
Dez idosos são resgatados de clínica clandestina em Araguari
Alimentação restrita a arroz, batata e mingau, separados do mundo por uma rampa sem acessibilidade. Essa era a vida dos dez idosos resgatados em situação de maus-tratos em uma casa que funcionava como clínica clandestina, localizada em uma área de chácaras às margens da BR-365, em Araguari, no Triângulo Mineiro.
As vítimas, que têm entre 57 e 91 anos, foram retiradas da clínica com subnutrição e a primeira coisa que pediram foi água, segundo a Secretária de Saúde de Araguari, Thereza Christina Griep.
“As condições eram muito precárias, muitos idosos não tinham nem documentação. Assim que chegamos eles nos pediram água. A instituição ainda estava em uma rampa que impedia que eles saíssem de lá e, se tentassem, poderiam se machucar”, contou a secretária.
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Alimentação restrita e problemas de saúde
Dez idosos foram resgatados de clínica clandestina em Minas Gerais
Secretaria de Saúde de Araguari/divulgação
O resgate aconteceu na quinta-feira (13), realizada pela Secretaria de Saúde de Araguari após solicitação do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), com apoio da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros. Durante a fiscalização, os idosos foram encontrados debilitados, desidratados e desnutridos.
A Vigilância Sanitária constatou que o imóvel não tinha condições de higiene nem de estrutura. Além disso, os medicamentos dos idosos eram armazenados de forma incorreta e não havia alimentos adequados em estoque.
Ninguém foi preso.
“Eles viviam basicamente a arroz, batata, batata-doce e mingau de maizena. Tinha remédios espalhados pela casa inteira, não tinha condição sanitária nenhuma, acessibilidade nenhuma e tinha uma rampa bem íngreme na casa”, ressaltou Thereza.
Segundo o nutricionista Lucas Castro, a alimentação restrita pode ter ainda desencadeado diversos problemas de saúde nesses idosos como diabetes, colesterol alto e gordura no fígado.
“Esses alimentos como batata, arroz e mingau são ricos em carboidratos e provocam a elevação do açúcar no sangue, favorecendo essas doenças. A falta de proteínas ainda acelera a perda de massa muscular, aumentando o risco de quedas, piora a cicatrização, perda da saúde cognitiva e imunidade enfraquecida”, explicou.
Dos dez idosos resgatados, quatro foram entregues às famílias. Os outros seis foram levados para o Hospital Padre Júlio Cezar Siqueira, em Araguari, onde recebem atendimento médico.
De acordo com a secretária, o estado de saúde deles é estável. Após a alta, eles serão transferidos para uma instituição de longa permanência em Uberlândia.
“Assim que eles chegaram nossos nutricionistas entraram com uma alimentação adequada e os encaminharam para diversos exames para que tivéssemos noção de quais problemas de saúde eles poderiam ter. Foi feita uma verdadeira força tarefa para receber esses pacientes que chegaram sem prontuários e sem documentos”, disse o diretor do hospital, Riberto de Sousa Júnior.
Ainda segundo Riberto, agora os pacientes estão estabilizados e em boas condições para serem transportados para Uberlândia.
O imóvel não tinha condições de higiene nem de estrutura, de acordo com a Vigilância Sanitária
Secretaria de Saúde de Araguari/divulgação
Clínica irregular foi descoberta após sequência de mortes
A morte de quatro idosos e o desaparecimento de outro, em um curto intervalo de tempo no mesmo endereço, levantou a suspeita de que algo estava errado.
“Morreu um, depois outro. Depois um desapareceu. Ele foi localizado em uma outra chácara. E depois faleceram dois no mesmo dia. Foi o que levou a Vigilância Sanitária de Uberlândia ao local”, explicou Thereza.
Inicialmente, a Vigilância Sanitária de Uberlândia assumiu a investigação e acionou o Ministério Público. Como a clínica clandestina ficava em Araguari, o caso foi repassado às autoridades do município, que realizaram o resgate das vítimas.
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À produção da TV Integração, o responsável pela clínica clandestina confirmou, por telefone, que não tem autorização para manter uma casa de repouso, mas negou ter maltratado os idosos. O homem disse ainda que o pagamento pelo cuidado dos internos era feito, em sua maioria, com os benefícios das vítimas.
Sobre o atendimento, ele afirmou que oferecia cinco refeições diárias e que administrava a medicação e as consultas dos idosos corretamente.
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