O que se sabe sobre caso de casal morto em abordagem da Polícia Militar em João Pessoa


À esquerda, Guilherme Pereira, e no lado direito da imagem, Ana Luiza
TV Cabo Branco
O caso dos jovens Guilherme Pereira e Ana Luiza, que estavam a bordo de uma moto que se chocou com um poste no bairro de Muçumagro em novembro de 2024 e inicialmente a polícia considerou o caso como acidente de trânsito, ganhou novidades nos últimos dias, com a revelação de um laudo pericial e do relatório da Polícia Civil que indiciou um policial militar por disparo que matou o condutor do veículo.
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O g1 separou as principais informações sobre o inquérito e as investigações que são tratados como concluídos pela Polícia Civil.
O que dizem os laudos
O relatório da delegada
O que argumenta a família
A versão dos investigadores e das corporações
Polícia não indiciou outros policiais que estavam na abordagem
Quais os próximos passos
1. O que dizem os laudos
Relatório da Polícia Civil mostra marcas compatíveis com perfuração por projétil de arma de fogo no capacete da vítima
IPC
O g1 teve acesso a três documentos da Polícia Civil que detalham os laudos feitos nos corpos de Guilherme Pereira e Ana Luiza, além do relatório da delegada do caso, Luísa Correia, que pede o indiciamento de um policial militar.
No laudo de Guilherme Pereira, que conduzia a moto naquele dia, o documento aponta que o cadáver do jovem apresenta perfuração transfixante no crânio resultante de tiro de arma de fogo, ou seja, o jovem foi atingido com um tiro na cabeça. O documento constatou que a bala entrou pelo lado esquerdo da cabeça da vítima e saiu no lado direito.
Para chegar na conclusão do laudo, os peritos analisaram não somente o corpo do jovem, mas também fizeram análises no capacete utilizado por Guilherme enquanto pilotava a moto. Nessas análises, conforme o documento, houve a constatação de que o capacete também foi perfurado pelo projétil.
Em relação ao laudo de Ana Luiza, a outra jovem que morreu com o acidente, o laudo que a reportagem teve acesso constatou que uma pancada forte na cabeça foi a causa da morte. Conforme o documento, “nenhum elemento de munição ou fragmentos de munição” foram encontrados no corpo da mulher.
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2. O relatório da delegada
O g1 também teve acesso ao relatório da delegada Luísa Correia. No documento, ela indicou o policial militar Tiago Almeida Filho. Ela afirma no relatório que “o policial efetuou o disparo de arma de fogo que atingiu o jovem na cabeça e provocou a colisão da moto”.
Em se tratando da arma e munição utilizadas durante essa abordagem, a delegada apontou que a munição que atingiu o jovem era “similar a utilizada em fuzis” da PMPB. Dois dos policiais disseram, em depoimento para a polícia, que portavam fuzis durante a ação.
No indiciamento, foi informado que policiais militares que participaram da ronda que seguiu a moto dos jovens em novembro de 2024 tiveram pedido protocolado junto ao Comando da Polícia Militar para verificação das armas utilizadas naquele dia.
O depoimento dos policiais militares foi colhido pela Polícia Civil e todos os agentes negaram, nos autos, terem atirado contra o jovem, inclusive o que foi indiciado.
O policial militar foi indiciado por duplo homicídio qualificado consumado contra os dois jovens.
3 . O que diz a família
Imagens de circuito de segurança mostram momento em que moto atinge poste
TV Cabo Branco/Reprodução
O pai de Ana Luiza, Joselito Pereira, afirmou em entrevista para a TV Cabo Branco que antes de ter o laudo em mãos após a exumação dos corpos dos jovens, achava que Guilherme Pereira foi morto a tiros.
“Guilherme teve o disparo de arma de fogo, onde a gente viu as fotos, muito estrago na cabeça dele. Consequentemente, a minha filha também foi vítima, né, devido a estar com Guilherme e dependia dele”, disse ele.
A mãe de Ana Luiza também disse que acreditava que o jovem tinha sofrido tiros e, por isso, bateu na moto e morreu.
“Um alívio para nós a família chegar a conclusão, a gente já sabia que tinha sido um tiro, a gente só estava precisando de confirmação técnica. E a justiça vai ser feita agora”, opinou.
4. A versão do investigado e das corporações
Polícia Civil e Polícia Científica realizou coletiva de imprensa nesta quinta-feira (24)
TV Cabo Branco/Ewerton Correia
Uma coletiva da Polícia Civil foi convocada para a última quinta-feira (23), onde divesas autoridades participaram e explicaram os pontos da investigação do caso. O Instituto de Polícia Científica (IPC) afirmou que, inicialmente, a colisão com o poste e a narrativa de acidente de trânsito por parte da polícia e do Samu, dificultaram a identificação de um disparo de arma de fogo que matou Guilherme Pereira.
Segundo a Polícia Científica, o impacto da colisão acabou mascarando as marcas do tiro, o que impediu a correta identificação da causa da morte.
A diretora do IPC, Raquel Azevedo, afirmou que, quando a perícia chegou, encontrou um local de crime que não estava preservado; os capacetes já haviam sido retirados das cabeças e não foi encontrado projétil. Com a narrativa de acidente de trânsito, o perito decidiu não passar no scanner.
Em contato com o g1, o advogado de Tiago Almeida Filho, PM investigado pelo crime, disse não ter recebido o relatório de indiciamento e, por isso, vão emitir um posicionamento somente quando tiverem o inquérito em mãos.
A Corregedoria da Polícia Militar informou que não tomou conhecimento oficial dos laudos e também do indiciamento do agente da corporação, mas que mesmo assim já abriu uma investigação interna em caráter preliminar sobre o caso. A Corregedoria também informou que orientou a transferência do PM indiciado do setor operacional para a área administrativa.
5. Polícia não indiciou outros policiais que estavam na abordagem
No dia do crime, quatro policiais participaram da ocorrência, mas apenas um deles, Tiago Almeida Filho, foi indiciado. A delegada Luisa Corrêa afirmou que, nos autos do inquérito, não foi possível identificar indícios de crimes cometidos pelos outros agentes, razão pela qual eles não foram indiciados.
Segundo o superintendente da Polícia Civil de João Pessoa, Cristiano Santana, caso surjam novas informações que apontem para irregularidades na conduta dos demais policiais, eles poderão ser responsabilizados.
Cristiano Santana também destacou que, durante o inquérito, uma testemunha relatou ter ouvido um disparo de arma de fogo, o que foi determinante para que o caso passasse a ser investigado como homicídio. Ele negou que os capacetes das vítimas tenham sido extraviados inicialmente e afirmou que foram realizados exames preliminares e definitivos nos equipamentos.
6. Quais os próximos passos
A Polícia Civil informou que considera o inquérito encerrado, uma vez que houve o indiciamento de um suspeito. Nesse caso, o indiciamento é enviado para a Justiça e um juíz decide pela prisão ou não do investigado.
Com o término do inquérito e o indiciamento do policial militar, o Ministério Público da Paraíba (MPPB) vai receber os documentos da investigação e, a partir de análise, oferecer denúncia ou não em relação ao policial Tiago Almeida Filho.
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