
Geólogo mostra como era feita a mineração de diamantes no passado
Stanley Matias/TV Integracão
Mesmo fincada sobre diamantes, Coromandel, no Alto Paranaíba, ainda não encontrou as duas principais rochas vulcânicas de onde suas duas maiores pedras preciosas saíram. Chamadas de “kimberlitos”, esses “mini vulcões” ficam debaixo do chão e levam os diamantes à superfície, de onde eles podem se espalhar.
É como se a natureza não quisesse revelar de quais pontos saíram os dois maiores diamantes do Brasil, o Getúlio Vargas (1938) e o achado em 2025. De acordo com o geólogo Daniel Fernandes, as fontes, caso encontradas, poderiam deixar qualquer um com uma riqueza inimaginável.
“Normalmente as pessoas nos contratam para localizar cascalhos que indicam a presença de diamantes, mas, se eu fosse o dono das terras, com certeza iria buscar por esses mini vulcões [kimberlitos] que realmente escondem a riqueza de Coromandel”, brincou o geólogo.
O processo, porém, não é fácil. De acordo com Daniel, para que isso ocorra uma área deve ser delimitada, observando metro a metro as características da natureza que indicariam ou não a presença da fonte dos diamantes.
“É impressionante, a natureza onde existem esses kimberlitos é super incrível, as plantas são muito verdes, em um tom escuro. Às vezes, tem uma área totalmente seca, mas ao redor dos mini vulcões a terra é produtiva”, contou.
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Kimberlitos, os ‘vulcõezinhos’ que dão diamantes
A formação da Terra favoreceu a região de Coromandel com pequenos vulcões chamados de “kimberlitos”, responsáveis por expelir os diamantes que se formaram no magma do planeta.
O mapa geológico de Minas Gerais deixa claro que a cidade está em uma das áreas diamantíferas do estado. (veja o infográfico abaixo)
Mas para entender como os mini vulcões escondem riqueza em forma de diamantes é preciso saber como as pedras se formam.
Os diamantes são gerados no manto da Terra, a grandes profundidades (entre 150 e 450 km), onde há muita pressão e temperatura. Nessas condições, o carbono se cristaliza em forma de diamante.
Com o movimento das placas tectônicas, parte do manto derrete e libera gases e substâncias voláteis, que fazem o magma subir rapidamente em direção à superfície. Esses canais por onde as substâncias passam são os mini vulcões, os kimberlitos.
Na subida, as substâncias carregam os diamantes como se fosse um elevador natural. Quando chega à superfície, acontece uma erupção explosiva, formando crateras em forma de funil chamadas “pipes de kimberlito”.
É dentro desses pipes que os diamantes ficam presos e, mais tarde, são encontrados pela mineração.
Coromandel e os kimberlitos
arte/g1
Riqueza à mostra
O g1 foi à cidade e descobriu um curioso costume: os moradores gostam tanto de diamantes que alguns andam com essas pedrinhas nos bolsos, quando não têm muito valor comercial. Os roubos são poucos – segundo a polícia e o prefeito. Foram três em 2024. E o PIB per capita, de R$ 54.911, é mais alto do que o da capital (R$ 41.818,32). Tudo organizado, com garimpeiros profissionais e fiscalização, o que deixa pouco espaço para aventureiros.
Andar com pequenos diamantes, de baixo valor, em vez de vendê-los, é motivo de orgulho para alguns habitantes, pois apesar de viverem na ”cidade dos diamantes” nem todos têm o privilégio de ter um deles para chamar de seu.
Pode parecer estranho, mas a situação é bem comum. Na visita à cidade, o g1 observou diversos momentos em que alguém mostrava pequenas gemas, como uma moradora que exibiu na palma da mão um dos dez diamantes que levava, guardados em meio a batom e outros itens de beleza. Veja o vídeo.
Conheça a cidade mineira onde os moradores andam com diamantes nos bolsos
O geólogo Daniel Fernandes registrou uma dessas cenas durante uma temporada na cidade para investigar essas terras, que produziram os três maiores diamantes do Brasil (leia mais abaixo). Ao procurar um açougue, encontrou grupo diferente.
Eles falavam alto, eram expansivos e mostravam, para quem quisesse ver, o que tinham nas mãos: diamantes.
“Eram cinco ao todo e estavam em uma caixinha comum para guardar essas gemas. Quando vi aquela cena, desci rápido do carro e corri para falar com eles. O grupo, que conhecia pelas redes sociais, me acolheu e fez questão de mostrar os diamantes que tinham ali.”, disse o geólogo.
Daniel filmou o momento, em 13 de julho. Nas imagens, o clima é de descontração entre as pessoas. Em uma balança, eles pesaram as gemas e comentaram sobre cada uma. Veja o vídeo acima.
Rio Douradinho, onde foi achado o 2º maior diamante do país, em maio de 2025; pequeno diamante achado em Coromandel e a igreja matriz de Sant’Ana
TV Integração/Reprodução
Atividade legalizada e segurança
Com menos de 30 mil habitantes, Coromandel está a cerca de 500 km de Belo Horizonte, e é uma das áreas autorizadas pela Agência Nacional de Mineração (ANM) a extrair diamantes brutos no país.
💎A EXPLORAÇÃO DE DIAMANTES em Coromandel segue a regulamentação da ANM e órgãos ambientais. A extração é feita por cerca de 80 empresas e cooperativas com Permissão de Lavra Garimpeira (PLG), em geral, em fazendas particulares. As pedras passam pela certificação Kimberley. (entenda abaixo).
Segundo o prefeito Fernando Breno, 2% da receita bruta da venda de diamantes ficam com o município, deduzidos os tributos já pagos sobre a comercialização, conforme a Compensação Financeira pela Exploração Mineral (CFEM).
Coromandel tem baixos índices de criminalidade, como diz o prefeito. “Aqui os índices de segurança são os mais seguros da região na relação habitantes e delitos, dados da própria PM. Temos também uma Gestão de Mobilidade Urbana e Segurança que auxilia nos trabalhos das forças de segurança”, afirma.
E os dados da Polícia Civil confirmam. Em 2024, apenas 3 roubos foram registrados em Coromandel. Não houve registro de sequestro, homicídio ou extorsão.
A exploração de diamantes em áreas autorizadas do Alto Paranaíba segue regulamentações específicas estabelecidas pela ANM e órgãos ambientais. Empresas e cooperativas que atuam na região precisam ser titulares de processos minerais ativos, como é o caso da Cooperativa de Pequenos e Médios Garimpeiros (Coopemg), que possui cinco Permissões de Lavra Garimpeira (PLGs) ativas e outras três em fase de análise.
Segundo a presidente da Coopemg, Denize Fernandes, muitos fazendeiros firmam contratos com cooperativas, cedendo parte de suas terras para a atividade. Para que o trabalho seja realizado, os garimpeiros se filiam à cooperativa, assinando um termo de direitos e deveres. Entre as exigências está a proibição de qualquer tipo de degradação ambiental durante a busca pelo minério.
Além disso, a ANM faz fiscalizações a cada seis meses. Somente com a vistoria em dia e as devidas autorizações é possível emitir o certificado Kimberley, documento necessário para exportar diamantes legalmente.
A presença de garimpeiros não autorizados, no entanto, tem sido motivo de alerta para autoridades e moradores locais. Conhecidos como “forasteiros”, esses indivíduos tentam atuar ilegalmente na região, driblando os procedimentos e colocando em risco o controle ambiental e a segurança das propriedades.
“Não queremos que vire uma nova Serra Pelada. Aqui tudo precisa de autorização da Coopemg e dos proprietários das fazendas. Só assim conseguimos manter a ordem e a legalidade”, afirmou Denize
Conforme a Coopemg e os fazendeiros, o acesso às áreas de garimpo é restrito, e alertas para os riscos da presença de pessoas não autorizadas nas frentes de exploração são feitos constantemente aos filiados.
E depois de encontrado o diamante, é preciso calcular o valor. Segundo Daniel Fernandes, o primeiro fator para definir o valor de um diamante é o peso em quilates
O preço resulta de fatores como transparência, pureza e cor – os diamantes existem em praticamente todas as cores do arco-íris, e algumas são mais valiosas que outras.
Maquinário usado no garimpo de grande processamento em Coromandel
TV Integração/Reprodução
O diamante mais recente
Segundo maior diamante do Brasil, achado em maio de 2025 em Coromandel
ANM/Divulgação
O diamante bruto de 646,78 quilates descoberto em Coromandel em maio foi avaliado em R$ 16 milhões. Ele é o segundo maior já encontrado em território brasileiro, segundo a Agência Nacional de Mineração (ANM).
O valor gerado por ele e que deverá ser pago ao Governo Federal e repassado de maneira integral para o Município está em torno de R$ 320 mil.
VEJA FOTOS DE COROMANDEL:
Como é a cidade de onde saíram os três maiores diamantes do Brasil
Diamante de mais de 500 quilates é encontrado em Coromandel
VÍDEOS: veja tudo sobre o Triângulo, Alto Paranaíba e Noroeste de Minas
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