
Painel abstrato, na fachada da Polícia Civil de BH, é restaurado
Após 13 anos escondido atrás de tapumes, o painel “Abstrato”, de 1959, do artista mineiro Mário Silésio, foi restaurado e será reinaugurado nesta segunda-feira (5) na Avenida João Pinheiro, no Centro de Belo Horizonte.
A obra fica na fachada do prédio que hoje abriga a Corregedoria da Polícia Civil, e que por muitos anos foi sede do Detran.
O mural tem 13 metros de largura por 2 metros de altura e é composto por 630 peças cerâmicas. Ao longo do tempo, diversas partes do painel se soltaram ou apresentavam rachaduras e danos.
O restauro foi realizado por uma equipe multidisciplinar, com a participação do Centro de Conservação e Restauração da UFMG, e envolveu técnicas inovadoras para recompor a integridade da obra.
“Esse painel tem um papel central aqui nessa região da Avenida João Pinheiro. Ele é um bem integrado a uma construção arquitetônica modernista, obra do arquiteto Hélio Ferreira Pinto”, explicou a historiadora Rita Lages Rodrigues. “Ele tem uma relação intrínseca com a arquitetura modernista da edificação, com o chamado antigo prédio do Detran aqui em Belo Horizonte.”
Painel do artista mineiro Mário Silésio, na Avenida João Pinheiro.
Reprodução/Revista Arquitetura e Engenharia
Recomposição do painel
Para recompor o painel, os restauradores fizeram testes com diferentes argamassas e utilizaram fotogrametria para criar modelos tridimensionais da obra. Essa tecnologia permitiu detalhar falhas e orientar intervenções fora do local original.
“Fizemos simulados para definir o tipo de argamassa necessária para os rejuntes e para colar as peças”, afirmou a professora Alessandra Rosado, do curso de Conservação e Restauração da UFMG. “Havia áreas faltantes, e tivemos que investigar qual era a cor do esmalte que existia ali e já não estava mais.”
O processo também contou com o uso de bisturis e estiletes para retirar 72 cerâmicas que estavam se desprendendo, além da aplicação de argamassa com sondas médicas e seringas para preservar as junções da obra.
Restauração do painel do artista mineiro Mário Silésio.
Fábio Venâncio/TV Globo
Alteração no desenho original
Segundo Tiago de Castro Hardy, doutorando em Ambiente Construído e Patrimônio Sustentável da UFMG, o uso do modelo 3D facilitou o trabalho.
“Com o levantamento, conseguimos medir a espessura dos rejuntes, identificar lascas nas peças e trabalhar essas informações diretamente no laboratório”, afirmou Hardy.
Durante os trabalhos, os restauradores identificaram uma alteração no desenho original do painel, feita entre as décadas de 1960 e 1990. A descoberta ocorreu após a professora Alessandra comparar a obra atual com uma imagem publicada em uma revista da época da inauguração.
“A primeira coisa que me chamou atenção foi a área central do painel. Ela tinha duas faixas mais finas e agora tem uma faixa central larga. Está diferente”, relatou. “É interessante que parece até aquele jogo dos sete erros; só que são mais do que sete.”
Ainda não se sabe quando ou por que a modificação foi feita, mas os restauradores agora pretendem investigar esse trecho da história da obra.
Para a restauradora Thaís Carvalho, a recuperação do painel é relevante tanto para a capital quanto para o país.
“É um painel de 1959 que é imprescindível para a beleza, para a cultura da nossa cidade, também para o Brasil”, afirmou.
A restauração foi uma iniciativa do programa Minas para Sempre, promovido pelo Ministério Público de Minas Gerais, por meio da plataforma Semente, em parceria com a Polícia Civil e o Centro de Conservação e Restauração da UFMG.
Painel do artista mineiro Mario Silésio.
Fábio Venâncio/TV Globo
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