
Mais de mil contêineres estão parados no porto de Vitória
Só no Porto de Vitória, 1,5 mil contêineres deixaram de ser embarcados neste mês para os Estados Unidos. Os importadores suspenderam as compras.
Contêineres acumulados, sem expectativa de ir para os navios. Esse é o cenário de uma empresa de exportação que atua no Porto de Vitória.
Pelo porto passam rochas usadas em pisos e cozinhas de casas dos americanos, mas também café e carne bovina.
“Se colocar aí café e rocha, nós vamos chegar a mais ou menos 1.500 contêineres que poderão deixar de ser embarcados por conta do tarifaço. E aí, a gente, num cálculo rápido, chega a US$ 60 milhões, explica o despachante aduaneiro Bruno Marques.
Prejuízo que se espalha por vários portos do país.
Exportadores deixam de enviar mercadorias aos EUA para evitar entregas sob impacto do tarifaço; transporte em navios leva cerca de 14 dias
Reprodução/TV Globo
O café cultivado no sul de Minas Gerais é levado para os Estados Unidos pelo Porto de Santos, em São Paulo.
As carretas carregadas com o produto saem do porto seco, em Varginha, em contêineres com destino ao Porto de Santos. Uma viagem de 400 km. Lá, a carga passa pela alfândega e embarca num navio. Se tudo der certo, a embarcação segue, por 14 dias, em média, até chegar em Miami, no sul dos Estados Unidos.
Exportadores deixam de enviar mercadorias aos EUA para evitar entregas sob impacto do tarifaço; transporte em navios leva cerca de 14 dias
Reprodução/TV Globo
O Ministério de Desenvolvimento diz que 95% das exportações para os americanos são transportadas de navio.
O setor, segundo Ricardo Machado Ruiz, professor da faculdade de Ciências Econômicas da UFMG, está comprometido mundialmente desde abril, quando Donald Trump fez os primeiros anúncios de tarifação a diversos países.
“Tentar acelerar as exportações brasileiras, quando o mundo inteiro está acelerando suas exportações, é concorrer com uma logística que é: porto, navio… todo mundo ao mesmo tempo agora. Isso gera uma tensão. Você vai ter que pagar um frete mais caro. O seguro tem que pagar. Os embaraços alfandegários, as áreas de estocagem secas e molhadas nos portos, tudo isso está tensionado”, afirma o professor.
Segundo exportadores e agentes aduaneiros, os compradores nos Estados Unidos estão pedindo para que as mercadorias não sejam embarcadas.
“No momento que esse produto, ele cruza a fronteira e ele chega nos Estados Unidos, esse importador, ele vai pagar a mais por esse produto que ele está importando, então gerando o aumento maior do custo da operação. Esse aumento desse custo da operação, ele vai repassar para o produto final. Vai ficar mais caro para o consumidor estadunidense”, diz Amina Welten Guerra, presidente da Comissão de Relações Internacionais da OAB e doutora em Direito Internacional.
Outra preocupação é que, se o tarifaço realmente for aplicado, o Brasil perca espaço para concorrentes. No caso do café, o Brasil disputa mercado com o Vietnã e a Colômbia – que teriam alíquotas menores.
Esta empresa de logística, em Belo Horizonte, cancelou o envio de centenas de contêineres desde o anuncio do tarifaço.
“Todas as cargas de todos os contêineres que nós já estimávamos que teriam um tempo de 20 a 30 dias, nós já paramos. E no nosso caso, na nossa carteira, corresponde hoje em 240 contêineres, mais ou menos”, conta Alexandre Marques, diretor de uma empresa de logística de exportação.
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