
Donos de comércios tradicionais têm perda total após incêndio no Mercadão de Piracicaba
Doze horas após o incêndio que destruiu parte do Mercado Municipal de Piracicaba (SP), na madrugada de quarta-feira (23), os rastros da destruição no patrimônio histórico eram evidentes não apenas nos escombros sendo retirados sob os olhares de uma multidão, mas também no ar.
O cheiro de fumaça espalhou-se por vários quarteirões da região central da cidade durante o dia. Focos do incêndio ainda eram combatidos na noite de quarta-feira — resquícios persistentes de um fogo que, segundo testemunhas, se alastrou em poucos minutos após começar.
“Fui o segundo a chegar. Eu cheguei aqui eram 2h15, junto com o bombeiro. O segurança [do Mercadão] me ligou e eu vim rápido. Mas o que eu ia fazer? [O incêndio] já estava no teto, já estava queimando o madeiramento”, contou o comerciante Francisco Pandolfi, dono de uma pastelaria no Mercadão há 53 anos.
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O também comerciante José Nerval Pandolfi, que há 24 anos mantém um comércio de frios, latarias e massas caseiras, chegou logo depois.
“O pessoal que estava aqui de madrugada já me acionou. Eu cheguei por volta de 3h da manhã, mas já estava tudo tomado. Os bombeiros já estavam jogando água nas chamas”, relembrou.
Dona de uma tabacaria no local há quase 40 anos, Renata Packer chegou por volta das 3h30. Inicialmente, acreditou que o incêndio fosse de pequenas proporções.
“A administração [do Mercadão] ligou dizendo que o mercado estava pegando fogo, e que era pra gente vir pra cá. No início, achei que fosse um foco pequeno. Peguei a chave e falei: ‘vou porque às vezes precisa tirar alguma coisa’. Mas, quando a gente chegou, já estava tudo consumido”, contou.
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Cenário alterado
O trabalho de remoção dos escombros atraiu uma multidão à frente do Mercadão durante toda a quarta-feira. Pessoas filmavam, conversavam sobre o ocorrido e também reclamavam do cheiro forte de fumaça, que continuava se espalhando pelo local e pela região central.
A atendente de restaurante Maria Eduarda, de 20 anos, comentou sobre os efeitos nas proximidades, e lembrou que o Centro de Especialidades Médicas, conhecido como Postão, localizado atrás do Mercadão, estava em funcionamento naquele dia.
“Tá bastante no ar ainda [o cheiro de fumaça], né? Inclusive o pessoal do Postão falou bastante disso.”
Trabalho de rescaldo em incêndio no Mercadão de Piracicaba
Rodrigo Pereira/ g1
Frequentadores antigos também compareceram para entender a dimensão dos estragos. O jardineiro Ramiro Pereira relatou que frequenta o Mercadão há mais de 30 anos.
“Trabalhei 10 anos na Boyes [fábrica desativada da cidade]. Todo dia eu passava aqui pra tomar café. E a gente continua vindo. De vez em quando, a gente aparece aqui durante a semana. Muitos colegas nossos frequentam também”, contou.
Maria Eduarda, que frequenta o local desde criança, lamentou a tragédia.
“Aqui é um ponto turístico da cidade, né? Eu venho bastante. É uma pena essa tragédia acontecer, especialmente por causa das pessoas que lutaram pra ter um cantinho. E aí vem uma tragédia dessas”, disse.
Parte ao lado da Rua Dom Pedro I pegou fogo
Wesley Almeida/EPTV
Queda no movimento
Apesar do alto fluxo de pedestres, o trânsito de veículos foi impactado pela interdição parcial da Rua Governador Pedro de Toledo — no trecho que passa pelo Mercadão — para os trabalhos de limpeza. A medida afetou o movimento de empresas nas imediações.
Rubens Bacchini, manobrista em um estacionamento próximo, relatou que, até o meio-dia, dez horas após o incêndio, o local onde trabalha não havia registrado movimento.
“Depois, liberaram o trânsito, aí começou a voltar um pouco. Mas mesmo assim está muito fraco. A essa hora já era pra ter de 80 a 90 carros. Não entraram nem 30 hoje”, detalhou.
Para ele, a queda no movimento não se deve apenas ao bloqueio viário.
“Muita gente vinha comprar no Mercadão. Aqui, quase 80% do movimento é por causa do mercado. Tem o posto de saúde e o laboratório que faz exames de sangue, mas o forte mesmo é o mercado. Vai ter impacto para todo mundo, não só pra gente aqui do estacionamento, mas também para os restaurantes e lojas”, avaliou.
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