Avenida José Estelita é interditada para construção de parque e trânsito é permanentemente alterado no Centro do Recife


Parque da Resistência Leonardo Cisneiros leva nome de ativista que lutou pelo uso público do Cais José Estelita. Esquema de trânsito após construção de parque no Cais José Estelita
Prefeitura do Recife/Divulgação
A partir da quarta-feira (2), os dois sentidos da Avenida Engenheiro José Estelita serão fechados, mudando de forma permanente o trânsito no Centro do Recife. A alteração, que começa às 7h, é realizada para a construção do Parque da Resistência Leonardo Cisneiros, que leva o nome do professor universitário símbolo do movimento Ocupe Estelita, que morreu em 2021, aos 44 anos.
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A construção do parque é uma das modificações no projeto Novo Recife, que após anos de ocupações do Cais José Estelita e disputa entre ativistas e empreiteiras, construiu torres em frente à bacia do Pina.
O parque não constava na versão original do projeto e foi incluído após anos de protestos e contestações judiciais (relembre no cronograma abaixo). Também será construído o Parque da Memória Ferroviária, na divisa com a Avenida Sul.
Diante da pressão social, foram feitas modificações no projeto, incluindo a construção de parques, como ação mitigadora.
Com a mudança no trânsito, as pistas originais da avenida serão definitivamente fechadas. O fluxo de veículos passa a ser feito em seis faixas ao lado dos arranha-céus construídos no local. São três faixas no sentido Centro e três, em direção à Zona Sul (veja na imagem acima).
Os motoristas que vêm do Centro em direção à Zona Sul serão desviados logo após os armazéns do Cais José Estelita para a nova via. Já os que vêm no sentido oposto pegam o desvio logo após o Cabanga Iate Clube.
Haverá retornos entre quadras dos arranha-céus, e, segundo a prefeitura, isso vai facilitar a redistribuição do fluxo e reduzir deslocamentos desnecessários. O novo esquema também prevê ciclovias e calçadas mais largas e niveladas.
Quando o Parque da Resistência Leonardo Cisneiros for entregue, haverá o prolongamento da Avenida Dantas Barreto, criando um eixo direto entre a Praça da República e o mar.
Parque da Resistência Leonardo Cisneiros
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O novo parque será construído pelo Consórcio Novo Recife, conjunto de construtoras responsável pelo projeto de torres no local. O espaço verde com mais de 33 mil metros quadrados e deve ficar pronto em junho de 2026, com os seguintes atributos:
1,7 quilômetro de ciclovias;
“parques da infância”, segmentados por faixa etária;
um “parcão”, espaço de lazer para animais domésticos;
uma praça no prolongamento da Avenida Dantas Barreto, que será ligado à orla por meio de uma alameda, com travessia permitida apenas para pedestres;
iluminação pública com lâmpadas de LED;
fiação subterrânea das redes de energia, internet, esgoto e gás natural.
Parque da Memória Ferroviária
Além do sistema viário e do Parque Leonardo Cisneiros, está prevista a construção de um Parque da Memória Ferroviária na área cedida pela União, que correspondia ao Pátio Ferroviário das Cinco Pontas. De acordo com o projeto, os galpões e o casario presentes no local serão restaurados.
A proposta é construir, nessas edificações históricas, um polo de cultura, gastronomia e economia criativa. Porém, não foi definido quais empreendimentos vão utilizar esses prédios.
Ocupe Estelita
Desde que foi anunciado, entre as décadas de 2000 e 2010, o Projeto Novo Recife suscita debates e protestos de movimentos sociais. Relembre, na linha do tempo abaixo, os principais episódios envolvendo esse caso:
Dezembro de 2012: a primeira versão do projeto foi apresentada, gerando discussões, e aprovada pelo Conselho de Desenvolvimento Urbano (CDU) da prefeitura do Recife.
Dezembro de 2013: a prefeitura aprovou novas medidas referentes ao polêmico projeto, exigindo ações mitigadoras, adotadas para compensar possíveis danos causados pela construção. Nessa época, tramitavam na Justiça cinco ações questionando o Novo Recife.
Maio de 2014: o consórcio de construtoras iniciou a demolição dos galpões e, no dia seguinte, manifestantes ocuparam o terreno para impedir as obras.
Junho de 2014: após a Justiça determinar a reintegração de posse do terreno, o movimento Ocupe Estelita promoveu festas no local da ocupação, com shows de artistas pernambucanos, como o cantor Otto. No dia 17, houve um confronto com a Polícia Militar para que o acampamento fosse retirado do local.
Maio de 2015: no dia 7, manifestantes acamparam no prédio onde morava o então prefeito Geraldo Julio (PSB). O espaço foi liberado por ordem da Justiça.
Setembro de 2015: a Polícia Federal deflagrou uma operação para apurar fraudes no leilão ocorrido em 2008 que permitiu a compra do terreno. A suspeita era de que o Consórcio Novo Recife tivesse arrematado o terreno por um preço inferior ao do mercado em quase R$ 10 milhões.
Novembro de 2015: a compra do terreno foi anulada por uma decisão do juiz federal Roberto Wanderley Nogueira, da 1ª Vara da Justiça Federal em Pernambuco.
Janeiro de 2016: o Ministério Público de Pernambuco (MPPE) entrou com uma ação civil pública (ACP) pedindo a anulação das reuniões do CDU que aprovaram o projeto urbanístico Novo Recife.
Novembro de 2017: o Tribunal Regional Federal da 5ª Região (TRF-5) não encontrou motivos legais para impedir a construção de prédios no terreno dos armazéns, derrubando a anulação do leilão realizado em 2008.
Março de 2019: o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) concluiu o levantamento histórico do Cais José Estelita, dentro do processo de licenciamento ambiental do projeto, finalizando o embargo imposto ao projeto desde 2014. Manifestantes voltaram a ocupar a área externa do terreno, tentando impedir a demolição dos armazéns, que acabou sendo autorizada pela Justiça. Dias depois, as estruturas foram demolidos e os ativistas deixaram o local.
6 de junho de 2024: após acordo com a União, a área do antigo Pátio Ferroviário foi incorporado ao Novo Recife, e o parque público, previsto como uma das ações mitigadoras do projeto, dobrou de tamanho.
16 de junho de 2024: integrantes do Ocupe Estelita celebraram dez anos do movimento, fazendo uma “inauguração simbólica” da área pública do projeto, batizado de “Parque da Resistência Leonardo Cisneiros”, em homenagem ao professor universitário que foi militante do movimento e morreu em 2021, aos 44 anos.
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