
Diversos setores da economia brasileira já sentiram os primeiros impactos do tarifaço antes mesmo de as taxas terem entrado em vigor. E o governo federal reconhece que não consegue abrir negociação com a Casa Branca.
No dia 16 de julho, logo depois de Donald Trump ameaçar com um tarifaço de 50%, o governo brasileiro mandou uma carta ao secretário de Comércio e ao representante comercial dos Estados Unidos. Antes, em maio, já havia enviado outra proposta de negociação. As duas permanecem sem resposta.
“O que fazer? Ele não quer conversar. Se ele quisesse conversar, ele pegava o telefone e me ligava. Se quiserem negociar, queremos negociar. Nós temos os melhores negociadores do mundo”, disse Lula.
Enquanto tenta abrir a negociação, o governo trabalha em um plano de contingenciamento para ajudar as empresas brasileiras que podem ser afetadas pelo tarifaço. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que o plano está quase pronto quinta-feira (24) e deve ser apresentado ao presidente Lula na segunda-feira (28).
Em contatos com autoridades americanas, ministros do governo brasileiro tentam um canal de comunicação. Haddad mantém conversas com o secretário do Tesouro dos EUA. O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Geraldo Alckmin, disse que no sábado (19) falou por 50 minutos com o secretário de Comércio americano. Segundo fontes dos dois ministérios, ouviram que a abertura de negociações depende do aval de Donald Trump.
“Destacando o presidente Lula tem orientado negociação, não ter contaminação política nem ideológica, mas centrar na busca de solução para a questão comercial. E ao invés de ter perde-perde, com inflação nos EUA e a redução de nossas exportações para o mercado americano, nós invertermos isso. Resolvermos problemas, aumentarmos a complementariedade econômica, integração produtiva, investimentos recíprocos, discutirmos não bitributação. Avançarmos numa agenda extremamente positiva”, disse Alckmin.
Vice-presidente, Geraldo Alckmin, fala sobre tentativas de negociação com os EUA
Reprodução/TV Globo
Um levantamento da Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostra que os Estados Unidos são hoje o principal destino de investimentos brasileiros em novos projetos no exterior, um crescimento de mais de 50% nos últimos 10 anos.
Pelo menos 70 empresas brasileiras têm investimentos produtivos em 23 dos 50 estados americanos. Em 2024, foram US$ 22 bilhões investidos.
Os setores com mais presença são:
alimentos e bebidas;
plásticos;
produtos de consumo;
software e serviços de TI;
e metais.
Os Estados Unidos também são o maior investidor estrangeiro no Brasil. Em 2024, os investimentos americanos no país somaram mais de US$ 357 bilhões. Mais de 3.600 empresas americanas atuam no Brasil. O volume de negócios cresceu quase 230% em dez anos.
Investimentos brasileiros nos EUA
Reprodução/TV Globo
O presidente da CNI, Ricardo Alban, afirmou que empresários brasileiros estão buscando seus parceiros nos EUA para uma atuação conjunta em defesa de um acordo comercial.
“O que nós estamos fazendo, preocupados com essa relação bilateral, é buscar nossas indústrias que têm parceiros nos EUA — seja como clientes ou fornecedoras — para que possam conversar, ver a melhor estratégia. Sem nenhuma personalização, mas criando um ambiente de mostrar o ganha-ganha ou o perde-perde para todos. De tal forma que nós estamos nos organizando junto a essas indústrias”, disse ele.
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