
Ex-funcionário de empresa onde houve explosão fala sobre a rotina no lugar
Carlos Evandro Teixeira, morador de Campina Grande do Sul, na Região Metropolitana de Curitiba (RMC), foi demitido um dia antes da explosão na fábrica de explosivos da Enaex Brasil, que deixou nove mortos e sete feridos na terça-feira (12), em Quatro Barras, também na RMC.
Carlos era líder de manutenção na fábrica e conhecia a rotina de cada setor. Segundo ele, a oração fazia parte de toda troca de turno dos funcionários. A delegada que investiga o caso afirma que os funcionários atingidos se reuniram para uma oração minutos antes da explosão.
O ex-funcionário conta que se sentiu preocupado depois da demissão.
“Eu vejo que foi um ciclo que se iniciou e chegou ao fim, como tudo na vida. E na hora eu falei com Deus: ‘E agora? Minha esposa grávida, como que eu vou fazer? Tá quase ganhando neném’. Daí, infelizmente, essa tragédia no outro dia. Eu senti que foi Deus me falando: ‘Eu estou cuidando de você’ […] Eu sei que Deus me livrou […] Eu fico triste pela situação, pelas famílias, pelos filhos, pelos pais, quem ficou vai sofrer muito por isso”, lamentou.
✅ Clique aqui para seguir o canal do g1 PR no WhatsApp
Carlos explicou que, antes de iniciar a produção, havia um minuto dedicado ao Diálogo Diário de Segurança (DDS), que durava de 10 a 15 minutos.
Durante esse tempo, eram discutidos cuidados de segurança e procedimentos necessários, de forma que se tornassem automáticos para os trabalhadores. Depois, iniciavam uma oração.
“Geralmente, a oração era um Pai Nosso, agradecendo pelo dia, por testar ali, pedindo para que no outro dia a gente conseguisse estar ali. Conseguisse vencer aquele dia”, compartilhou.
Carlos Evandro Teixeira, ex-funcionário da Enaex Brasil
Reprodução/RPC
O ex-funcionário lembra que o local onde houve a explosão havia passado recentemente por modernização, com máquinas automatizadas. Ele diz ainda que o explosivo presente no setor era muito potente.
A explosão destruiu a área de 25 metros quadrados onde estavam os operadores. No lugar, ficou uma cratera.
“Isso tudo era analisado, tudo foi feito, estava tudo certo. Foi uma tragédia que não temos respostas […] Infelizmente tem pessoas que não vão voltar para casa. Não vão ver mais seus filhos, não vão poder mais retornar ao lar”, falou.
Explosão em fábrica de explosivos: o que se sabe e o que falta esclarecer sobre o caso
Imagens internas da empresa Enaex
Reprodução
Sobre a explosão
A explosão aconteceu por volta das 5h50 da manhã de terça, em uma área de 25 metros quadrados que armazena material explosivo produzido pela fábrica. No momento do acidente, os materiais estavam sendo preparados para transporte.
Não há informações sobre o que causou a explosão.
Segundo o secretário de segurança pública do Paraná, Hudson Teixeira, a força da explosão fragmentou os corpos, tornando necessário o exame de DNA para comparação com material coletado das famílias.
Na noite de quarta-feira (13), os governos de São Paulo, Rio Grande do Sul e Santa Catarina confirmaram que irão auxiliar a Polícia Científica do Paraná na identificação das vítimas.
Com o apoio dos dois estados, segundo o secretário, o prazo para a conclusão da identificação pode cair de 30 para 10 dias.
Mais sobre o caso:
Imagens mostram estragos em fábrica de explosivos
Moradores de oito cidades sentiram explosão em fábrica
Impacto da explosão causou interdição de empresas
Delegada diz que vítimas se reuniram para fazer oração pouco antes de explosão
Ainda de acordo com Teixeira, o Paraná tem capacidade técnica para realizar todos os exames, mas pediu apoio para agilizar os resultados.
As causas do acidente estão sendo investigadas pela Polícia Civil (PC-PR) e pelo Ministério Público do Trabalho no Paraná (MPT-PR).
Vítimas
Vítimas de explosão em fábrica de explosivos no Paraná.
Redes Sociais
As identidades dos nove funcionários foram divulgadas pela empresa. Todos eles trabalhavam na função de operadores. Veja quem eram:
Simeão Pires Machado
Roberto dos Santos Kuhnen
Pablo Correa dos Santos
Marcio Nascimento de Andrade
Jessica Aparecida Alves Pires
Francieli Gonçalves de Oliveira
Eduardo Silveira de Paula
Cleberson Arruda Correa
Camila de Almeida Pinheiro
Moradores de pelo menos oito cidades relataram ter sentido o impacto da explosão: Quatro Barras, Curitiba, Piraquara, Pinhais, Bocaiúva do Sul, Campina Grande do Sul, Colombo e São José dos Pinhais.
Os moradores que tiveram algum dano a propriedades após a explosão na fábrica podem encaminhar uma solicitação pelo e-mail: [email protected].
O que diz a Enaex Brasil
Em nova nota divulgada na quarta, a Enaex Brasil lamentou o caso e informou que presta cuidados aos familiares das vítimas, oferecendo apoio integral.
“Desde o início, nossas equipes técnicas estão presentes no local, trabalhando em conjunto com especialistas independentes que auxiliam nas investigações. Em coordenação com as autoridades, está sendo elaborado um relatório técnico sobre o ocorrido. Esse processo, por sua natureza minuciosa e complexa, pode levar algumas semanas para ser concluído”.
Ainda conforme a nota, durante as investigações, o acesso ao local está restrito a órgãos de segurança e especialistas.
Disse ainda que as gravações das câmeras de segurança foram entregues às autoridades competentes para análise e atualmente estão sob sua custódia.
Grande potencial destrutivo
Espécie de cratera foi formada onde aconteceu a explosão.
Corpo de Bombeiros
De acordo com o Comandante-Geral do Corpo de Bombeiros Militar, Antonio Geraldo Hiller Lino, o material que provocou a explosão possui grande potencial destrutivo e ficou espalhado pelo terreno da fábrica, permanecendo dentro de invólucros. O material é analisado por especialistas do Esquadrão Anti-bombas de Curitiba.
O comandante ainda afirmou que a empresa estava regular em relação às normas de segurança contra incêndio, pânico e desastres do Corpo de Bombeiros.
Prefeitura diz que empresa possui licenças
Em nota, a prefeitura de Quatro Barras informou que a empresa Enaex possui todas as licenças necessárias para o funcionamento, incluindo alvará e localização em conformidade com as exigências legais.
“A empresa Enaex está instalada no município há mais de 50 anos, segue rigorosamente todos os protocolos de segurança e é uma das unidades fabris que mais gera empregos no município”, diz a nota.
A prefeitura também disse que a diretoria da indústria se colocou à disposição para reparar todos os danos gerados à população, bem como prestar “total suporte” aos trabalhadores e suas famílias, e que equipes da Defesa Civil de Quatro Barras estão fazendo o levantamento de sinistros e danos a residências, comércios e edificações nas áreas do entorno.
Vídeos mais assistidos do g1 Paraná:
Leia mais notícias em g1 Paraná.