
Corpo da atriz mirim Millena Brandão é sepultado em São Paulo
Dois meses após a morte da atriz mirim Millena Brandão, de 11 anos, um laudo pericial revelou a causa: um abscesso cerebral, infecção grave no cérebro que pode se formar a partir de problemas comuns em crianças, como sinusite e mastoidites mal resolvidas.
Médicos ouvidos pelo g1 explicam como esse tipo de infecção acontece, por que é tão perigosa e quais sinais merecem atenção.
O que é um abscesso cerebral?
“É uma infecção causada por bactérias ou fungos que, por uma falha no sistema de defesa do organismo, consegue entrar no tecido cerebral e se proliferar ali”, explica Lorenza Pereira, neurocirurgiã especializada pelo Instituto Sírio Libanês.
Segundo ela, o abscesso passa por fases de desenvolvimento: pode começar com uma inflamação (chamada cerebrite), ou evoluir até formar nódulos de pus que “têm o mesmo comportamento de um tumor cerebral maligno.”
O risco aumenta porque, ao crescer, o abscesso comprime estruturas do cérebro e pode causar sintomas graves ou mesmo a morte.
Como a infecção chega ao cérebro?
Millena Brandão tinha 11 anos; exame onde círculo vermelho mostra mancha suspeita de ser um tumor no cérebro da atriz, segundo a família
Reprodução
O documento da perícia da Polícia Técnico-Científica a que o g1 teve acesso não esclarece, no entanto, o que causou o abscesso cerebral em Millena.
De acordo com a neurocirurgiã Lorenza Pereira, existem quatro formas mais comuns de uma infecção chegar ao cérebro.
Má formação cardíaca, que permite que fungos e bactérias cheguem ao cérebro através da corrente sanguínea;
cirurgias no crânio, em que há risco de contaminação pela ferida;
baixa imunidade;
ou por contiguidade, quando há uma infecção em região próxima ao cérebro, como é o caso de sinusites e mastoidites mal resolvidas, mais comuns em crianças e adolescentes.
Quais os sintomas e como é feito o diagnóstico?
Os sintomas mais comuns podem variar de dores de cabeça a crises convulsivas, explica Lorenza. Entre os sinais de alerta estão: sonolência, vômitos em jato, febre e confusão mental.
“O diagnóstico é feito por meio de tomografia computadorizada e exames de sangue para mostrar que a criança está com infecção.”
À época, Millena sentiu fortes dores de cabeça e passou por três unidades médicas em São Paulo, onde teve 13 paradas cardíacas. Depois, teve a morte cerebral confirmada.
Ainda segundo a neurocirurgiã, a tomografia e a ressonância magnética são os exames mais usado. ,
“Pela imagem da tomografia, sugere mesmo uma infecção que tenha vindo por continuidade”, avalia Lorenza. “Infelizmente, no nosso sistema público de saúde, tomografia não é disponível em todos os hospitais.”
Segundo o relato da mãe da atriz mirim, Millena foi transferida da UPA Maria Antonieta para o Hospital Geral do Grajaú, onde foi submetida a uma tomografia que identificou uma massa de cinco centímetros no cérebro.
A tomografia e a ressonância magnética são os exames mais usados, mas em muitos casos só a cirurgia confirma o diagnóstico, e precisa ser feita com urgência para aliviar a pressão no cérebro.
“Lembrando que infecção não se cura com cirurgia. A cirurgia é para aliviar o cérebro da compressão que o abscesso está provocando. Após a cirurgia, o paciente deve ser submetido a antibióticos intravenosos múltiplos por um longo período, e ainda assim há risco de óbito ou de sequelas importantes.”
O papel da sinusite e mastoidites
Richard Voegels, diretor de rinologia do HCFMUSP e presidente da Fundação Otorrinolaringologia, explicou, em entrevista ao g1, como infecções como sinusites frontais ou etmoidais (localizadas entre os olhos e atrás da testa) podem levar a um abscesso cerebral.
“Essas cavidades ficam muito próximas dos olhos e, obviamente, do cérebro. Então, quando existe uma sinusite bacteriana, o catarro parado infecta com as bactérias do nariz”, afirma.
Na grande maioria dos casos, a infecção fica restrita aos seios nasais. No entanto, o médico alerta que “há o risco de uma infecção no etmoide (cavidade entre os olhos) afetar os olhos ou o cérebro por disseminação retrógrada.”
Já no caso da mastoidite — inflamação do osso localizado atrás da orelha —, o caminho da infecção até o cérebro costuma ser mais direto.
“Tem pacientes que têm o osso muito delgado, ou nem têm o osso que separa a mastoide da meninge do cérebro”, diz Voegels. Nesses casos, a infecção chega ao cérebro por disseminação direta, sem barreiras de proteção eficazes.
Tanto na sinusite quanto na mastoidite, o alerta é o mesmo: quando não tratadas corretamente, essas infecções podem ultrapassar os limites do rosto e atingir o sistema nervoso central, exigindo intervenções urgentes para salvar a vida do paciente.