
Um advogado e um policial civil também foram presos na operação. A Polícia Federal informou que busca aprofundar as investigações sobre uma possível organização criminosa responsável pelo vazamento de informações sigilosas do STF. Policial civil Marco Augusto Velasco Nascimento Albernaz; prefeito Eduardo Siqueira Campos; advogado Antônio Ianowich Filho
Reprodução/TV Globo/Redes sociais e Vilma Nascimento/g1 Tocantins
O prefeito de Palmas Eduardo Siqueira Campos (Republicanos) foi afastado do cargo e preso durante uma operação da Polícia Federal, investigado por um suposto vazamento de informações sigilosas do Superior Tribunal de Justiça (STJ). A Operação Sisamnes apontou que o prefeito usava as informações para incrementar “sua rede de influência na política local”.
O advogado Antônio Ianowich Filho e o policial civil Marco Augusto Velasco Nascimento Albernaz também foram presos. Eles eram as fontes de Eduardo sobre os processos em Brasília, segundo a decisão do STJ.
Confira na reportagem o que se sabe sobre a operação e a prisão do prefeito de Palmas.
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Quem foi preso?
A última fase da Operação Sisamnes realizada nesta sexta-feira (27) levou à prisão de três pessoas. São elas:
Eduardo Siqueira Campos – prefeito de Palmas
Marco Augusto Velasco Nascimento Albernaz – policial civil
Antônio Ianowich Filho – advogado
A decisão foi assinada pelo ministro Cristiano Zanin, do Supremo Tribunal Federal (STF). O prefeito e o advogado foram levados para celas no Quartel do Comando-Geral da Polícia Militar. O policial está na carceragem do 6º Batalhão da PM, na região sul da cidade.
O que a operação investiga?
Agentes da Polícia Federal chegando na sede da PF em Palmas
Kaliton Mota/TV Anhanguera
A operação Sisamnes, da Polícia Federal, investiga um suposto esquema de vazamento de informações sigilosas do Superior Tribunal de Justiça (STJ). Elas eram acessadas antecipadamente e repassadas a investigados, com objetivo de proteger aliados, frustrar ações policiais e construir redes de influência. Essas ações teriam impacto direto sobre operações da PF.
A apuração revelou indícios de que informações confidenciais estariam sendo antecipadamente acessadas, articuladas e repassadas a investigados, com o envolvimento de agentes públicos, advogados e operadores externos.
Prefeito foi alvo de buscas em fase anterior
Eduardo Siqueira Campos é suspeito de ter vazado informações para o advogado Thiago Marcos Barbosa, sobrinho do governador do Tocantins Wanderlei Barbosa (Republicanos), em 2024.
No dia 30 de maio de 2025, Siqueira foi alvo na 9ª fase da Operação Sisamnes. A polícia chegou a pedir o afastamento dele, mas foi negado. Na época, foram cumpridos mandados de busca e apreensão na casa e gabinete de Eduardo, além da unidade penal de Palmas.
Após a operação, o prefeito afirmou durante uma coletiva de imprensa que era “fonte de muita gente” e não tinha informações privilegiadas no STJ.
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Vazamentos de informações no Tocantins
As investigações sobre os vazamentos iniciaram após a análise do celular do desembargador Helvécio de Brito, apreendido durante a operação Máximus. Ele foi afastado do cargo no Tribunal de Justiça em agosto de 2024. As conversas revelaram conversas do magistrado com Thiago Marcos Barbosa, sobrinho do governador Wanderlei Barbosa.
Em março de 2025, Thiago Marcos Barbosa foi preso em uma das primeiras fases da Operação Sisamnes no Tocantins, suspeito de vazar detalhes sobre operações judiciais. Uma das pessoas “beneficiadas” seria o tio, Wanderlei Barbosa, que não é investigado na operação. Thiago continua preso na unidade penal de Palmas.
No mesmo dia, o pai de Thiago e cunhado do governador, Goianyr Barbosa de Carvalho, foi preso em flagrante após jogar uma mochila com dinheiro por uma janela de sua casa. Ele foi solto dias depois com imposição de medidas cautelares.
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Prefeito Eduardo Siqueira Campos (Podemos) comenta Operação Sisamnes em coletiva de imprensa
Stefani Cavalcante/g1 Tocantins
Ainda em maio de 2025, o prefeito de Palmas afirmou em coletiva de impresa que conhece Thiago e eles têm uma relação de “afeto”. Ele afirmou que apenas indicou seu advogado pessoal para defender Thiago e que não repassou informações privilegiadas.
“O que eu fiz, foi fazer por uma pessoa, que após partida da mãe tenho um afeto muito grande. O [advogado indicado] acessou o processo dele, teve acesso aos autos”, disse o prefeito.
Rede de influência na política
Mensagens encontradas no celular do prefeito levaram o ministro Zanin a autorizar o afastamento e prisão de Eduardo. Na decisão, um dos trechos mostra uma mensagem enviada pelo advogado Antônio Ianovich a Eduardo:
“Oi chefe. 4 equipes da PF chegaram hoje. Vindas de Brasília. 4 equipes completas. Delegado escrivão e dois agentes. Chegaram por terra”.
Conforme a decisão, “o prefeito se utilizava dessas informações para alertar determinadas pessoas, incrementando sua rede de influência na política local”.
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Quem assumiu a Prefeitura de Palmas?
Após a prisão e afastamento de Eduardo Siqueira Campos, o vice-prefeito Carlos Velozo (Agir) assumiu a prefeitura. A mudança foi publicada ainda na sexta-feira (27) no Diário Oficial do município.
Carlos é pastor e disputou as eleições para um cargo político pela primeira vez em 2024. Em nota, ele manifestou solidariedade a Eduardo e disse que o caso é um dos “maiores desafios políticos que o Tocantins já viu”.
“Juntos enfrentamos e vencemos um dos maiores desafios políticos que o Tocantins já viu. Tudo isso só fortaleceu nossos laços e seguiremos caminhando juntos pelo bem de Palmas e do nosso povo”.
Eduardo Siqueira Campos passou faixa para vice-prefeito após anunciar afastamento para cuidar do filho em março de 2025
Igor Pires/TV Anhanguera
O que diz a defesa dos investigados
A advogada do prefeito Eduardo Siqueira Campos, Laura Azevedo, informou: “O nosso posicionamento segue o mesmo, no sentido de que o mérito da ação será enfrentado pela defesa técnica nos autos – que, diga-se de passagem, são sigilosos. No mais, como em qualquer processo envolvendo prisão, a concessão de liberdade é sempre prioridade.”
A Prefeitura de Palmas destacou que “as investigações não se relacionam com a atual gestão municipal”.
O advogado Juvenal Klayber, que faz a defesa do policial preso, informou que fez o pedido da revogação da prisão. Caso seja negada, vai entrar com recursos cabíveis.
Em relação ao policial, a Secretaria da Segurança Pública do Tocantins (SSP-TO) informou que o caso está sendo acompanhado pela Corregedoria-Geral, e que serão tomadas todas as providências administrativas cabíveis.
O g1 e a TV Anhanguera não conseguiram contato com a defesa do advogado Antônio Ianowich Filho até a última atualização desta reportagem.
Sobre a prisão de Antônio Ianowich Filho, a Ordem dos Advogados do Brasil – Seccional Tocantins (OAB-TO) disse que não teve acesso à decisão judicial e está adotando todas as medidas cabíveis para assegurar a plena observância das prerrogativas profissionais, conforme previsto na legislação vigente e no Estatuto da Advocacia.
O governador Wanderlei Barbosa afirmou que sua defesa já estava habilitada no inquérito e não recebeu informação privilegiada. Ele não é investigado nesta operação da Polícia Federal.
O advogado Luiz Francisco, que representa Thiago Barbosa, afirmou que o cliente está sendo acusado de embaraçar investigação contra organização criminosa, mas a defesa está tranquila. “Não vejo crime de embaraçamento por parte do Thiago. O embaraçamento é crime material, tem que ter resultado. Se as operações ocorreram e atingiram objetivo, que prejuízo houve? Nenhum.”
O advogado Zenil Drumond, que representa Goyanir Barbosa, afirmou que o cliente “foi preso por conta da interpretação do delegado, que entendeu que este teria incorrido no crime de lavagem de dinheiro por ter arremessado pela janela a quantia de R$ 22.000,00. Ocorre que Goyanir não tem ligação alguma com tal operação, foi solto inclusive na audiência de custódia, quando na oportunidade lhe foi imposta a medida cautelar pelo pagamento de fiança no valor de R$ 20.000,00”.
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