Pesquisadores de Botucatu ganham destaque internacional com nova espécie de bagre da Amazônia


O cientista Gabriel de Souza, da Unesp de Botucatu, segura um exemplar da nova espécie de bagre; à direita, imagens dos exemplares pesquisados
Martin I. Taylor/ Silva et al. 2025/reprodução
Foi nas águas da bacia do alto rio Xingu (Amazonas) que o grupo de pesquisadores da Unesp de Botucatu (SP), liderados pelo pós-doutorando Gabriel de Souza da Costa e Silva e o cientista Claudio Oliveira, reconhecido mundialmente, descobriram uma espécie inédita que tornou mais rica a biodiversidade nacional e internacional.
A dupla, do Instituto de Biociências (IB) da Unesp de Botucatu (SP), publicaram em abril deste ano, em uma revista científica dos Estados Unidos, o resultado de décadas de pesquisa que apresentou a nova espécie de bagre, chamada Imparfinis arceae.
O estudo “Integrative Taxonomy Reveals a New Species of Imparfinis (Siluriformes: Heptapteridae) from the Upper Xingu River Basin”, publicado em abril na revista Ichthyology & Herpetology, detalhou a pesquisa que teve início em 2012, quando Claudio Oliveira, atual líder do Laboratório de Biologia e Genética de Peixes do IB-Unesp, participou de uma expedição no Mato Grosso.
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“Esse achado ressalta a relevância de preservar áreas que abrigam espécies com distribuição geograficamente restrita, especialmente em um contexto de crescente degradação ambiental. O sul da Amazônia, onde a espécie foi registrada, tem sido fortemente impactado pelo desmatamento e pela perda de habitats naturais, o que torna ainda mais urgente a implementação de estratégias de conservação eficazes”, alerta Gabriel, em entrevista ao g1.
Trajetória
Os dados levantados pelo cientista, em 2012, ficaram armazenados na coleção de peixes do Laboratório de Biologia de Peixes (LBP), em Botucatu. Apenas em 2022, o grupo liderado por Gabriel de Souza da Costa e Silva percebeu a peculiaridade que permitiu o avanço da pesquisa.
“Ao investigarmos a sistemática da família Heptapteridae, especialmente as espécies do gênero Imparfinis, percebemos que o exemplar coletado em 2012 apresentava uma coloração bastante distinta das demais espécies descritas para o gênero”, explicou o pesquisador Claudio ao g1.
Espécie Imparfinis arceae, descoberta por pesquisadores da Unesp de Botucatu (SP), é endêmica e exclusiva da bacia do alto rio Xingu
Silva et al. 2025/reprodução
Com isso, foi realizada uma aprofundada investigação, usando dados morfológicos e moleculares desses exemplares para testar a hipótese de que se tratava de uma espécie do peixe bagre que ainda não fora descrita para a ciência, nomeada Imparfinis arceae. O nome, segundo o pesquisador, é em homenagem à uma pesquisadora colombiana que trabalha na Academia de Ciências Naturais da Filadélfia, onde realizou parte do seu pós-doutorado.
No estudo, os pesquisadores apresentam as características físicas e genéticas da nova espécie, destacando as distinções em relação a outros exemplares do mesmo gênero Imparfinis. Eles indicam o grau de parentesco em comparação com as espécies já conhecidas. O sequenciamento de fragmento de DNA das diferentes espécies confirmou a hipótese. Confira detalhes da descoberta no vídeo abaixo.
“Existem espécies de bagres que apresentam uma faixa lateral escura, mas não são tão amplas como essa, o que despertou nossa desconfiança”, explicou Gabriel de Souza.
Pesquisadores de Botucatu ganham destaque internacional com nova espécie de bagre
Além disso, o pesquisador explica que os resultados indicam que a nova espécie é endêmica, ou seja, exclusiva da bacia do alto rio Xingu, o que preocupa os especialistas a respeito da preservação da área, que é muito afetada pelo desmatamento.
Para o cientista, reconhecido pelo ranking internacional da plataforma Research.com como um dos mais citados do mundo na área de Biologia e Bioquímica, a descoberta demonstra um protagonismo da Unesp como centro de excelência em pesquisas sobre biodiversidade neotropical. Esse protagonismo é ainda mais especial, segundo ele, na área de sistemática e evolução de peixes.
“Sempre quis trabalhar na área de pesquisa em biologia de peixes e a UNESP, através de sua infraestrutura e disponibilidade para pesquisa, foi fundamental para o desenvolvimento de nossos trabalhos”, finaliza.
Pesquisador de Botucatu (SP) reconhecido mundialmente lidera descoberta de bagre na Amazônia
Silva et al. 2025/reprodução
*Colaborou sob supervisão de Mário Policeno.
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