
Padre é investigado por agredir fiel durante sessão de exorcismo em igreja
O padre suspeito de agredir uma idosa, de 62 anos, durante uma suposta sessão de exorcismo em uma igreja de São Manuel (SP), na quinta-feira (7), é faixa preta no jiu-jítsu. A vítima registrou um boletim de ocorrência contra o sacerdote por agressão.
Em 2023, o g1 conversou com o padre João José Bezerra sobre a sua outra carreira: a de atleta de jiu-jítsu. Praticante da arte marcial, ele começou no esporte ainda como padre, foi graduado com a faixa-preta e chegou a conquistar o título de vice-campeão.
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Segundo o próprio padre, a prática de atividade física sempre fez parte de sua rotina, inclusive durante o período em que morou em Roma, onde cursava mestrado em teologia sacramentária na Arquidiocese de Milão.
A ideia de ser um padre lutador quase o fez desistir do esporte, mas, com o apoio do professor de jiu-jítsu Will Trovão, ele decidiu assumir os riscos e ignorar o receio de não se encaixar: “Assumi [os treinos] mesmo com receio, pensando: ‘Será que vou me encaixar nesse meio, mesmo sendo padre?’.”
O vice-campeonato rendeu ao padre a graduação na faixa-preta, o mais alto nível da luta. Em novembro do mesmo ano, o sacerdote conquistou o vice-campeonato no Mundial de Jiu-Jítsu da Confederação Brasileira de Jiu-Jitsu Esportivo (CBJJE), realizado em São Paulo (SP), na categoria faixa marrom master 3 (até 88 kg), após disputar três lutas.
O desempenho no esporte ainda rendeu a ele uma moção de aplauso e homenagem na Câmara de Cerqueira César (SP), sua cidade natal. Na ocasião, autoridades locais destacaram que ele representava o município com honra, exaltando sua dedicação, disciplina e excelência.
Segundo João Bezerra, foi a fé que o levou ao tatame: “Foi Deus quem me mandou praticar jiu-jítsu. E, pouco a pouco, entendo os benefícios da arte do jiu-jítsu na minha vida pessoal e de fé. Sobretudo meu modo de ver as pessoas, o mundo. Um dos pilares do jiu-jítsu é a evolução conjunta. Fui me identificando com esses pilares”, disse ao g1 na época.
Padre João José Bezerra é faixa preta e vice-campeão de jiu-jítsu
Arquivo pessoal
Denúncia de agressão
A Polícia Civil está investigando a denúncia de agressão do padre contra a mulher na Paróquia Nossa Senhora Consolata, em São Manuel . A vítima contou à polícia que foi agredida durante um suposto exorcismo.
Segundo o boletim de ocorrência, a vítima foi assistir à missa do terceiro dia da novena de São Miguel Arcanjo, na quinta-feira (7), celebrada pelo padre convidado João José Bezerra, que informou ser “exorcista”.
Ainda de acordo com o relato da vítima registrado no boletim de ocorrência, durante a passagem do Santíssimo – quando o padre caminha pela igreja levando uma hóstia consagrada para abençoar os fiéis durante a missa -, a mulher permaneceu deitada no chão, afirmando que “repousou no Espírito Santo”.
Polícia investiga agressão de padre contra fiel durante suposto exorcismo em São Manuel (SP)
São Manuel Conectado/reprodução
Ainda conforme o boletim de ocorrência, “passado algum tempo, começou a manifestar um espírito maligno, entrando em estado de inconsciência”. Neste momento, conforme a vítima, o padre começou a agredi-la fisicamente com tapas, puxões de cabelo e a arremessou no banco da igreja.
A mulher contou à polícia que, ao retomar a consciência, chegou a pedir para que o padre parasse com as agressões, mas ele só foi controlado após outras pessoas que acompanhavam a missa protegerem a vítima. Ele foi embora do local sem prestar esclarecimentos à vítima ou aos outros fiéis presentes.
No receituário médico da Santa Casa de São Manuel, para onde a vítima foi levada, consta que a mulher apresentava hematomas no rosto, couro cabeludo e ombro direito.
Dias depois do caso, irmãs da mulher conversaram com a TV TEM, afirmando estarem em choque e cobrando justiça. Elas relataram que a idosa pediu para o padre parar, mas ele continuou com a agressão:
“Ele pegava ela do chão, puxando pelo cabelo, arremessava ela no banco, segurando pelo cabelo e, aí, ele começou a bater no rosto dela. E teve uma hora que ela conseguiu já voltar no normal dela e ela pedia para o padre parar, mas ele continuou batendo no rosto dela.”
O que dizem os envolvidos
Ao g1, a Arquidiocese de Botucatu, da qual a Paróquia Nossa Senhora Consolata faz parte, informou que está “disponibilizando ajuda com todas as despesas médicas decorrente das agressões e instaurou um procedimento interno para apuração rigorosa dos fatos, afastando cautelarmente o padre João José Bezerra do uso de ordem”.
A arquidiocese também afirmou que não possui nenhum sacerdote designado como exorcista e que, pela norma da Igreja, o exercício deste ofício só pode ser autorizado expressamente pelo bispo diocesano.
O g1 tentou contato com o padre João José Bezerra, que atua em Cerqueira César, mas não obteve retorno até a publicação desta reportagem.
Padre relata que, no início, lutas causaram ‘estranheza’ aos colegas de igreja
Arquivo pessoal
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