‘Sucessão de erros e negligência impediram reimplantação do dedo’, diz irmã de estudante ferida em escola de SP


Depoimento da irmã sobre adolescente de 12 anos que perdeu dedo após brincadeira em escola estadual da Zona Sul de São Paulo.
Reprodução/Redes Sociais
A irmã mais velha da aluna de 12 anos que teve o dedo decepado dentro de uma sala de aula na Escola Estadual Professor Flavio La Selva, no Jardim Ângela, Zona Sul de São Paulo, fez um desabafo nas redes sociais sobre o caso.
Segundo ela, devido à falta de preparo no encaminhamento da jovem para um hospital adequado na última quinta-feira (21), a menina não conseguiu reimplantar o dedo médio e precisou amputar parte do membro no Hospital Geral do M’Boi Mirim.
A família relatou que a escola enviou a menina para uma UBS levando parte do dedo em um copo, embora a unidade não tivesse condições de atender um caso de tamanha gravidade.
“Após o acidente, a equipe escolar não deu importância, achando que era apenas uma pancada leve. E a menina sofrendo com dor no chão. Quando descobriram que era alvo grave, sem preparo e espantadas com a gravidade da lesão, duas professoras levaram a menina para a UBS mais próxima (Santa Lúcia). Porém, em um caso dessa gravidade, o correto seria encaminhar a menina para um hospital de grande porte. Em caso de amputação, UBS e Ama não tem o suporte necessário para atender algo tão grave, a não ser fazer curativo e dar analgésicos”, afirmou.
“Com a sucessão de erros da escola, UBS e Ama, não houve mais tempo para a reimplantação do dedo médio. Isso impediu a reimplantação. Foi solicitado pelos médicos uma cirurgia para amputação da parte do dedo e fechamento da lesão”, contou Pasternack.
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Pasternack relatou ainda que a jovem foi atendida inicialmente em uma UBS e, em seguida, encaminhada para uma AMA. Somente depois disso foi solicitada a remoção para um hospital de emergência, por meio do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU).
“Na UBS ela recebeu analgésicos e foi encaminhada para a AMA (Guavirituba), onde novamente informaram que não havia suporte para tratar esse tipo de lesão. Realizaram limpeza e encaminharam para transferência do SAMU. Mas todos sabemos como demora esse tipo de atendimento. Com a demora, a família mesmo retirou a menina na AMA e enviou por conta própria ao Hospital Geral do M’Boi Mirim”, escreveu.
Segundo a irmã da estudante, ao chegar ao hospital a jovem recebeu a pulseira laranja, que indica atendimento de urgência, e teve a internação solicitada. O protocolo prevê que esse tipo de atendimento seja feito em até 60 minutos, mas a menina só deu entrada no hospital três horas depois.
“Os procedimentos foram realizados com sucesso, minha irmã se encontra bem, em repouso e seguindo todas as orientações médicas. Mas o que nos resta é o sentimento de indignação, desrespeito, negligência, descaso e falta de preparo para algo tão grave”, declarou a irmã da estudante.
Bea Pasternack se diz revoltada com a sucessão de negligências e descasos ocorridos no caso. A família acusa a escola de negligência e quer investigação profunda do caso.
“Minha irmã de apenas 12 anos e perdeu o dedo dentro da sala de aula, em um lugar que deveria ser seguro para ela. É revoltante ver uma criança sair da escola mutilada, por causa de uma suposta brincadeira. Isso é descaso, falta de cuidado, é negligência. Onde estava a supervisão? Onde estava a responsabilidade da escola em garantir a segurança dos alunos? Não dá pra aceitar que um acidente tão grave aconteça e tentem tratar como algo normal”, afirmou.
A avó da menina, Zenaide Pasternack, também usou as redes sociais para dizer que a escola estava sem supervisão no momento do ocorrido.
“O diretor nem estava presente. Levaram a menina para o postinho do Santa Lúcia com o dedo dentro de um copo”, disse.
“Não buscamos vitrine ou glamour como o ocorrido. Queremos apenas Justiça. Os danos são irreparáveis e irão interferir por toda a vida. Ressalto que o diretor não estava presente na escola e as crianças estavam sem supervisão”, afirmou a irmã da estudante.
O que diz a Seduc-SP
Escola Estadual Professor Flavio La Selva, localizada na Vila Santa Lúcia, região do Jardim Ângela, Zona Sul de São Paulo
Reprodução/Redes Sociais
Por meio de nota, a Secretaria Estadual da Educação (Seduc-SP) disse que “lamenta profundamente o ocorrido e informa que o acidente aconteceu no retorno do intervalo”.
“A Unidade Regional de Ensino Sul 2 lamenta profundamente o ocorrido e informa que o acidente aconteceu no retorno do intervalo. Imediatamente, a gestão da unidade escolar prestou os primeiros socorros e encaminhou a estudante para atendimento médico, acompanhada de um funcionário. Ela teve alta e está bem”, afirmou.
“Os responsáveis pelos alunos envolvidos foram comunicados para ciência dos fatos e aplicação das medidas disciplinares cabíveis. O caso foi inserido na Plataforma Conviva-SP, e um profissional do programa Psicólogo na Escola foi disponibilizado para atendimento na unidade”, completou a pasta.
A Secretaria da Educação também disse que “repudia qualquer ato de violência, dentro ou fora do ambiente escolar, e permanece à disposição para prestar todos os esclarecimentos necessários”.
O acidente
Uma aluna de 12 anos da Escola Estadual Professor Flavio La Selva, na Vila Santa Lúcia, região do Jardim Ângela, Zona Sul de São Paulo, teve o dedo médio decepado na última quinta-feira (21) durante uma suposta “brincadeira” entre colegas de turma.
O acidente aconteceu dentro da sala de aula, em um momento em que não havia professores ou funcionários acompanhando os alunos.
De acordo com funcionários da escola, a aluna do 7º ano teve o dedo preso na porta da sala, que foi fechada com força por outras colegas. A ponta do dedo se desprendeu imediatamente, causando pânico entre os estudantes que presenciaram a cena.
A menina foi levada ao hospital por uma professora que estava deixando a escola naquele momento: “Os alunos que estavam na sala ajudaram na limpeza do sangue, isso é inadmissível”, disse uma funcionária ouvida na condição de anonimato pela TV Globo.
A família da aluna teria sido informada por uma coordenadora que não estava presente no momento do acidente. O pai da estudante chegou a registrar um boletim de ocorrência, mas a reportagem ainda tenta falar com a família da jovem, que teve que passar por cirurgia.
O clima na escola é de consternação entre funcionários e colegas da estudante. Segundo relatos, a única providência tomada até agora foi uma conversa com os alunos sobre a gravidade do ocorrido.
“As crianças disseram que era uma brincadeira: o último a chegar ficaria para fora. No conflito, a porta fechou no dedo dela”, contou uma funcionária.
Os profissionais da escola narram que a direção da EE Flávio La Selva muitas vezes pede para os professores segurarem duas, três salas de aula ao mesmo tempo, em razão da falta de professores e outros profissionais na unidade.
“Não é a primeira vez que situações de incidentes e de violência acontece nesta escola e a direção nada faz. Eles sempre alegam que não se responsabilizarão por nada. De tanto isso ocorrer, uma situação trágica e triste ocorreu na escola”, defendeu uma funcionária.
O corpo docente da escola diz que é preciso mais rigor na punição dos estudantes envolvidos e o caso seja investigado com profundidade pela Secretaria da Educação (Seduc-SP), da gestão do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos).
“É preciso fornecer as câmeras da sala de aula para a família, para que eles saibam o que realmente ocorreu no local”, afirmou.
Em 2013, a escola já tinha sido alvo de uma reportagem do SPTV, da TV Globo, que já indicava a falta de professores na unidade (veja vídeo abaixo).
G1 vai mapear escolas sem professores em São Paulo
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