
Jovem com ‘pior dor do mundo’ diz que ainda sente dores após série de cirurgias e sedação
Carolina Arruda recebeu alta hospitalar nesta quinta-feira (21) após passar por uma nova etapa de tratamento contra a neuralgia do trigêmeo, condição conhecida como a “pior dor do mundo”. Ela estava internada na Santa Casa de Alfenas, no Sul de Minas, onde fez cirurgias e ficou em sedação profunda por quatro dias.
📲 Siga a página do g1 Sul de Minas no Instagram
Segundo o médico Carlos Marcelo de Barros, responsável pelo caso, não haverá novas intervenções. A equipe decidiu manter apenas os tratamentos já implantados, com foco em controle da dor e suporte à qualidade de vida.
Nos últimos dias, Carolina fez manutenção do tratamento da neuralgia do trigêmeo e passou por cirurgias, incluindo reposicionamento de eletrodos, reabastecimento da bomba de medicamentos e crioablação do nervo. Após os procedimentos, ficou em sedação profunda para infusão de cetamina e, embora se sentisse bem fisicamente, relatou que a dor persistia.
VEJA TAMBÉM:
Entenda nova etapa do tratamento de Carolina Arruda
‘Tudo igual’, diz Carolina após cirurgias e sedação profunda
Carolina Arruda, jovem com a ‘pior dor do mundo’, tem alta após nova série de procedimentos em Alfenas, MG
Reprodução / Redes sociais
‘Não vou tentar mais nada novo’
Ainda com dores, Carolina afirmou nesta quinta-feira (21), em vídeo publicado nas redes sociais, que não pretende passar por novas cirurgias ou procedimentos experimentais, mas continuará com as terapias já implantadas, como a bomba de fármacos e os eletrodos. A decisão foi endossada pelo médico responsável. Veja abaixo.
“Não tem próximo passo. […] Foram muitas cirurgias, foram muitas tentativas. Já não adianta mais, o nervo está lesionado, então, intervenção cirúrgica a gente não vai mais fazer. Isso não quer dizer que eu vou parar o tratamento. Eu vou continuar do mesmo jeito que eu estou hoje”, afirmou.
A jovem explicou que, apesar da dor persistente, o tratamento atual ao menos trouxe alguma estabilidade para a rotina dela – que era marcada por crises de dores excruciantes.
“Eu consegui ir pra faculdade, mesmo com as minhas limitações. De 10 vezes que eu ia no pronto-socorro, eu passei poucas vezes por mês. […] Não vou parar o tratamento, mas também não vou tentar mais nada novo, porque não existe mais”, disse.
“E sobre a eutanásia? Eu tô conversando com a minha advogada, as coisas estão caminhando como devem ser, eu ainda preciso de muito laudo, muito detalhe médico, muita tradução de documento, então é um processo demorado”, completou.
Na primeira fase do tratamento, Carolina Arruda fez tratamento com terapias adjuvantes, além de realizar implantes de eletrodos e bomba de fármacos
Arquivo pessoal/Carolina Arruda
Novas abordagens descartadas
O médico Carlos Marcelo de Barros afirmou que a decisão de não realizar novos procedimentos foi tomada após avaliação do histórico da paciente e do sofrimento causado por cada intervenção.
“Não serão feitas novas abordagens terapêuticas nem procedimentos experimentais. Vamos manter o que já existe, com ajustes de medicamentos, suporte psicológico e manutenção dos dispositivos implantados apenas quando necessário”, explicou.
Segundo o especialista, apesar do esforço terapêutico, o alívio obtido não foi suficiente para restabelecer qualidade de vida plena da paciente.
“A paciente permanecerá sob acompanhamento permanente da equipe, mas o foco agora é garantir conforto, segurança, dignidade e cuidado. A prioridade é respeitar a vontade dela e oferecer o melhor controle possível, sem submeter a riscos desnecessários”, concluiu.
Histórico do tratamento
Carolina Arruda convive com a neuralgia do trigêmeo bilateral há mais de uma década. A condição é caracterizada por crises súbitas e intensas de dor facial, geralmente descrita como choque elétrico ou facada, causada pela irritação ou compressão do nervo trigêmeo. O caso de Carolina é raro por ser bilateral, refratário e atípico, o que dificulta o controle da dor.
Em julho de 2024, Carolina foi convidada para o tratamento na Santa Casa de Alfenas após a repercussão de sua vaquinha online, na qual buscava recursos para realizar eutanásia na Suíça, país onde a prática é legalizada.
Na primeira consulta, o médico apresentou pelo menos quatro opções de tratamento. Ao longo do processo, ela se submeteu a dois deles: o implante de uma bomba intratecal para administração de fármacos e o implante de neuroestimuladores. Entenda mais abaixo.
Carolina Arruda tem neuralgia do trigêmeo e mostra nas redes sociais a rotina do tratamento na Santa Casa de Alfenas
Reprodução / Instagram
Pouco antes do implante dos neuroestimuladores, Carolina pediu alta temporária para visitar a família. Em entrevista ao g1, ela contou que a dor persistia, mas que a frequência e a duração das crises haviam diminuído.
Em 26 de julho, ela voltou para o hospital e recebeu, no dia seguinte, o implante dos neuroestimuladores: eletrodos para estimular o nervo e bloquear a transmissão da dor. Os dispositivos foram instalados na medula espinhal e no Gânglio de Gasser, origem facial do nervo trigêmeo.
No dia 17 de agosto, foi realizado o implante de uma bomba de medicamentos capaz de liberar os fármacos diretamente no sistema nervoso, reduzindo o trajeto até o ponto de dor. Inicialmente, ela recebeu morfina e depois fentanil.
Entenda como o bluetooth ajudou Carolina a controlar a dor disparando ‘impulsos bloqueadores’
Saiba o que é e como funciona a bomba de medicamentos usada por Carolina
Mesmo ainda enfrentando “dores incapacitantes”, Carolina recebeu alta hospitalar no fim de agosto de 2024. Na ocasião, a Santa Casa de Alfenas informou que no momento não havia nova proposta terapêutica e que seguiriam com os ajustes necessários das terapias já implantadas. Ainda segundo o hospital, o plano de tratamento poderia ser reavaliado caso houvesse melhora no quadro clínico e psicoemocional da paciente.
Jovem com a ‘pior dor do mundo’ passará por nova etapa de tratamento em Alfenas, MG
Nesta nova etapa do tratamento, Carolina Arruda deu entrada no hospital no dia 13 de agosto para a manutenção do tratamento, além de uma nova intervenção.
No dia seguinte, ela passou por cirurgias para reposicionamento de um dos eletrodos — dispositivo neuroestimulador que emite impulsos elétricos para reduzir a percepção da dor — e reabastecimento da bomba de infusão de medicamentos, que libera analgésicos de forma contínua.
Além disso, foi submetida à crioablação de um ramo do nervo trigêmeo direito, procedimento minimamente invasivo que utiliza temperaturas de até -70ºC para “congelar” o nervo responsável pela transmissão da dor. O método ainda tem sido testado para casos de neuralgia do trigêmeo.
Após as cirurgias, ela foi colocada em sedação profunda, que durou até domingo (17), para receber infusão de cetamina, substância usada em casos graves de dor crônica. Dois dias depois, em recuperação no quarto, Carolina disse que continuava com as mesmas dores.
Conforme a equipe médica, o quadro da jovem é considerado de alta complexidade devido à resistência da dor aos tratamentos convencionais.
“A Carolina ainda sofre muito com a dor. A gente não tem hoje perspectivas de novos e avançados tratamentos para ela. Acho que dentro da medicina praticamente já se esgotou. Existem possibilidades cirúrgicas, mas com riscos muito altos, que a própria paciente não quer se submeter a isso”, afirmou o médico Carlos Marcelo de Barros, em entrevista à EPTV, afiliada Globo.
Jovem com neuralgia do trigêmeo faz série de cirurgias em nova etapa do tratamento
Veja mais notícias da região no g1 Sul de Minas