
Série Impactos do Tarifaço: setor têxtil mineiro projeta prejuízos
A indústria têxtil da Zona da Mata mineira vive um momento de tensão diante da promessa de taxação de 50% sobre produtos brasileiros anunciada pelos Estados Unidos. O setor estima uma perda de até R$ 250 milhões na economia regional, mas o impacto vai além dos números: milhares de empregos em risco e aumento no custo dos insumos que ameaça a sobrevivência de pequenas e médias empresas.
Os impactos mais temidos pelos empresários são a retração nas exportações e excesso de produtos no mercado interno, que podem acabar provocando uma reação em cadeia e comprometer a produção, a renda das famílias e a estabilidade de um dos setores mais tradicionais da região.
Segundo o Sindicato das Indústrias do Vestuário de Minas Gerais (Sindivest), o setor têxtil da Zona da Mata respondeu por cerca de US$ 187 milhões (20%) em exportações para os EUA em 2023. Metade desse volume pode ser impactado caso o tarifaço entre em vigor, representando contração entre R$ 200 a R$ 250 milhões na economia têxtil regional.
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Prejuízos temidos em Juiz de Fora
Em Juiz de Fora, uma das cidades polo da indústria de meias, empresários já projetam prejuízos a médio e longo prazo. Mesmo sem exportar diretamente para os Estados Unidos, a cadeia produtiva local pode ser afetada pela retração de clientes que exportam e pela alta nos custos de produção.
“Ainda temos a entrada dos produtos asiáticos, dos produtos vindos da China, de bastante tempo, que já nos causa um problema, em função de ter mais imposto a pagar. Então, mais essa entrada agora, dessa sobretaxa, ficaríamos sobrecarregados. Mas acredito que demore ainda a chegar”, opinou João Luis Rocha do Amaral, empresário e presidente do Sindicato das Indústrias de Meias (Sindimeias).
A empresa de João Luis é uma das 65 indústrias de meias em funcionamento na cidade. Com produção diária de 24 mil pares, abastece marcas de renome no Brasil e no exterior. Os produtos chegam a todos os estados do país e são fabricados por uma equipe de 105 funcionários.
Além da exportação, há preocupação com a importação de insumos, como fios de poliéster, e os impactos na mão de obra qualificada. “A partir do momento que existe o aumento do valor da moeda americana, que tenhamos queda nas vendas, aumento nos insumos que vamos ter que importar, eu acredito que, inclusive, a mão de obra vai ser impactada. Então, o nosso mercado pode ser bem prejudicado no futuro”, disse o empresário.
Efeitos indiretos e competitividade desigual
A presidente do Sindivest-JF e da Fiemg Juiz de Fora, Mariângela Miranda, também avaliou que o impacto direto na cidade é limitado. Ela explicou que a região tem Juruaia como base territorial nas exportações, além de Muriaé. Já Juiz de Fora, o principal setor de exportação é ligado a metal mecânico.
De toda forma, alertou para os efeitos indiretos na atividade econômica e os impactos na empregabilidade.Miranda também apontou que o excesso de produtos no mercado interno pode gerar uma competição desigual.
“Passando por essa leitura, esse impacto nosso é pequeno. Só tem implicações porque muita gente importa algodão, importa fio, e essas empresas que importam, elas vão sofrer também efeitos danosos dessa taxação. (…) Como o setor vai sofrer? Vai sofrer porque não exportando, essas empresas que exportam no todo no Estado de Minas, por exemplo, elas vão deixar de exportar e vão injetar os produtos no mercado interno. Injetando no mercado interno, para o consumidor, aparentemente, é um ganho. Mas para quem já está estabelecido, para quem já tem os seus custos de produção todos tomados, porque o custo brasileiro é um custo elevado, ele vai ficar sobrecarregado com outros produtos que não foram exportados e que estão no mercado interno. Então, há um prejuízo indireto. Aparentemente, o preço pode até baixar a curto prazo, mas não é nada bom porque afeta a produção. Isso, afeta a produção, aí vai ter maior número de desempregados. Então, a gente tem que entender isso como sendo uma reação em cascata, em cadeia, e se não tivermos uma negociação para isso, as coisas só tendem a piorar”, contextualizou.
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Cenários de retaliação preocupam o setor
Um estudo realizado pela FIEMG analisou cenários de retaliação por parte do Brasil em resposta às taxações norte-americanas. Se o governo brasileiro aplicar uma tarifa de 50% sobre produtos dos Estados Unidos, o PIB pode cair 2,85%, com 263 mil empregos a menos. No pior cenário, com taxações de 100% em ambos os lados, a queda pode chegar a 6% no PIB e mais de 400 mil empregos perdidos.
“Nós já temos um prejuízo instalado. Se houver uma retaliação, seja ela de 50%, 100% de tarifas, só prejudicam os cenários. Vão aumentar os números de desemprego, vai cair mais o PIB, vai ter um déficit na economia. A situação é uma situação que tende a piorar muito. Então, é importante negociar”, finalizou a presidente do Sindivest.
Minas Gerais representa 10% da produção têxtil nacional
A Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit) informou que Minas Gerais representa 10% da produção têxtil brasileira. O diretor-superintendente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção, Fernando Valente Pimentel, afirmou que o setor teve crescimento no primeiro semestre, com R$ 250 milhões em exportações, e esperava ampliar esse valor no segundo semestre. Com a nova tarifa, a projeção está comprometida.
“Nós tivemos um crescimento na ordem de 3,5% com relação ao primeiro semestre do ano passado. E tínhamos uma expectativa De exportar no segundo semestre este valor e mais uns 10% […] se nada mudar nessa tarifa de 50% adicional que foi imposta ao Brasil, muito provavelmente a maioria dessas vendas está comprometida ou estará comprometida, porque não há margem para dar descontos, não há condição do importador pagar esse adicional de preços dentro da sua matriz de custos, que vai levar o consumidor final”, comentou.
A associação também estima que, para cada R$ 1 bilhão exportado, há envolvimento de 70 mil empregos diretos e indiretos. Com base nesse cálculo, o setor pode perder entre 5 mil e 6 mil postos de trabalho.
Indústria têxtil da Zona da Mata pode ser impactada por tarifaço
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Fábrica de meias em Juiz de Fora produz 24 mil pares diariamente
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Indústria têxtil zona da mata juiz de fora
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