Análise: Brasil é bode expiatório de Trump contra Brics; entenda

Tarifaço de Trump: a contagem regressiva
Às vésperas de entrar em vigor o tarifaço de 50% imposto por Donald Trump, analistas veem o Brasil como alvo estratégico da política externa dos EUA. Para Leonardo Trevisan, professor de Relações Internacionais da ESPM, o país virou um “bode expiatório” num movimento que mira, na verdade, a crescente influência da China na América Latina.
“O Brasil está trabalhando uma geopolítica militar com a China e os americanos não querem esse acordo. Houve anúncio que o Brasil vai ampliar a rede de satélites com a China, que o Brasil vai fazer cabos submarinos”, explica Trevisan em entrevista ao podcast O Assunto.
Segundo ele, o tarifaço é uma mensagem geopolítica: os Estados Unidos não querem ver a hegemonia chinesa se expandir na região.
“Os americanos entendem isso como uma ameaça à geopolítica militar no mundo. Então o Brasil precisa trazer à mesa esses assuntos que são nossos interesses de soberania, mas que envolvem outras nações.”
A insatisfação dos EUA estaria relacionada também ao apoio público de Lula a Joe Biden e à atuação recente do Brasil dentro dos Brics, hoje em processo de ampliação.
“O Brasil tomou uma posição junto dos BRICS que hoje os Estados Unidos não concordam, que não é só um grupo econômico.”
Com menor poder de barganha, o Brasil tenta evitar prejuízos maiores por meio de negociação direta com empresários e com o governo Trump, ainda sem sucesso.
No campo econômico, o país ainda enfrenta dificuldades adicionais: diferentemente de Japão e União Europeia, que fecharam acordos com os EUA após uma ofensiva diplomática intensa, o Brasil responde por apenas 1% das importações americanas.
O presidente Lula, segundo interlocutores, resiste à ideia de procurar Trump diretamente, diante do que seria uma exigência de interferência política em favor de Jair Bolsonaro.
Apesar do cenário adverso, setores como celulose e aviação regional, com forte presença de produtos da Embraer nos EUA, podem ter margem para negociações pontuais. No entanto, sem um acordo mais amplo, produtos como suco de fruta e café devem ser os mais impactados.
O governo brasileiro já estuda um plano de contingência para amparar os setores atingidos, mas a palavra final dependerá da extensão efetiva das medidas americanas.
Ouça a entrevista completa no podcast ‘O Assunto’:
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