Execução de morador de rua com fuzil por policiais ‘envergonha muito’ e ‘viola todos os valores da instituição’, diz porta-voz da PM-SP


Dois PMs são presos acusados de executar homem em situação de rua já rendido em SP
O porta-voz da Polícia Militar de São Paulo classificou como “inaceitável” e “vergonhosa” a conduta de dois policiais militares que foram presos por executarem, com três tiros de fuzil, um morador de rua já rendido, no Centro de São Paulo.
Conforme a TV Globo e o g1 mostraram com exclusividade, o crime ocorreu no dia 13 de junho sob o Viaduto 25 de Março, no bairro do Brás. Inicialmente, os policiais envolvidos narraram que a vítima, identificada como Jefferson de Souza, de 24 anos, havia tentado tirar a arma de um deles antes de ser baleado.
No entanto, investigações da própria Corregedoria da Polícia Militar constataram que a versão narrada pelo tenente Alan Wallace dos Santos Moreira, de 25 anos, e o soldado Danilo Gehring, de 24 – ambos da Força Tática – não era verdadeira. O g1 tenta localizar a defesa dos policiais.
De acordo com o coronel Emerson Massera, chefe do Centro de Comunicação Social da PM, as imagens desmentem a versão dos policiais e mostram que a vítima já estava rendida.
“O vídeo [das câmeras corporais] contraria completamente a versão apresentada pelos policiais. Ele [a vítima] estava tranquilo, conversando com os policiais e, do nada, o tenente efetua três disparos de fuzil contra essa pessoa”, afirmou.
Para ele, o episódio “envergonha” a corporação.
É uma ocorrência sem nenhum tipo de respaldo jurídico. Evidentemente, nos envergonha muito. Viola todos os valores da instituição, inclusive da legalidade.
A Justiça paulista determinou a prisão dos dois policiais na terça-feira (22). Alan Wallace e Danilo Gehring foram presos pela própria corporação e levados ao Presídio Militar Romão Gomes, na Zona Leste de São Paulo.
Segundo a investigação da PM, Jefferson, que era de Alagoas, foi levado a um local escuro e isolado e executado com três tiros de fuzil, mesmo estando desarmado, de costas e com as mãos para trás.
Os tiros foram disparados pelo tenente Alan Wallace, mas as gravações das câmeras corporais indicaram que o soldado Danilo Gehring tentou tampar a lente da câmera para encobrir o crime. Mesmo assim, parte das imagens foi preservada.
PMs da Força Tática são presos por matar morador de rua no Viaduto 25 de Março, no Centro de SP
Reprodução/TV Globo
‘Sadismo e desprezo pelo ser humano’
O coronel Emerson Massera, chefe do Centro de Comunicação Social da Polícia Militar de São Paulo.
Reprodução/TV Globo
Na decisão em que determinou a prisão dos agentes, a juíza responsável pelo caso afirmou que os dois policiais “agiram impelidos por motivo torpe, deliberando matar o suspeito por mero sadismo e de modo a revelar absoluto desprezo pelo ser humano e pela condição da vítima, pessoa em situação de vulnerabilidade social”.
“O homicídio foi cometido com emprego de recurso que impossibilitou a defesa da vítima, a qual já estava rendida e subjugada pela guarnição no momento que foi repentinamente alvejada com três disparos de arma de fogo de alto calibre, um deles na cabeça, sem que pudesse esboçar qualquer reação”, disse Patrícia Álvares Cruz, da 4ª Vara do Júri, na Barra Funda.
Na sentença, a juíza destacou que Alan Walace “de forma surpreendente, efetuou três disparos de fuzil contra a vítima, atingindo-a na cabeça, na lateral do tórax e no braço direito”.
Ela afirmou ainda que o colega de patrulhamento, Danilo Gehring, “aderiu ao propósito homicida de seu colega de farda, na medida que interrompeu o algemamento do suspeito e colocou a mão sobre a lente da câmera corporal no momento dos disparos efetuados por seu comparsa, justamente com a finalidade de obstruir o registro da ocorrência de execução sumária da vítima”.
De acordo com a Secretaria Estadual da Segurança Pública (SSP), de janeiro a maio deste ano foram registradas 299 mortes em decorrência de intervenções policiais no estado de São Paulo. Quase duas por dia.
No ano passado, no mesmo período, foram 311. Já do ano de 2023 pra cá, 517 policiais militares foram presos e outros 351 demitidos ou expulsos da corporação.
Polícia mata sem-teto a tiros de fuzil
Prédio do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) no Centro de São Paulo.
Divulgação/SSP
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