
Águas de São Pedro: como é viver na cidade do interior de SP sem cadeia, velório ou lixão
“Lugar onde ninguém nasce e ninguém é enterrado”: é assim que moradores de Águas de São Pedro (SP), a 185 km da capital paulista, definem a cidade. O motivo? O local não tem maternidade, tampouco velório ou cemitério.
“Aqui até que morre gente, mas não é enterrada”, ri o metalúrgico aposentado Jair Gutierrez, de 71 anos.
A pequena cidade virou notícia há uma semana, quando o Pronto Socorro registrou o primeiro nascimento em 29 anos. Os partos das munícipes de Águas de São Pedro ocorrem, normalmente, em cidades próximas como Piracicaba (SP) e São Pedro (SP).
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A ausência de maternidade não impede que pessoas nasçam por lá. Antes do caso mais recente, o último nascimento em Águas de São Pedro foi em 2022, de acordo com o primeiro e único cartório da cidade. Um bebê nasceu em domicílio. No entanto, pais e mães residentes podem dar o gentílico de água-pedrense aos filhos que nasceram na região. Em 2024, 23 bebês foram registrados com essa natalidade, apontou o cartório.
Casal tira foto na Praça Doutor Otávio de Moura Andrade em Águas de São Pedro (SP)
Yasmin Moscoski/g1
Não tem lixão, cadeia e zona rural
A lista de itens que o município não tem continua com: lixão, hipermercado, cadeia, indústria e até mesmo zona rural – esse último por conta da pequena extensão de território.
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O motivo para não ter cemitério ou lixão “é o cuidado para não contaminar os lençóis de águas medicinais que são o carro-chefe de Águas de São Pedro e impulsionam o turismo”, afirma a prefeitura do município, que foi criado com o objetivo de ser uma Estância Hidromineral com águas medicinais.
“Duas vezes por ano, eu acompanhava a minha mãe que fazia o tratamento nas águas medicinais. Me casei com um homem daqui, separei, mas fiquei na cidade e não largo. Criei meus filhos, eles moram aqui, e a gente adora a cidade”, conta a esteticista Maria Cristina Storani, que se mudou de Santo André (SP) para Águas há mais de 40 anos.
Primavera em canal na avenida Carlos Mauro em Águas de São Pedro (SP)
Yasmin Moscoski/g1
Os velórios e enterros ocorrem, de acordo com os moradores ouvidos pela reportagem, em São Pedro ou Piracicaba. Já o lixo é encaminhado para um aterro sanitário em Rio das Pedras (SP), enquanto os resíduos recicláveis são captados por uma cooperativa de Piracicaba, afirmou a prefeitura.
Águas de São Pedro é uma gema
A área de Águas de São Pedro é de 3,612 km², o que equivale a cerca de 509 campos de futebol padrão FIFA. É o segundo menor município do país, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), e conta com 2.780 habitantes. Para efeito de comparação, Piracicaba comportaria aproximadamente 194 mil campos do mesmo tipo.
O território do município é uma ‘gema’, jeito bem-humorado que moradores descrevem o fato de a cidade estar ‘dentro’ de São Pedro, também de cunho turístico.
“São Pedro é a clara e Águas de São Pedro é a gema”, afirma Renata Assumpção, tabeliã e oficial de notas.
Criação da cidade jardim
Canal da Avenida Carlos Mauro em Águas de São Pedro (SP)
Yasmin Moscoski/g1
A divisão não é à toa. É histórica. Em 1920, técnicos do Serviço Geológico do Estado de São Paulo estiveram em São Pedro para encontrar petróleo. O ‘ouro negro’ não veio, mas brotaram águas com coloração diferente e cheiro forte.
Octávio Moura Andrade comprou as terras com o intuito de investir nos potenciais hidrominerais do que viria a ser um município focado em águas termais e medicinais. Contratou um projeto urbanístico de “cidade jardim” – modelo europeu que projeta ruas de acordo com as curvas de nível e promove mais áreas verdes urbanas.
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Assim, Águas de São Pedro foi criada em 1940. Oito anos depois foi emancipada de São Pedro.
O que fazer em Águas de São Pedro
Rua João Batista Azevedo em Águas de São Pedro (SP)
Yasmin Moscoski/g1
“Essa é a cidade maravilhosa. A gente não precisa pegar carro para nada e faz tudo a pé. Digo que é a Suíça brasileira [risos]”, informa o professor de turismo Vilmar Assaricci, de 59 anos.
Para completar o clima de tranquilidade, a cidade conta com 140 caixas de som que transmitem música ambiente ao longo do dia. Elas estão distribuídas na Avenida Carlos Mauro, na rua João Batista de Azevedo (conhecida como Boulevard, imagem acima) e na Praça Wilson Modesto, também chamada de Praça dos Rouxinóis.
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Além dos pontos citados acima, o professor de turismo indica visitas no:
Fontanário Municipal
SPA Thermal Municipal para banhos de imersão
Mini-Horto e Casa de Santiago
Capela Nossa Senhora Aparecida
Bosque Municipal
Passeio de trem (Trenzinho City Tour e Apiário)
No Fontanário Municipal é possível provar dos três tipos de águas – Fonte da Juventude (clorossulfurosa alcalina), Fonte Gioconda (clorossulfatada sódica) e Fonte Almeida Salles (clorobicarbonatada sódica). No entanto, a mistura das três pode dar desarranjo gastrointestinal.
Segundo a Secretaria de Turismo, a cidade dispõe de 22 meios de hospedagem (entre pousadas e hotéis), além de 190 imóveis cadastrados no Airbnb. Juntos, esses estabelecimentos são capazes de acomodar entre 4 mil e 5 mil pessoas.
Fontanário Municipal em Águas de São Pedro (SP)
Yasmin Moscoski/g1
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