Eliana Pittman chega aos 80 anos com as flores em vida e com autobiografia e álbum ao vivo de tom jazzístico à vista


Nascida em 14 de agosto de 1945, a cantora carioca Eliana Pittman completa hoje 80 anos de vida
Samuca Kim / Divulgação
♫ ANÁLISE
♬ É possível arriscar e sentenciar que Eliana Pittman chega hoje aos 80 anos sem lágrima nem dor nesse exato momento da trajetória artística que ela própria decidiu repassar a limpo em autobiografia ainda inédita. Nascida em 14 de agosto de 1945, a carioca Eliana Leite da Silva vive instante especial na carreira de altos e baixos por conta da edição em março do álbum em que dá voz ao repertório de Jorge Aragão com produção musical de Rodrigo Campos.
Com esse disco, a filha do clarinetista e saxofonista norte-americano Booker Pittman (1909 – 1969) – o padrasto que a ninou no berço do jazz – começou a receber as flores em vida.
O álbum Nem lágrima nem dor (2025) representa de fato um ponto luminoso em discografia que perdeu impulso a partir do fim dos anos 1970, década em que a cantora seduziu o Brasil com a voz, o suingue e a energia com que cantou sambas e carimbós (estes mais por imposição da gravadora RCA). Basta dizer que Eliana Pittman não lançou disco ao longo da década de 1980.
Depois, gravou discos de forma tão espaçada que dez anos separam o álbum com que a cantora tentou retomar o fluxo fonográfico em 1992, Sentimento de Brasil, do disco posterior Minhas novas influências, editado em 2002. E mais 17 anos se passaram até que a cantora lançasse em 2019 um outro álbum, Hoje, ontem, e sempre, primeiro dos discos feitos por Eliana sob a ótica empresarial do produtor Thiago Marques Luiz.
Com Thiago, a cantora enfim retomou o fluxo de lançamentos fonográficos e shows nestes correntes anos 2020. Fez show de sambalanço com Doris Monteiro (1934 – 2023) e Claudette Soares em 2019 e 2020. Na sequência, a partir de 2022, se juntou a Alaíde Costa e a Zezé Motta no show Pérolas negras. Ambos os shows viraram discos.
Além do festejado álbum em tributo a Jorge Aragão, Eliana Pittman tem pronto um disco ao vivo, gravado em São Paulo (SP) em 20 de novembro de 2024 em show com a SP Pops Symphonic Band. O show se chama She’s wonderful, título inspirado pelo tema de jazz ’S wonderful (George Gershwin e Ira Gershwin, 1927).
Nesse show de repertório poliglota, moldado para uma intérprete que sempre em cantou em inglês com desenvoltura desde o início da carreira em 1961, Eliana vai de standards da canção norte-americana ao bolero Esta tarde vi llover (Armando Manzanero, 1961), passando, claro, pelo samba, gênero dominante na fase áurea da discografia da artista, em que pese o sucesso da incursão pelo território nortista com a gravação de carimbós.
Foi afinal com um samba, Das 200 para lá, composição do então desconhecido bamba João Nogueira (1941 – 2000), que a cantora conquistou o Brasil em 1971, dez anos após iniciar a carreira fonográfica com o álbum Eliana e Booker Pittman (1961). O suprassumo da obra fonográfica de Eliana Pittman reside nos anos 1970.
Os álbuns Eliana Pittman (1971), Eliana Pittman (1972), Tô chegando, já cheguei (1974) – disco radiante do carimbó Sinhá Pureza (Pinduca) e de Abandono, canção de Ivor Lancellotti que ficaria famosa na voz de Roberto Carlos em 1979 – e Pra sempre (1976) são boas amostras do talento dessa cantora de voz vivaz que sobreviveu aos caprichos do mercado da música e pagou preço alto por ter se recusado a personificar a Donna Summer (1948 – 2012) brasileira, como queriam executivos da gravadora RCA no auge da disco music.
Enfim, certamente houve lágrimas e dores nessa longa caminhada, mas parece resultar feliz a chegada de Eliana Pittman aos 80 anos.
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