar de os dados totais indicarem queda nesse tipo de crime. Ou seja, em uma a cada quatro cidades gaúchas, o abigeato segue avançando.
Furto de gado (janeiro a junho)
Ao agrupar os dados em um mapa virtual, a reportagem descobriu que o crescimento se concentra em três grandes agrupamentos de municípios nas regiões Oeste, Centro e Leste.
Em Glorinha, na Região Metropolitana, o produtor rural Jair Barcellos de Oliveira instalou câmeras com visão noturna e contratou caseiro para vigiar a propriedade de 40 hectares. Nada disso impediu a ação dos criminosos.
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“De noite vieram ali, pegaram a novilha, levaram a mansa, a corda e bateram no campo vizinho”, conta o produtor.
Prisões por abigeato (janeiro a junho)
Os números mostram o salto: de dois casos registrados entre janeiro e junho de 2024, passaram a dez em 2025 — um crescimento de cinco vezes.
No Sul do Estado, a situação também preocupa. Em Pelotas, foram 23 ocorrências nos primeiros meses deste ano, 20% a mais que no mesmo período passado. O produtor rural Antônio Oppitz contabiliza um prejuízo de até 40 cabeças:
“Além das perdas diretas, tem o impacto indireto. Hoje recolho todo o gado da estância à noite, para evitar ataques”, diz.
Segundo ele, quadrilhas chegam a recrutar ou ameaçar funcionários das propriedades. “Tem cerca cortada, roubo de material, e trabalhadores que desistem de permanecer na fazenda por medo”, relata.
Em Rio Grande, um boi foi encontrado baleado na cabeça e terneiro recém-nascido apareceu morto na propriedade, na última semana.
Dados compilados pelo GDI mostram que, embora o índice geral tenha caído, há três regiões com aumento expressivo. No mapa elaborado pela RBS TV, chamam atenção três grandes “manchas” indicando forte atuação dos criminosos em áreas do Oeste e do Centro-Leste do Estado.
Alguns exemplos: Arroio dos Ratos, os casos saltaram de dois para 11; Capão do Leão, de oito para 22; Cachoeira do Sul, de sete para 17, e Butiá, de nove para 17. Em Santa Vitória do Palmar, foram 26 ataques — dois a mais que no ano passado.
O diretor da Divisão de Repressão aos Crimes Rurais e de Abigeato (Dicrab) da Polícia Civil, Heleno dos Santos, diz que acompanha as anomalias e que vai atuar nas regiões indicadas pelo levantamento do GDI.
“Estamos nos antecipando ao crime, para não esperar que a situação vire um caos e cause ainda mais prejuízos ao produtor”, diz.
Investigações apontam ainda que parte do esquema envolve produtores legalizados, que compram e “esquentam” o gado furtado.
“Esses dados de movimentação de gado são falsificados no sistema. Um animal furtado no Sul aparece registrado no Norte e pode ser vendido como se fosse legal”, explica o delegado Heleno.
Ladrões usaram um caminhão para levar 44 cabeças de gado de uma fazenda em Garruchos
Reprodução/RBS TV
Escutas revelam códigos
O uso de tecnologia e cruzamento de informações se tornaram a principal arma da polícia. Escutas telefônicas autorizadas pela Justiça revelaram o uso de códigos pelos criminosos. Em uma das conversas, um suspeito usa a palavra “churrasco” para se referir ao abate de um animal, e negocia as peças a serem transportadas.
No diálogo, eles discutem as partes do animal a serem transportadas após o abate.
– O meu, atrasou o churrasco aqui. Não sei o que tu vai querer fazer, vai querer que eu leve um pouquinho mais tarde? Daqui uma hora ai ficar pronto ainda
– Bah, agora né?
– Eu tenho que dividir pra não fazer M
– Faz o seguinte, traz dois dianteiro…
– Dianteiro e traseiro?
– Um dianteiro e um traseiro
A mesma investigação apura se o grupo está ligado à apreensão de 44 cabeças de gado em São Gabriel e a outras 67 encontradas em Júlio de Castilhos, nas últimas duas semanas
Em Santa Maria, as vítimas aguardam o avanço das apurações. Lá, os casos subiram de 33 para 37 no semestre. Uma idosa que teve duas vacas de leite levadas — animais usados para produção de queijo — desabafou:
“A gente no interior tem pouca segurança. Até hoje não descobriram quem foi”, diz.
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