
Célio de Lima Baptista, de 26 anos, disse ter sido agredido por um suposto alien na noite de 3 de julho, no bairro Vila Helena, zona norte de Sorocaba. Segundo ele, a criatura tinha olhos vermelhos, era alta e possuía mãos em formato de pinça.
Arte g1/Guilherme Orsi
A definição de folclore, conforme a maioria dos dicionários, envolve elementos e características da cultura popular. Histórias e costumes de um povo representam o folclore de onde moram, e muitas destas histórias podem ser traduzidas como lendas urbanas, algo que o município de Sorocaba, no interior de São Paulo, é cheio.
Para celebrar os 371 anos da emancipação de Sorocaba, o g1 reuniu três histórias do folclore da cidade, que vão desde um ataque alienígena, os terrores da Casa dos Padres e até a visita de uma nave alienígena no bairro Caputera.
👽 Ataque alienígena na Vila Helena em 1997
⛪ Casa dos Padres: refúgio ou local de tortura?
🛸 Nave extraterrestre e figura misteriosa no Caputera
👹 Outras histórias
Uma das histórias apuradas pelo g1, que já passou pelas terras sorocabanas e pode ser considerada até hoje um mistério, é o ataque de um suposto extraterreste que ocorreu em 3 de julho de 1997. O caso foi parar na justiça e, mesmo depois da vítima ter feito exames no Instituto Médico Legal (IML), a causa dos ferimentos não foi identificada.
📲 Participe do canal do g1 Sorocaba e Jundiaí no WhatsApp
Ataque alien na Vila Helena
Tudo aconteceu na noite do dia 3 de julho, em um matagal no bairro Vila Helena, na zona norte de Sorocaba. Célio de Lima Baptista, que tinha 26 anos na época, relatou ter sido agredido por um ser que não parecia humano. Segundo ele, a criatura tinha olhos vermelhos, era alta, tinha mãos de pinça e emitia sons estranhos. O jovem até fez um desenho para tentar representar a criatura diante das autoridades. Confira abaixo.
Célio desenhou o ser extraterrestre que teria lhe agredido em 1997, em Sorocaba (SP)
Jorge Facury/Arquivo pessoal
Na época, o vendedor autônomo, que também era praticante de artes marciais, registrou um boletim de ocorrência por lesão corporal no 8º Distrito Policial da cidade. O g1 conversou com os irmãos Jorge e Michel Facury, ufólogos e professores de Sorocaba, que fazem parte do Grupo de Estudos e Pesquisas Ufológicas de Sorocaba (GEPUS) e investigaram o caso, que segue como inexplicado.
“O caso chegou através de uma solicitação da promotora de justiça Mara Gazzy, em tempo de andamento processual. Já a ponto de encerramento, ela achou por bem buscar especialistas, visto que o réu no processo não era considerado criatura humana. Foi então que soubemos que houve atendimento policial e posterior ação judicial sobre o fato vivido pelo testemunhante. Antes disso não o conhecíamos, nem sabíamos do fato”, contou Jorge.
Segundo Michel, esta foi a primeira vez na história da ufologia nacional que ocorreu um fato relevante a ponto de ser levado à justiça.
Célio de Lima Baptista morreu meses depois de supostamente ter sido agredido por um extraterrestre em Sorocaba (SP)
Jorge Facury/Arquivo pessoal
Em 1998, os irmãos entraram em contato com Célio e fizeram diversas entrevistas, a fim de coletar mais indícios que comprovassem se a situação se tratava de um caso extraterrestre ou se seria necessária uma investigação de nível psicológico. Na época, uma ufóloga e hipnóloga de Jacareí (SP) viajou até Sorocaba, a convite dos Facury, e submeteu o rapaz a uma sessão de hipnose.
A investigação buscava reviver os fatos e analisar os dados que existiam na delegacia, como o fato de Célio ter sido agredido e sofrido uma perfuração no dedo que, segundo o próprio médico legista, foi feita por um material perfurante desconhecido.
“Tudo que se sabe é que ele (Celio) passou por uma experiência traumática com circunstâncias que o levaram até atendimento policial. Portanto, não afirmamos que seja algo extraterrestre, apenas a testemunha narrou os fatos e foi algo que veio do céu. É uma pesquisa que chega até nossos dias inconclusa, infelizmente, e tudo indica que não terá um desfecho, visto que, após um tempo, Célio foi assassinado”, lembrou o especialista.
Segundo Jorge, não há indícios que comprovem que Célio tenha sido agredido por um ser extraterrestre, no entanto, a promotoria ficou impressionada com o fato do rapaz ter contado a mesma história perante as autoridades, em períodos diferentes, com a mesma lucidez e detalhamento sem contradições ou derivações.
Da esquerda para direita estão Célio Baptista, Jorge e Michel Facury, em Sorocaba (SP), em 1998
Jorge Facury/Arquivo pessoal
O g1 teve acesso a documentos registrados na época, que comprovam a ocorrência e as investigações dos irmãos Facury.
Entretanto, novos depoimentos de Célio não puderam ser coletados pela Justiça, pois meses depois do ocorrido e das entrevistas, o vendedor foi morto a tiros no mesmo bairro. O caso foi arquivado em 98 pela Vara Criminal da cidade, pois o suposto agressor não foi identificado.
Anos depois, os irmãos acompanham se haverá algum desdobramento do caso.
“Com relação ao falecimento de Célio, ainda não nos foi fornecido materiais a respeito. Nós ainda desejamos fazer um andamento nisso, né? Assim que a justiça nos proporcionar isso publicamente”, finalizou Michel.
Uma reportagem feita oito meses depois da ocorrência mostra um relato de Célio com detalhes sobre o que passou, além de um depoimento da promotora de justiça Mara Gazzy. Assista abaixo.
Caso de suposta agressão cometida por extraterrestre foi arquivado pela promotoria de justiça de Sorocaba (SP) em 1998
Jorge Facury/Arquivo pessoal
Morador de Sorocaba registra boletim de ocorrência por agressão de extraterrestre
⛪ Casa dos Padres
Edifício histórico, que existia desde a fundação de Sorocaba nos anos 1600, se tornou conhecido na região pelas diversas lendas e relatos sobrenaturais antes de sua demolição.
Arte g1/Guilherme Orsi
Quem mora na região do limite entre Sorocaba e Votorantim certamente deve ter ouvido falar da famosa “Casa dos Padres”. O edifício, que existia desde a época em que a cidade foi fundada, nos anos 1600, foi totalmente demolido em 2014, mas durou tempo suficiente para virar palco de diversas histórias assombradas.
Ao g1, o historiador e jornalista Celso Ribeiro, conhecido como “Marvadão”, contou que o local funcionava como um mosteiro beneditino, com sacerdotes que vieram para a cidade junto de Baltazar Fernandes, fundador de Sorocaba. No entanto, o prédio ficou abandonado por anos após dois incêndios e era invadido com frequência por jovens curiosos. Veja vídeo feito por Marvadão abaixo.
“A casa fica ao lado da Rodovia Raposo Tavares, está entre vários condomínios. Acho que não demora muito para o terreno virar mais um. Fica perto do Shopping Panorâmico, área que já foi de criação do bicho-da-seda antes de virar shopping. Há relatos que, de noite, às vezes, apareciam imagens e sons na casa. Falam que havia um túnel do casarão dos padres até o rio, onde fica a queda dos Guimarães, perto da ponte da Raposo”, disse.
Ruínas da Casa dos Padres são registradas por historiador de Sorocaba
Segundo Celso, existem diversas versões sobre o que acontecia no local, porém, não há muitos registros que comprovem a veracidade de nenhuma delas. Uma das lendas sobre a Casa dos Padres é de que escravos da chácara eram mortos e torturados pelos sacerdotes se descumprissem ordens.
Outra teoria diz que os escravos costumavam fazer visitas aos sacerdotes para rezar e, quando eram flagrados no endereço pelo dono da propriedade, fugiam por um túnel com a ajuda dos padres.
Casa dos Padres, localizada entre Sorocaba e Votorantim (SP), possui diversas histórias sobre ser assombrada
Reprodução/Facebook
Também existe outra história que diz que a maioria dos escravos morreu depois de um incêndio na propriedade. Depois disso, a casa, que era de madeira, foi reconstruída com concreto.
Mas, anos depois, um outro incêndio matou os próprio padres e, por isso, segundo a lenda, os sons ouvidos pelos visitantes da região eram as risadas e batuques dos escravos, que comemoravam o desfecho de seus torturadores.
“Falam em escravos castigados, outras lendas falam que os padres protegiam os escravos. Já ouvi até que os padres davam tiros de sal grosso com espingardas em quem invadia a chácara para pegar frutas”, acrescentou Celso.
O g1 entrou em contato com o Mosteiro de São Bento da capital paulista para verificar fatos históricos sobre a existência deste prédio e sua relação com a igreja católica, mas não obteve resposta até a última atualização desta reportagem.
Em nota, o Mosteiro de São Bento de Sorocaba informou que o local não era um mosteiro, mas sim a casa da Fazenda São Bento, que não pertence mais à igreja. As terras foram vendidas na década de 1970 e, segundo os sacerdotes, não tiveram mais notícias sobre o que era feito no terreno desde então.
O funcionamento da fazenda, de acordo com o mosteiro, aconteceu após 1900, e portanto, o local não possuía escravos, mas sim funcionários. A área era usada para a criação de vacas, horta e cultivo de frutas.
Entrada do terreno em que estava a Casa dos Padres, em Sorocaba (SP)
MARVADÃO/YouTube
João Fernandes, de 64 anos, é pastor em Votorantim e relatou ao g1 que é descendente de um dos escravos que, segundo ele, estiveram na Casa dos Padres.
“Envolve a história da comunidade quilombola, com o José Joaquim de Camargo, nosso tataravô. Eu e minha família somos remanescentes de quilombo e faz parte também da Casa dos Padres, né? Porque nossos ancestrais eram socorridos pelos padres na época”, disse João.
Segundo João, na época, os escravos que tentavam fugir eram perseguidos por um capitão-do-mato, homem reconhecido por tentar evitar delitos de escravos e recapturá-los para os seus senhores em troca de prêmios. Para se esconder do capitão, os escravos eram acolhidos e escondidos na Casa dos Padres.
Voltar para o início da reportagem
João Fernandes, de Votorantim (SP), é descendente de escravos
Arquivo pessoal
🛸 Nave alienígena no Caputera
Andreza Eruska Lourenço, professora e autora que morava em Sorocaba, contou ao g1 sobre uma noite que marcou sua família: a aparição de um objeto voador não identificado na região, transformando uma noite comum em uma lembrança inesquecível
Arte g1/Guilherme Orsi
Uma noite que parecia comum para uma família que morava no bairro Caputera se transformou em uma lembrança que marcou a vida de todos, em 1995. O g1 conversou com Andreza Eruska Lourenço, professora e autora que morou em Sorocaba e relatou a aparição de uma nave alienígena na região.
“Era por volta das 23h, minha avó e minha mãe, conversavam na cozinha e elas ouviram um barulho alto e viram uma luz intensa vinda do terreno ao lado. A luz iluminou toda a parte de trás da casa e elas conseguiram ver vultos que se movimentavam e conversavam”, contou.
Segundo ela, em um determinado momento entre as conversas, que eram inaudíveis, um dos vultos fixou algo preto no vidro da janela da casa, que parecia a figura de um gato preto, mas tinha forma indefinida.
As duas permaneceram imóveis, apenas observando, sem emitir sons. A janela estava fechada e a casa não possuía grades. Depois de um tempo, o objeto foi removido e os vultos desapareceram. Em seguida, um barulho alto foi emitido e a luz se dissipou.
À esquerda está a vó de Andreza, à direita estã Andreza e sua mãe, quando moravam na região de Sorocaba (SP)
Arquivo pessoal
“No dia seguinte, ao examinarmos o terreno, constatamos que o capim estava amassado em formato circular, sem estar quebrado ou morto. Havia também um pó cinza sobre o capim. O evento ocorreu por volta de 1995, antes do filme ‘Sinais’, lançado em 1998, então a experiência não foi influenciada por qualquer mídia”, destacou Alessandra.
A mãe e a avó de Andressa já morreram, mas ela se lembra da clareza e convicção de ambas ao contarem a história. Para Andressa, relembrar este evento e os momentos que tinha com a família debatendo o ocorrido é algo gratificante, especialmente por lembrar das pessoas que ama que já não estão mais com ela.
Voltar para o início da reportagem
Vista via satélite do bairro Caputera, em Sorocaba (SP), no ano 2011, mostra região onde Andreza morava
Google Earth/Reprodução
📚 Sorocaba coleciona histórias
Além dos relatos anteriores, o g1 reuniu com o historiador Carlos Cavalheiro, também de Sorocaba, outras histórias que compõem o folclore do município.
Segundo Carlos, até o início do século XX, algumas pessoas acreditavam que um barril ou tonel era arremessado no Rio Sorocaba todas as noites, durante a madrugada, na Rua Coronel Cavalheiros. O barulho era descrito como muito alto e assustador. Além de acordar quem morava por perto, ninguém nunca descobriu a origem dele ou o que era arremessado no rio.
Entre o fim da década de 1980 e 1990, outra lenda urbana se popularizou na cidade, envolvendo uma boneca da apresentadora Xuxa Meneghel. De acordo com o historiador, o caso, que até ganhou espaço na imprensa, discorre sobre o brinquedo estar “possuído” pelo demônio e precisar ser exorcizado na Catedral de Sorocaba. A lenda da boneca causou uma aglomeração na porta da Catedral, com pessoas curiosas para ver a boneca amaldiçoada.
Jornal Diário de Sorocaba, de Sorocaba (SP), deu destaque para caso de boneca possuída, em 1989
Reprodução/Diário de Sorocaba/Projeto Memória Jornal Cruzeiro do Sul
Na década de 1970, a Rua Doutor Campos Salles foi palco de outra história assustadora. De acordo com Carlos, havia a lenda de um motorista misterioso que atropelava pessoas e fugia dando gargalhadas com seu “fusca fantasma”. As testemunhas da época sempre relatavam que não conseguiam visualizar alguém dirigindo o veículo, apenas ouviam as risadas.
Outra história mencionada por Carlos, é sobre as grades antigas do grupo escolar Antônio Padilha, no Centro da cidade.
“Se você verificar, a grade parece ter o número ‘666’, dos dois lados, o esquerdo e direito. Ao centro, parece uma igreja de cabeça para baixo. Não se sabe, ao menos eu não sei, quem fez essa grade, mas parece que há algum recado ligado à Besta do Apocalipse 666 e à falsa igreja”, finalizou o historiador.
Voltar para o início da reportagem
Existem lendas sobre as grades da escola E.E Antonio Padilha, em Sorocaba (SP), segundo historiador
Carlos Cavalheiro/Arquivo pessoal
Veja mais notícias da região no g1 Sorocaba e Jundiaí
VÍDEOS: assista às reportagens da TV TEM