Painel icônico de muralista modernista mineiro sofreu alteração misteriosa entre década de 60 e 1974


Montagem mostra imagem atual do painel “Abstrato”, de Mário Silésio, e imagem do período de sua inauguração, no antigo prédio do Detran de BH
Camila Soares-MPMG/Revista Arquitetura e Engenharia-Reprodução
O icônico painel “Abstrato”, de 1959, feito pelo muralista modernista mineiro Mário Silésio, sofreu uma alteração misteriosa entre a década de 1960 e 1974. A descoberta só foi possível graças à restauração da obra, que fica no antigo prédio do Detran de Belo Horizonte, no Centro da cidade, e foi reinaugurada na última segunda-feira (4) (veja mais fotos ao fim da reportagem).
O mural, na fachada do prédio que hoje abriga a Corregedoria da Polícia Civil, ficou por 13 anos escondido atrás de tapumes. O restauro foi orçado em R$ 1,2 milhão. A obra tem 13 metros de largura por 2 metros de altura e é composto por 630 peças cerâmicas.
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A professora do curso de conservação e restauração da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Alessandra Rosado, que coordenou o trabalho de recuperação do painel, foi quem identificou a alteração na obra original.
Como mudança foi descoberta
A partir de imagens de uma revista de arquitetura da década de 1960, época da inauguração da “Abstrato”, a professora identificou que traços, principalmente do centro do painel, estavam diferentes da obra que ela estava restaurando. Faixas laterais também apresentaram alterações.
“A primeira coisa que me chamou atenção, quando eu vi a imagem, foi a área central ali do painel […], que não tem uma faixa central como tem ali. Ela tinha duas faixas mais finas. É interessante que parece até aquele ‘jogo dos sete erros’ – é mais um pouco do que sete erros né?”, contou a professora.
Na última semana, a professora de história da UFMG Rita Lajes encontrou uma notícia do Jornal do Brasil de 1974 em que o painel já aparece com a alteração.
Ainda não se sabe quando ou por que a modificação foi feita, nem se foi uma mudança feita ou proposta pelo próprio Mário Silésio. Agora os restauradores agora pretendem investigar esse trecho da história da obra.
Painel abstrato, na fachada da Polícia Civil de BH, é restaurado
Restauro com bisturi, estetoscópio e argamassa
Para recompor o painel, os restauradores fizeram testes com diferentes argamassas e utilizaram fotogrametria para criar modelos tridimensionais da obra. Essa tecnologia permitiu detalhar falhas e orientar intervenções fora do local original.
O processo também contou com o uso de bisturis e estiletes para retirar 72 cerâmicas que estavam se desprendendo, além da aplicação de argamassa com sondas médicas e seringas para preservar as junções da obra. Foi usado, ainda, um estetoscópio para identificar as lajotas com fargilidade na adesão.
O restauro foi realizado por uma equipe multidisciplinar, com a participação do Centro de Conservação e Restauração da UFMG, e envolveu técnicas inovadoras para recompor a integridade da obra.
“Esse painel tem um papel central aqui nessa região da Avenida João Pinheiro. Ele é um bem integrado a uma construção arquitetônica modernista, obra do arquiteto Hélio Ferreira Pinto”, explicou a historiadora Rita Lages Rodrigues.
“Ele [o painel] tem uma relação intrínseca com a arquitetura modernista da edificação, com o chamado antigo prédio do Detran aqui em Belo Horizonte.”
A restauração foi uma iniciativa do programa Minas para Sempre, promovido pelo Ministério Público de Minas Gerais, por meio da plataforma Semente, em parceria com a Polícia Civil e o Centro de Conservação e Restauração da UFMG.
Painel do artista mineiro Mário Silésio, na Avenida João Pinheiro, em imagem da década de 1960, ainda sem a alteração identificada no restauro
Reprodução/Revista Arquitetura e Engenharia
Restauração do painel do artista mineiro Mário Silésio.
Fábio Venâncio/TV Globo
Painel do artista mineiro Mario Silésio.
Fábio Venâncio/TV Globo
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