
Na última terça-feira (12), a arquiteta Júlia Moraes embarcou em Paris para voltar ao Brasil após um giro pela Europa. Mas o retorno foi interrompido após ela passar mal no avião e ser deixada para atendimento médico no Senegal, fora da rota para o Rio de Janeiro — escala para casa, em Belém.
Começava ali, segundo Júlia, um pesadelo de 3 dias.
O voo da Air France, que saiu do Aeroporto Paris-Charles de Gaulle (CDG), na França, com destino ao Galeão (GIG), foi desviado emergencialmente para Dacar (DSS). Júlia foi tirada da aeronave, e o voo seguiu para o Rio sem ela.
Um especialista afirmou, porém, que nesse caso a companhia aérea agiu conforme a legislação (entenda abaixo).
Flight Radar mostra o desvio que o voo precisou fazer
Reprodução/Flight Radar
Júlia lembra de dores abdominais e disse que chegou a vomitar sangue.
“Eu fui retirada do avião e acordei em uma enfermaria dentro do Aeroporto Blaise-Diagne. Após me medicarem com um soro, eu estava completamente vulnerável física e psicologicamente”, escreveu Júlia.
A arquiteta fez críticas à conduta da companhia aérea. Segundo ela, não houve qualquer registro formal da chegada dela a Dacar.
“Ao acordar completamente desorientada, fui informada que se eu quisesse ir a um hospital ou hotel eu teria que arcar com os custos e que se eu quisesse retornar para o Brasil, eu também teria que comprar uma nova passagem. Eu tinha seguro-viagem, porém fui informada que essa situação não estava coberta”, afirmou.
Sem recursos, Júlia disse que dormiu nas cadeiras do terminal. “Estou aqui desde o dia 12 contando com a solidariedade apenas dos funcionários do aeroporto”, afirmou.
A família conseguiu comprar uma passagem de volta por R$ 15 mil, mas, ao tentar fazer o check-in no balcão da Air France, ela foi informada que o bilhete havia sido cancelado após um dia inteiro de espera, sem comida e sem água.
Um novo bilhete foi expedido, agora com a TAP, para Belém do Pará, parando em Lisboa. Júlia embarcou para casa na madrugada de sexta (15), no horário local, mas ela conta que teve problemas com a imigração do Senegal.
“Não teve registro de que estive aqui em Dacar. As autoridades não foram informadas. Se não fosse a Embaixada do Brasil, eu com certeza não teria embarcado”, disse.
O g1 também procurou a Air France no início da tarde de quinta, mas não obteve retorno até a última atualização desta reportagem.
A arquiteta Júlia Moraes
Reprodução
O que dizem os direitos do consumidor?
De acordo como advogado Gabriel de Britto Silva, especialista em direito do consumidor, a companhia aérea não tem responsabilidade legal sobre um passageiro a partir do momento em que é deixado com as autoridades médicas do aeroporto, mas precisa avisar o contato de emergência indicado no momento da compra da passagem.
“Considerando a urgência do mal-estar da passageira, sem que fosse possível aguardar a chegada ao Brasil para atendimento médico emergencial, o voo foi redirecionado para o aeroporto mais próximo, a fim de preservar a vida dela”, explicou.
“Após a aterrisagem, ao seguir para os cuidados médicos, a passageira passa a ficar sob a responsabilidade médica local. A empresa só tem o dever de avisar ao contato de emergência”, explicou.
Segundo ele, a companhia aérea também não precisa permanecer com a aeronave no solo até a alta nem providenciar o retorno posterior, “considerando que o acontecimento em questão é estranho e externo, sem vínculo com o negócio em si”. “Se esse problema médico, por exemplo, tivesse ocorrido antes do embarque, a passageira sequer teria embarcado.”
A arquiteta Júlia Moraes
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