Casal completa 70 anos de união e dá dicas sobre relacionamento: ‘amor e compreensão’


Bodas de vinho: casal completa 70 anos de união
Seu Antonio de Souza, 97, e dona Maria Lina, 87, construíram uma relação que superou todo tipo de dificuldade. Nesta sexta-feira (15), dia de nossa senhora Rainha dos Anjos, os dois completam 70 anos de casados, com a certeza de que escolheram a pessoa certa para compartilhar a vida. Uma união que gerou 14 filhos, 25 netos e 26 bisnetos, sempre baseada em dois princípios: amor e compreensão.
“Onde existe amor e compreensão, supera tudo”, destaca dona Maria, que aos 17 anos ignorou os conselhos da mãe e decidiu que se casaria com o primo Antonio. “Minha mãe não queria porque ele bebia. Foi uma luta, mas nos casamos”.
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A história de amor entre os primos de primeiro grau começou na zona rural do município de Serrita, no Sertão de Pernambuco, onde as famílias viviam. Com 15 para 16 anos, Maria ficou encantada com o jeito alegre de Antonio.
“Ele cantava, batia pandeiro nas festas. Aquilo ali eu achava bonito e fui me apaixonando. Aí foi onde chegamos com o casamento”, lembra dona Maria. “Eu tinha uma voz…”, completa seu Antonio, todo orgulhoso.
Seu Antonio não esquece o que mais chama atenção na prima. “O cabelinho frisado dela”.
Seu Antonio e dona Maria estão casados há 70 anos
Emerson Rocha / g1 Petrolina
Apaixonados e decididos, Antonio e Maria se casaram na igreja de Nossa Senhora Rainha dos Anjos, em Serrita, no dia 15 de agosto de 1955. Um ano depois, nasceu a primeira filha, que ganhou o nome de Maria, assim como as outras nove irmãs que vierem depois. O casal também teve quatro meninos.
Conforme os filhos iam nascendo, a preocupação da mãe de Maria ia se justificando. A bebida foi um dos maiores obstáculos que o casal teve que superar nessas sete décadas de união.
“Depois de 25 anos da gente casado que ele deixou [de beber], aí ficou uma maravilha”, diz dona Maria, lembrando o fortalecimento dos dois nos 45 anos seguintes sem a presença do álcool.
“A gente era pobre, sofrido, mas era maravilha, né? A importância da convivência e a gente gostar um do outro, né? Que é o importante do cada um”.
Mudança para Petrolina
A vida na zona rural nem sempre foi fácil. “Tinha a noite que só tinha um açúquinha na lata, eu fazia uma garapa, com aquela falta no estômago, e bebia. Fazia alguma coisinha para dar aos filhos que tinha. Eu preferia dar a eles, ficar sem comer, porque pai e mãe são assim mesmo. A gente sofria foi muito.”
Seu Antonio e dona Maria estão casados há 70 anos
Emerson Rocha / g1 Petrolina
Maria e Antonio passaram por algumas cidades do Sertão de Pernambuco até que, em 1976, se mudaram para Petrolina, onde a família se estabeleceu e vive até hoje. A mudança trouxe a estabilidade que o casal buscava. Antonio conseguiu um emprego na prefeitura, onde ficou por mais de 20 anos, até se aposentar.
“Não era um dinheiro, mas só em ter aquele dinheirinho certo todo mês para dar de comer aos meus filhos era muita coisa”, conta Maria.
Enquanto Antonio trabalhava como vigia na prefeitura, Maria trabalhava lavando roupas. Foi assim que o casal conquistou a casa própria e criou os filhos.
“Onde não existe amor, não tem casamento duradouro, não é? Não tem nada fácil. A vida é difícil, principalmente para quem não tem dinheiro para sobreviver”, reflete dona Maria.
Exemplo para filhos e netos
Seu Antonio, dona Maria e parte da família que construíram ao logo dos 70 anos de casamento
Emerson Rocha / g1 Petrolina
Dos 14 filhos que Maria e Antonio tiveram, cinco morreram. Maria Eleni é a mais novas entre as Marias. Casada há 12 anos, ela diz que sempre se espelhou na relação que viu ser construída dentro de casa. “Eles são um grande exemplo. É um casal raiz, um casal bem enraizado dentro da cumplicidade, do amor, da fé, da lealdade”, afirma Eleni, completando.
“Eu falava sempre para minha mãe, para o meu pai, quando eu tiver um namorado, eu quero casar mais pra frente, mas que seja um homem íntegro como meu pai. E que seja um casamento enraizado no amor, assim como eles são exemplos de amor para nós, filhos”.
Dona Maria reflete sobre as mudanças entre as gerações e diz que sempre procura aconselhar os descendentes sobre relacionamento. “Eu explico a eles como é o casamento. Como foi minha convivência com o pai deles. Faça como eu fiz, e digo que dá certo, porque eu já vivi a vida e eles vão começar a vida, né? Aí tem que explicar a eles”.
Mesmo nos momentos mais difíceis da vida conjugal, com bebida, pobreza e perda de filhos, Maria e Antonio sempre procuraram o consenso e a harmonia entre eles.
“Eu vou combinando com ele. Agora quando a gente vê que um está errado, a gente ‘Ô, meu velho, não é por aí, não. É assim’. Aí a gente conversa e se entende, aí chega onde a gente queria chegar para dar certo. Não pode ser eu querer e ele não querer. Aí fica difícil, né? Tem que ser combinado”.
Passados tantos anos, dona Maria e seu Antonio não têm dúvidas de que, se fosse necessário escolher de novo, escolheriam um ao outro como parceiros de vida. A relação de cumplicidade entre os dois foi ficando mais rica e saborosa com o tempo, assim como o vinho, que dá nome às bodas que o casal completa.
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