
Delegacia de Defesa da Mulher (DDM) de Avaré (SP)
Reprodução/Polícia Civil
O número de casos de estupro registrados entre janeiro e maio em Avaré (SP) dobrou em 2025, na comparação com o mesmo período de 2024, segundo os dados da Secretaria de Segurança Pública (SSP). No ano passado, foram 18 ocorrências, todas classificadas como estupro de vulnerável. Neste ano, o total subiu para 36 casos, sendo 25 estupros de vulnerável e 11 estupros.
No caso mais recente, um homem condenado a 20 anos de prisão por estuprar a própria neta foi preso nesta sexta-feira (18) em Avaré. Segundo a polícia, o crime ocorreu entre 2019 e 2021, quando a vítima tinha entre 6 e 8 anos de idade. A prisão reforça o alerta para os índices de violência sexual na cidade. Confira outros casos abaixo.
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Em nota, a SSP afirma que o enfrentamento à violência sexual é prioridade e que vêm sendo investidos recursos em prevenção, responsabilização e acolhimento às vítimas. A política inclui a expansão do atendimento nas Salas Lilás, dedicadas ao apoio de vítimas de violência sexual, e o funcionamento ampliado das Delegacias de Defesa da Mulher (DDMs) em regime 24 horas.
Segundo a SSP, a região do Deinter 7, que engloba Avaré , conta com duas DDMs em plantão contínuo (em Avaré e Taquarituba) e um total de 17 salas distribuídas ainda por Botucatu, Sorocaba, Itapetininga e Itapeva.
A prefeitura informou que está em fase de implantação da polícia municipal e que a Assistência Social atua em parceria com a Delegacia Seccional e a Polícia Militar no acompanhamento dos casos.
Segundo o Executivo, a coleta de dados locais sobre estupro deve ser mais sistemática após a implementação dessa estrutura, com o objetivo de melhorar o combate aos crimes e incentivar denúncias. Para acolhimento das vítimas, a prefeitura reforçou o trabalho da Assistência Social e o atendimento da DDM.
Outros casos
Outros casos envolvendo estupro foram divulgados pelo g1 neste ano. Entre eles, o de uma criança que estava na casa de parentes foi vítima de violência sexual, e um amigo da família foi preso suspeito do crime.
O caso aconteceu no dia 11 de julho. Segundo a Polícia Civil, a vítima estava na casa de parentes quando o suspeito, que é conhecido da família, a levou de carro até uma estrada de terra. No local, ele teria cometido o abuso. O suspeito foi identificado e conduzido até o Plantão Policial, onde ele foi preso em flagrante, por crime de estupro de vulnerável.
No dia 29 de junho, um profissional de saúde foi preso em flagrante, suspeito de cometer o crime de estupro de vulnerável, durante um atendimento no pronto-socorro de Avaré. O suspeito teria tocado a criança diretamente e exposto áreas íntimas do corpo, o que, segundo o registro policial, gerou constrangimento à menina e à mãe. A conduta foi relatada como violação da dignidade da menor.
O homem passou por audiência de custódia no dia 30 de junho, e foi liberado pela justiça. Em nota, a Secretaria Municipal da Saúde do município informou que o profissional foi afastado do cargo, que providências cabíveis foram tomadas e o caso segue sendo acompanhado.
Ainda em junho, no dia 6, um homem foi preso em flagrante suspeito de estuprar a sobrinha, uma criança de sete anos, em um terreno baldio na zona urbana do município. O pai da criança relatou que, quando voltou para a casa, sua filha contou espontaneamente o que aconteceu. Segundo a Polícia Militar, uma testemunha relatou que presenciou o abuso e conseguiu intervir.
Em maio, um mototaxista foi preso em flagrante suspeito de estuprar uma jovem. A vítima relatou à polícia que, ela estava saindo de casa para o trabalho quando foi abordada pelo homem no qual teve contato anteriormente, durante uma corrida de mototáxi. Conforme a Polícia Militar, o homem obrigou a vítima a subir na moto e a levou para uma estrada de terra deserta. No local, o suspeito fez a vítima descer da moto, a derrubou no chão, a puxando pelos cabelos e manteve relação sexual contra a vontade dela.
Já em abril, um servidor público municipal foi preso suspeito de estuprar a enteada e armazenar material com imagens de abuso e exploração sexual, as investigações sobre o caso começaram em fevereiro deste ano.
Ainda sobre esse caso, o servidor público municipal é suspeito de cometer o crime quando a vítima ainda era menor de idade. Os abusos foram denunciados de forma anônima, pelo Disque 100. Em depoimento, a vítima, agora maior de idade, relatou que os crimes aconteceram na época em que morava com a mãe o padrasto, em ambientes da escola onde o suspeito trabalhava.
No dia 26 de março deste ano, um homem foi preso acusado de estuprar a neta e a sobrinha, elas tinham 13 anos na época que o crime aconteceu. Por meio da Delegacia de Defesa da Mulher (DDM), a polícia cumpriu mandado de busca e apreensão contra o investigado. Ele foi preso, levado para a delegacia e encaminhado para a Penitenciária de Iaras (SP), onde permanece preso.
Ainda em março, outro homem foi preso suspeito de estuprar a própria filha de três anos, a investigação policial começou após a babá desconfiar das dores abdominais e na região genital, onde a menina se queixava.
Sobre esse caso, na época, o Conselho Tutelar solicitou o afastamento temporário da menina do convívio dos pais, entregando-a aos cuidados da avó paterna. O depoimento da menina foi colhido na DDM de Avaré. No relato, a menina confirmou ter sido vítima de toques libidinosos praticados pelo próprio pai.
Atendimento às vítimas de violência sexual
A psicóloga Ana Letícia Stelzer, de 28 anos, que atua em Avaré, explicou que os sinais de violência sexual variam conforme a idade da vítima, o tipo de abuso, o vínculo com o agressor e o acolhimento recebido. Além dos sintomas físicos, como dor ou sensibilidade nas áreas íntimas, o impacto psicológico pode ser profundo.
Em crianças, por exemplo, pode haver regressão de comportamento, como voltar a fazer xixi na cama ou usar chupeta, além de mudanças no desempenho escolar. Já os adolescentes tendem a apresentar irritabilidade, agressividade, choro frequente ou medo de ficar sozinhos com certas pessoas, especialmente homens. Em adultos, os efeitos incluem ansiedade, depressão, baixa autoestima, uso de substâncias, automutilação e isolamento.
Segundo a psicóloga, é fundamental procurar apoio psicológico e, no caso de crianças, acionar o Conselho Tutelar. “Em alguns casos, pode ser que a vítima também não demonstre, ou não consiga contar o que aconteceu, identificar se realmente foi um abuso sexual ou não. Então é importante que os profissionais fiquem atentos e acolham esse paciente”, disse.
Ela também alertou para os riscos do ambiente virtual, especialmente para crianças e adolescentes. Recomendou que pais e responsáveis usem aplicativos de monitoramento, orientem sobre o não compartilhamento de fotos ou informações pessoais e criem um espaço de escuta. “Que seja criado um ambiente seguro e confortável, para que o adolescente ou criança se sinta acolhido para relatar se estiver sendo ameaçado, chantageado ou ter sido uma vítima de abusos”, disse.
Ana Letícia ressaltou que nem sempre a vítima percebe que sofreu violência, especialmente quando o agressor é alguém próximo. “A vítima pode identificar o abuso através de uma sensação de violação, lembranças confusas que causam desconforto, uma falta de clareza da situação e medo intenso de ficar próximo à uma pessoa específica.”
Para a psicóloga, falar abertamente sobre o tema é essencial. “Por isso que é tão importante a gente poder conversar sobre esse tema, para que as pessoas tenham clareza a respeito. Falem sobre o abuso sexual sem muitos tabus, porque às vezes, a criança ou o adolescente, ele não se sente acolhido nem dentro da própria casa para poder falar sobre. Sempre que houver qualquer desconfiança de abuso sexual, é importante que os responsáveis e que a rede de apoio, ofereçam uma escuta qualidade, porque hoje ainda existe muito tabu a respeito da violência sexual e acaba fazendo com que a vítima não seja acolhida.”
Ela também destacou o papel da rede de apoio no processo de recuperação: “Acho que também é muito importante que os amigos incentivem essa vítima a denunciar, a procurar ajuda, porque muitas vezes, por conta do julgamento da sociedade, até mesmo da própria família e amigos, a pessoa acaba escondendo e deixando isso por debaixo do pano, vai lidando com consequências terríveis. Quanto mais as pessoas que são redes de apoio estiverem preparadas e capacitadas para ter uma escuta e acolhimento dessas vítimas, melhor é”, concluiu.
*Colaborou sob a supervisão de Carla Monteiro
Violência e abuso sexual infantil: veja os sinais e saiba como proteger as crianças
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