‘Assassinato reivindicado’, ‘ataque deliberado’: a indignação após a morte de seis jornalistas em Gaza

Bombardeio israelense mata jornalistas na Faixa de Gaza
A ONG Repórteres Sem Fronteiras (RSF) denunciou “com veemência e indignação os assassinatos reivindicados” por Israel, entre eles, o de Anas al Sharif, correspondente renomado da emissora Al Jazeera, classificado de “terrorista” pelo governo de Netanyahu.
O repórter Anas al Sharif, de 28 anos, era dos rostos mais conhecidos entre os correspondentes da Al Jazeera que cobriam diariamente o conflito em Gaza. O Exército israelense afirmou que ele foi o principal alvo do ataque, considerado um “terrorista” que “se fazia passar por jornalista”. 
O Sindicato de Jornalistas Palestinos condenou o que chamou de “crime sangrento”. A RSF declarou estar “horrorizada” com a morte dos profissionais e acrescentou que Anas al Sharif era “a voz do sofrimento imposto por Israel aos palestinos de Gaza”. De acordo com a RSF, cerca de 200 jornalistas foram mortos no enclave palestino desde o início da guerra, há 22 meses. 
O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos e o Catar, onde fica baseada a emissora Al Jazeera, também denunciaram um “ataque deliberado” de Israel contra uma tenda usada por uma equipe da Al Jazeera na Cidade de Gaza. Entre os mortos, cinco eram funcionários da emissora. 
Seis mortos em tenda da imprensa
Nesta segunda-feira, também foi confirmado o falecimento de Mohammed al Khaldi, um repórter fotográfico freelancer que colaborava ocasionalmente com mídias locais. Mohammed Abu Salmiya, diretor do hospital Al-Shifa, próximo de onde a tenda de imprensa estava montada, foi quem anunciou a morte do profissional.
O falecimento de Mohammed al Khaldi também foi confirmado pelo porta-voz da Defesa Civil da Faixa de Gaza, Mahmoud Bassal. “O fotojornalista Mohammed al Khaldi não resistiu aos ferimentos (…). Isso eleva para seis o número de vítimas desse ataque”, declarou à AFP. 
A Al Jazeera havia anunciado anteriormente as mortes de dois jornalistas e três cinegrafistas. Além de Anas al Sharif e Mohammed al Khaldi, os outros profissionais de imprensa mortos são: o repórter Mohammed Qreiqeh e os cinegrafistas Ibrahim Zaher, Mohammed Noufal e Moamen Aliwa. 
Com o bloqueio de Gaza, meios de comunicação de todo o mundo dependem da cobertura do conflito realizada por jornalistas palestinos. O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, anunciou um plano para autorizar que repórteres estrangeiros trabalhem dentro de Gaza acompanhados pelo Exército israelense, mas não definiu datas. 
A imprensa internacional não tem autorização para trabalhar livremente na Faixa de Gaza desde o início da guerra com o Hamas. Apenas alguns veículos selecionados puderam raramente entrar na região acompanhados por membros do Exército israelense. Ainda assim, a produção de reportagens sempre esteve sujeita à rígida censura militar. 
Funerais dos jornalistas da Al Jazeera
Os funerais dos cinco funcionários da emissora Al Jazeera ocorreram nesta segunda-feira no território palestino, ao mesmo tempo em que o governo israelense demonstra determinação em implementar um novo plano de operações no território palestino sitiado.
Dezenas de homens, alguns chorando e se consolando mutuamente, enterraram os corpos das vítimas nesta manhã no cemitério Cheikh Redouane, na Cidade de Gaza, segundo um videomaker da AFP. 
No local do ataque, um muro branco crivado de estilhaços, colchões sujos de sangue no chão e ventiladores retorcidos testemunhavam o impacto do ataque na tenda da imprensa.
Tentativa de Israel de silenciar vozes A Al Jazeera condenou “uma tentativa desesperada de silenciar as vozes que denunciam a ocupação” israelense. Segundo a emissora, dez de seus correspondentes foram mortos por Israel em Gaza desde o início da ofensiva, lançada em resposta ao ataque do grupo Hamas em 7 de outubro de 2023. 
Em suas últimas mensagens nas redes sociais, na noite de domingo, pouco antes de morrer, Anas al Sharif relatava bombardeios “intensos” e publicou um vídeo curto mostrando explosões durante a noite em Gaza. 
O Exército israelense afirma que Anas al Sharif “era líder de uma célula terrorista dentro do Hamas e responsável pela preparação de ataques com foguetes contra civis israelenses e tropas”. 
Israel publicou em suas redes sociais uma selfie do jornalista com líderes do Hamas, além de uma tabela que supostamente mostra nomes de membros do grupo, incluindo o nome do jornalista com salários correspondentes aos anos de 2013 e 2017. 
Em julho, o Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ) acusou o Exército israelense de conduzir “uma campanha de difamação” contra Anas al Sharif, e por apresentá-lo em mensagens online como membro do Hamas. 
A transmissão da Al Jazeera está proibida em Israel. Os escritórios locais da emissora foram fechados em maio de 2024.
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