
Golpista entrou em contato por WhatsApp oferecendo uma tonelada de peixe, cestas básicas e kits de irrigação
Antes mesmo de entrar em vigor o tarifaço decretado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, uma ONG do Recife foi alvo de criminosos que usaram a medida norte-americana e o nome do deputado federal Eduardo da Fonte (PP) para aplicar um golpe. Segundo o Instituto Fênix, os estelionatários pediram dinheiro à entidade para entregar doações de produtos que teriam deixado de ser exportados após o aumento das tarifas (veja vídeo acima).
A falsa proposta foi enviada por WhatsApp e prometia uma tonelada de peixes, cestas básicas e kits de irrigação, supostamente doados por empresas em parceria com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
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Anunciado no dia 9 de julho, o tarifaço, que entra em vigor em 6 de agosto, consiste na cobrança de tarifas de 50% sobre produtos brasileiros exportados para os Estados Unidos. Trump assinou o decreto na quarta-feira (30), com várias exceções. Porém, 60% dos itens, incluindo as frutas produzidas no Sertão de Pernambuco, foram contemplados com a sobretaxa — o que acaba encarecendo as mercadorias e prejudicando o envio das exportações.
O Instituto Fênix é sediado no bairro dos Coelhos, na área central do Recife, e atua na ressocialização de ex-presidiários. Em entrevista à TV Globo, o presidente da organização, Cícero Alves, disse que a forma como o golpista se comunicou com a instituição não levantou suspeitas. De acordo com ele, o criminoso disse que era o próprio deputado Eduardo da Fonte, oferecendo as doações.
“O número do telefone foi o principal, DDD 61, que é Brasília. Como a gente tem muitos contatos em Brasília, em nenhum momento eu desconfiei. Como não apareceu a imagem, [imaginei que fosse o deputado] porque, se não tivesse salvo nosso contato no telefone dele, estava entrando [em contato] pela primeira vez”, contou.
Segundo Cícero, o golpista pediu documentos da ONG, como ata, comprovante de residência e dados do presidente. “Isso é normal, quando as instituições querem doar para qualquer instituição do terceiro setor, eles pedem essas documentações”, explicou.
A conversa seguiu depois por telefone, com outra pessoa que se identificou como um assessor parlamentar do deputado. Ela afirmou que a carga estava presa no porto de Maceió e sugeriu o pagamento de R$ 1.380 de frete para trazer os produtos ao Recife. Um áudio enviado pelo golpista explicava que era necessário adiantar metade do valor.
“O motorista repassou que, no lado da contratação, eles cobram no mínimo 50%, até porque eles precisam providenciar os isopores e o gelo de imediato, e o restante pode ser no ato da entrega”, disse o golpista em áudio enviado para a ONG.
Cícero estava prestes a realizar o pagamento quando um comentário da equipe levantou suspeitas.
“A diretora jurídica disse: ‘rapaz, essas doações todas parecem até um golpe, né?’. Eu parei assim, e falei: ‘peraí, só um minutinho, deixa eu ir aqui no computador’. Peguei as duas imagens que ele havia me mandado e joguei no Google para fazer a pesquisa. Na hora, me apareceu uma reportagem de quatro anos atrás de umas ações de doações que aconteceram no Brasil, de cestas básicas e outra de peixes que aconteceu no ano passado”, relatou.
O presidente da ONG salvou os áudios, tirou prints da conversa e registrou um boletim de ocorrência. Ele também avisou à equipe do deputado federal sobre o golpe.
A gerente financeira do Instituto, Gisely Wanderley, lamentou a tentativa de fraude. “Nosso caixa não teria esse valor que seria acordado com ele. Ia sair do bolso do nosso próprio CEO, porque a gente não teria nem como arcar com isso tudo. Está bem difícil mesmo”, disse.
A assessoria de Eduardo da Fonte informou que medidas judiciais já foram adotadas contra os golpistas e que encaminhou o caso para a Delegacia da Polícia Legislativa da Câmara dos Deputados.
Golpista se passou pelo deputado federal Eduardo da Fonte
TV Globo/Reprodução