Instalação ‘Bocas do Rio – Canção Subterrânea’ reflete processo de urbanização e canalização do Córrego do Veado, no Parque do Povo, em Presidente Prudente


Instalação ‘Bocas do Rio – Canção Subterrânea’ será no Parque do Povo, em Presidente Prudente (SP)
Projeto Cidade Sensível
Com obra que deseja ser escutada, sentida e percorrida, o Parque do Povo recebe, a partir deste sábado (16), a instalação visual e sonora “Bocas do Rio – Canção Subterrânea”, em Presidente Prudente (SP).
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A obra ocupará 100 metros de comprimento no gramado próximo à galeria d’água e à pista de skate, transformando a memória oculta do Córrego do Veado em experiência viva. A instalação ficará no local até 25 de agosto.
Conforme os responsáveis pela concepção e execução artística, Lizis e Rafael Costa, a instalação integra o projeto Cidade Sensível, que busca criar obras de arte públicas a partir de vivências, memórias e relações afetivas com os espaços urbanos.
“No caso do Parque do Povo, a instalação nasceu do desejo de tornar sensível aquilo que foi silenciado: a água, a paisagem e a escuta. Antes do parque, corria ali o Córrego do Veado, canalizado e soterrado sob o concreto. A intervenção reconstrói visualmente o traçado desse rio invisível, usando galhos e cipós pintados e sons reais gravados onde ele ainda corre. O objetivo é criar uma experiência imersiva e acessível que convida o público a se reconectar com a história e a memória desse lugar, transformando o espaço urbano em parte viva da obra”, explicaram os artistas ao g1.
“Meu trabalho com intervenção urbana é uma ocupação poética, como um grito que dá existência às vozes apagadas no espaço da cidade. Acredito que a cidade mostra e esconde; existe um espaço para a arte entre essas duas coisas”, pontuou Lizis.
“Fui provocado a sonhar com a cidade. Então, surgiu a instalação ‘Bocas do Rio – Canção Subterrânea’. Meu trabalho envolve paisagens sonoras e escutas ativas para além dos instrumentos”, completou Costa.
Responsáveis pela concepção e execução artística são os artistas Lizis e Rafael Costa
@sensivelcidade
Um rio pintado, um rio que fala
A instalação propõe um novo olhar para o Parque do Povo, indo além do uso recreativo e cotidiano.
Ao revelar a memória do rio que deu origem àquela paisagem, cria-se um elo entre a arte, a natureza e a cidade, ampliando o valor cultural do espaço.
nserida no contexto da Land Art, que utiliza a paisagem natural como suporte para a criação artística, a obra se integra ao espaço, transformando-a e permitindo que o público vivencie o espaço de forma mais sensorial e reflexiva.
“É uma intervenção urbana que usa a própria paisagem como parte da obra. Estamos criando coletivamente e usando o imaginário para refletir a água como história, passado, presente e futuro. [Na Land Art] o Parque do Povo não é um lugar onde a obra vai ser colocada, mas um lugar que é parte da obra”, explicou Lizis ao g1.
Instalação ‘Bocas do Rio – Canção Subterrânea’ será no Parque do Povo, em Presidente Prudente (SP)
Projeto Cidade Sensível
Conforme os artistas ao g1, a intervenção “é mais que uma homenagem, é uma retomada da história natural do que estava ali antes de nós, antes mesmo da cidade existir. É um convite a reconhecer a força das águas, ainda presentes sob o concreto”.
Ainda segundo os idealizadores, por ser acessível a pessoas com deficiência, a obra reforça a ideia de que o local é um lugar de encontro, diversidade e pertencimento.
O leito desse rio perdido é desenhado com galhos e cipós pintados em tons de azul, ondulando pelo gramado como se acompanhassem um fluxo invisível. A cor evoca tanto a ausência quanto a promessa da água.
Mas a obra não começa ali.
Nas calçadas ao redor do parque, um traçado sinuoso pintado em azul guia o visitante até o coração da instalação, marcado por frases que despertam a escuta e a imaginação:
“A terra sonha com a água. E você, sonha com o quê?”
“Que som teria esta rua se o rio ainda cantasse?”
“O que a cidade soterrou em você?”
“E se fosse lago em vez de alagamento?”
No início do percurso, a própria galeria d’água ganha uma intervenção artística, pintada por dentro e por fora com a mesma paleta azul e a mesma textura orgânica dos galhos, criando um elo visual entre o espaço urbano e o fluxo escondido.
Instalação ‘Bocas do Rio – Canção Subterrânea’ será no Parque do Povo, em Presidente Prudente (SP)
Projeto Cidade Sensível
Bocas que devolvem a voz
Espalhadas pelo leito, tubulações azuis se erguem como pontos de escuta: são as “bocas do rio”.
Desses tubos, ecoam sons reais do Córrego do Veado, gravados em trechos onde ele ainda corre livre e em locais onde permanece confinado pelas galerias.
O resultado é uma paisagem sonora imersiva, inspirada nos conceitos de paisagem sonora de Murray Schafer (1933-2021) e nas experiências de John Cage (1912-1992), onde o som da água se mistura ao vento, aos passos e às conversas do parque.
Segundo Lizis, pensar e refletir o espaço urbano é investigar como a presença ou ausência de certos elementos no espaço geográfico podem determinar dinâmicas de seu uso.
“Para mim, a arte urbana tem esse poder de deslocar o olhar, de lembrar que o lugar onde vivemos tem camadas de história, de natureza e de vida que o concreto não apaga. É uma forma de reencantar o espaço público, de fazer a gente se perguntar: o que mais a cidade está escondendo?”, pontuou.
Instalação ‘Bocas do Rio – Canção Subterrânea’ será no Parque do Povo, em Presidente Prudente (SP)
Projeto Cidade Sensível
Escutar o invisível
Mais do que um exercício estético, a dupla refletiu que a instalação é um convite a “escutar o invisível”, a reconhecer que, sob o chão da cidade, existem rios que continuam respirando. É também um gesto de resistência e de reencantamento: uma forma de devolver ao espaço público um fragmento do que a urbanização enterrou.
Ao g1, os idealizadores pontuaram que, ao trazer à tona a presença do rio soterrado, a obra também lança luz sobre as consequências de se ignorar os cursos d’água nas cidades.
“As enchentes e alagamentos no Parque do Povo são reflexos diretos dessa intervenção humana na paisagem. ‘Bocas do Rio’ não dá respostas prontas, mas provoca perguntas e reflexões: O que a cidade soterrou em nós? Que som teria esta rua se o rio ainda cantasse? Ao experienciar a instalação, o público é convidado a reconhecer que a água segue viva, e que soluções para problemas como os alagamentos passam por respeitar e compreender os ciclos naturais que moldaram esse espaço”, afirmaram ao g1.
“Vamos sonhar com o Parque do Povo que pudesse ter um rio à vista, não um rio soterrado. Por que não um lago em vez de alagamento? O que a cidade soterrou em você? O que a cidade soterrou aqui para existir?”, disse o músico Rafael Costa.
“Estamos refletindo a água como história e investigando como a presença ou ausência de certos elementos no espaço urbano determinam as dinâmicas e o uso dele. ‘Bocas do Rio’ é um convite para lembrar que mesmo aquilo que foi enterrado ainda pulsa”, finalizou Lizis ao g1.
Instalação ‘Bocas do Rio – Canção Subterrânea’ será no Parque do Povo, em Presidente Prudente (SP)
Projeto Cidade Sensível
Ficha técnica
Rafael Costa é músico, compositor, luthier, educador musical e produtor cultural prudentino. Cofundador da banda Mocambo Groove e do coletivo Som na Linha, investiga paisagens sonoras e escutas ativas, usando a música como militância e a cultura como ato revolucionário.
Lizis é artista visual e produtora cultural com atuação marcada pela relação entre Arte, corpo e cidade. Residente em Presidente Prudente (SP), define sua pesquisa como experimentos visuais. Rompe limites poéticos entre pintura, colagem e escultura, criando estéticas híbridas.
Veja a ficha técnica completa:
Concepção e Execução Artística: Lizis e Rafael Costa
Desenvolvimento de Tecnologia: Guinani
Design Gráfico: Túlio Moscardi
Equipe Comunicação: Rafael Lucas E Alt
Produção: Elora Carolina
Fotografia: Gabriel Augusto
Direção Artística: Nathália Campos
Assistência Operacional: João Nantes
Instalação ‘Bocas do Rio – Canção Subterrânea’ será no Parque do Povo, em Presidente Prudente (SP)
Rafael Lucas
Serviço
A instalação fica no Parque do Povo, no gramado próximo à galeria d’água e pista de skate, em Presidente Prudente.
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