
Da madeira à pele: o que é xilotattoo, estilo de tatuagem que levou artista de Sumaré a NY
Primeiro entalhada na madeira, depois impressa na pele: assim nasce a xilotattoo, estilo de tatuagem que transforma a tradição da xilogravura em arte corporal.
Com influência da estética dos cordéis nordestinos, a técnica levou a tatuadora Thais França, de Sumaré (SP), até Nova York(EUA), onde participou da Empire State Tattoo Expo, um dos maiores eventos do mundo na área.
O g1 visitou o estúdio da artista em Sumaré (SP) – confira abaixo.
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Além dos equipamentos típicos da profissão, o espaço também valoriza a cultura cordelista, e conta com um painel com vários exemplares do gênero, além de quadros de xilogravuras expostos nas paredes.
A artista começou a trabalhar com tatuagens durante a pandemia, como uma forma de “se expressar artisticamente” e garantir o próprio sustento. Thais aperfeiçoou a técnica com aulas de xilogravura do poeta e cordelista J. Borges, um dos maiores nomes da xilogravura brasileira.
“Foi na pandemia que passei a estudar tatuagem e pude fazer um curso com J. Borges. Daí para frente, quando eu fiz o curso, eu já tatuava e eu queria aprender a fazer xilogravura pra colocar isso na tatuagem. E foi isso. E de lá para cá eu venho unindo os dois”, explica a tatuadora.
Dos quadros à pele: conheça estilo de tatuagem com xilogravura apresentado em NY por tatuadora de Sumaré
Estevão Mamédio/g1
Da madeira à pele: como é feita uma xilotattoo?
Em uma xilogravura, o artista esculpe o desenho na madeira e depois o imprime em um papel. Na xilotattoo, o tatuador repete o mesmo processo — só que a “impressão” é feita diretamente na pele do cliente.
O profissional desenha em uma superfície (que pode ser madeira ou linóleo) e esculpe a arte com duas espátulas cortantes.
A xilotattoo precisa ter um relevo mais profundo que uma xilogravura, para a imagem marcada no relevo não perca a nitidez na transferência.
O tatuador pinta o quadro com tinta de decalque de tatuagem. Para isso, ele utiliza um rolo costumeiramente usado em xilos.
A arte esculpida é encostada no corpo do cliente, transferindo o desenho para a pele. Após isso, o tatuador contorna a imagem como em uma tatuagem normal.
✍🏼 A profissional costuma cobrar um valor médio de R$ 300 por cada tatuagem. No estúdio da artista, os clientes podem levar a matriz da arte como uma lembrancinha.
“Eu acredito que cada xilo é única. Eu acredito demais que a xilo deles [outros profissionais] eu não faço, assim como a minha ninguém faz”, opina.
Thais França, de 40 anos, esculpe os desenhos das tatuagens em uma madeira antes de ilustrar o corpo do cliente.
Estevão Mamédio/g1
Tatuagem de cordel?
O cliente que escolhe ter uma xilotattoo é livre para definir se quer manter ou não as bordas arredondadas típicas das artes cordelistas, que acabam passando no decalque.
Mesmo compartilhando as raízes, a identidade da tatuagem anda de mãos dadas com a técnica da xilogravura, mas não necessariamente com o cordel e o Nordeste.
Eu faço uma xilogravura com essa identidade visual do cordel, mas eu retrato o que eu vejo. Então, por exemplo, ao invés de fazer tatuagens de caju, eu vou fazer tatuagens de café […]. O meu desenho tem essa imagem visual dessa xilo nordestina, no entanto, como eu não sou nordestina, eu faço imagens e expresso o que tá dentro do meu coração.
Amante da literatura, a tatuadora sempre está acompanhada de cordéis. No estúdio, apresentando dezenas de títulos do gênero, uma estante enfeita a parede ao fundo e um painel móvel divulga a literatura para todos os lugares em que a artista se apresenta – inclusive, para Nova Iorque.
Dos quadros à pele: conheça estilo de tatuagem com xilogravura apresentado em NY por tatuadora de Sumaré
Estevão Mamédio/g1
Honra às raízes
✈️ Para viabilizar a viagem, a artista fez um curso intensivo de inglês, correu para renovar o passaporte, chegou a vender uma Kombi e fez uma vaquinha online para custear os gastos.
Ela conta que Nova Iorque não deu nenhum retorno financeiro, mas ela pôde honrar e disseminar a cultura nacional através da arte.
“Eu nunca tinha estado tão longe de casa e confesso que nada que eu vivi até hoje eu me preparou pra isso. Foi maravilhoso receber pessoas do mundo inteiro no meu estande e mostrar minha arte, assim como foi enriquecedor ver tatuadores do mundo todo e suas artes”, destacou a artista.
Achava que a única coisa que eu fazia bem era ser mãe. E agora a arte que eu faço, por amor e com o coração, está sendo reconhecida por pessoas de fora. Isso tem um significado que eu nem sei explicar.
Dos quadros à pele: conheça estilo de tatuagem com xilogravura apresentado em NY por tatuadora de Sumaré
Arquivo Pessoal
*Estagiária sob supervisão de Gabriella Ramos.
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