
A dificuldade de obter tratamento para hemodiálise está provocando internações desnecessárias de pacientes em hospitais públicos.
Tem quase um mês que o senhor Arnaldo está internado neste hospital na região metropolitana de Goiânia. Ele tem insuficiência renal crônica e precisa passar por sessões de hemodiálise duas vezes por semana.
“Ele está morando no hospital. Tá ocupando uma vaga de UTI que não tem necessidade”, diz Halex Pereira, filho do senhor Arnaldo.
Em Goiás, 73 pessoas ocupam leitos em unidades públicas de saúde porque não há vagas nas clínicas de hemodiálise. Para não perder o tratamento, o senhor Norberto, de 93 anos, está há dois meses sem poder sair do hospital.
Em Goiás, 73 pessoas ocupam leitos em unidades públicas de saúde porque não há vagas nas clínicas de hemodiálise
Jornal Nacional
“Está sendo muito difícil para a família, para ele… toda vez que a gente chega aqui ele chora, a gente vai embora, ele chora! A gente fica até preocupada dele entrar em depressão, pegar uma infecção aqui no hospital”, conta a família em vídeo.
Nas sessões de hemodiálise, a máquina faz o papel dos rins e filtra o sangue. O equipamento é indispensável para mais de 172 mil brasileiros com doença renal crônica ou grave. 904 clínicas em todo o país oferecem o tratamento ambulatorial. A maioria é particular e tem convênio com o SUS.
Segundo a Sociedade Brasileira de Nefrologia, no país, mais de mil pessoas que dependem da hemodiálise para sobreviver estão internadas em hospitais, ocupando leitos públicos de enfermaria ou UTI – sem indicação médica. O tratamento correto, segundo a entidade, é o oferecido pelas clínicas especializadas.
“Prolongar uma internação por conta da falta de vaga ambulatorial de hemodiálise, expõe essas pessoas a risco, inclusive, de vida. A Sociedade Brasileira de Nefrologia tem insistentemente alertado as autoridades para a crise humanitária que existe hoje no setor de diálise brasileiro fruto do subfinanciamento”, afirma Ciro Bruno Silveira, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Nefrologia.
Segundo a Sociedade de Nefrologia, os recursos do governo federal são insuficientes para que as clínicas particulares possam ampliar as vagas. Hoje, o Ministério da Saúde paga R$ 240 por sessão. Mas estudos encomendados pela Sociedade de Nefrologia mostram que o valor mínimo para cobrir os custos deveria ser de R$ 347.
O diretor de Atenção Especializada do Ministério da Saúde disse que a tabela da rede pública está sendo revista.
“O Ministério da Saúde também tem levantado estudos para analisar se, de fato, existe essa defasagem da tabela e em que nível ela acontece. E a partir daí, estamos levantando qual seria, de fato, essa possibilidade de reajuste antes de fazer uma proposta.”
O senhor Lindomar completa nesta quinta-feira (7) 60 dias dentro de uma UTI – segundo os médicos, sem necessidade. A angústia deve continuar até a próxima terça-feira, quando ele deve começar o tratamento numa clínica de hemodiálise.
“Ele tem 20% só do rim funcionando, mas é uma pessoa que pode viver lá fora, pode sair e voltar todos os dias”, diz Francielle Rocha, filha do senhor Lindomar. “Mas ele não pode, porque está preso”.
A Secretária de Saúde de Goiás declarou que na sexta-feira (8) vai encaminhar para uma clínica os outros pacientes mostrados na reportagem.