
Fernando Henrique Dardis responde a 24 processos na Justiça, incluindo acusações de homicídio, estelionato e exercício ilegal da medicina. Falso médico, falso morto e falso Fernando. O Fantástico revela novos crimes do homem que é acusado de provocar a morte de 2 pacientes.
Fernando Henrique Dardis, que se apresentava como médico, usou o nome de um idoso morto para forjar a própria morte e tentar escapar da Justiça. A Promotoria afirma que ele fez isso para evitar o julgamento por homicídio de duas pacientes.
Após a revelação da farsa, feita pelo Fantástico, ele admitiu em audiência que está vivo.
Nome de idoso usado em farsa
O corpo de Elias Alves da Silva, de 100 anos, foi sepultado em 6 de janeiro de 2025, em Guarulhos (SP). Dias depois, os dados da sepultura do idoso apareceram em um documento da prefeitura da cidade como sendo do falso morto Fernando Henrique Dardis.
“É uma surpresa triste, porque o meu avô foi uma pessoa totalmente idônea, e saber que foi usado o corpo dele, a história e o nome dele, por um crime”, disse Clayton Alves da Silva, neto de Elias.
Após a descoberta da farsa, o sistema da prefeitura foi corrigido e voltou a exibir corretamente o nome de Elias.
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Identidade falsa
A forja da própria morte não foi a única fraude. Dardis também criou uma nova identidade, com nome, data e local de nascimento diferentes. Pagou R$ 30 mil a um homem que prometeu alterar seus registros e passou a se apresentar com um novo nome.
Com os documentos falsos, tirou novo RG, CPF, título de eleitor e até passaporte, usado para viagens internacionais em 2017 e 2018.
“Quando eu desci do avião em Curitiba, ele me entregou uma certidão de nascimento ‘imprimida’ numa folha de sulfite”, disse Fernando.
Ele também tinha dois títulos de eleitor. A biometria da urna eletrônica detectou que Fernando votou duas vezes no primeiro turno das eleições de 2018: uma em Guarulhos (SP) e outra em Colombo (PR). Ele tinha criado outra identidade, totalmente falsa.
“Gastei dinheiro com passagem para ir 6 horas da manhã para Curitiba, pegar um táxi, sair de lá 10 e pouco, pegar um avião, voltar para Guarulhos e votei de novo”, disse Fernando. “Votei duas vezes porque eu não sabia qual título ia cancelar”, afirmou. “Me desculpem a ignorância.”
Segundo o promotor Antônio Farto, a investigação não descarta que ele tenha feito outros documentos para tentar fugir.
Fernando Dias é falso médico que forjou a própria morte
Reprodução/TV Globo
23 atestados médicos
A defesa de Fernando apresentou 23 atestados médicos em diferentes processos. Em pelo menos duas ocasiões, os documentos foram usados para tentar adiar audiências da Justiça, inclusive no processo em que ele é acusado pela morte de uma paciente.
Um deles, com carimbo da médica Cláudia Obara, trazia um CID que indicava problema na gravidez — mas foi usado para justificar a ausência de uma advogada de 70 anos.
“Minha assinatura não é essa”, disse a médica.
A médica nega ter assinado o documento e diz que não conhece a advogada. A defesa de Obara afirma que a assinatura foi falsificada.
Fernando teria falsificado assinatura de atestado médico
Reprodução/TV Globo
Exames sob suspeita
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Outro atestado indicava que Fernando estava internado com anemia. Para justificar a condição, foram anexados exames de sangue emitidos por um laboratório chamado 12 de Outubro — mesmo nome de um hospital ligado à empresa da família de Fernando, a Meditour.
O laboratório, segundo apuração do Fantástico, não tem registro no Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde.
Conexões familiares
A sócia majoritária do laboratório é Máyra Rosa Torres, casada com Douglas Torres, filho da ex-advogada de Fernando e delegado da Polícia Civil de Guarulhos. Douglas foi o delegado designado para cumprir o mandado de prisão contra o falso médico.
O mandado chegou à delegacia em 17 de maio, mas Fernando só foi preso após a exibição da reportagem do Fantástico.
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O que dizem os citados
Fernando Henrique Dardis: disse que agiu de boa-fé ao aceitar documentos de um despachante do Paraná era legal, e que se apresentou à polícia espontaneamente. Nega ligação com a dona do laboratório.
Maria Inês Dias, ex-advogada de Fernando: disse que estava doente e se surpreendeu com o CID do atestado.
Douglas Torres, delegado: diz que não protegeu Fernando e que o laboratório usa o nome 12 de Outubro por marketing.
Meditour: informou que não é sócia do laboratório e que apenas contrata serviços da unidade.
A Secretaria de Segurança Pública (SSP) de São Paulo abriu investigação sobre possível proteção indevida a Fernando por policiais civis.
Julgamento será retomado
Com a confirmação de que está vivo, o julgamento de Fernando Henrique Dardis pelo caso da paciente Maria Helena Rodrigues foi remarcado para o dia 30 de outubro. Ele também é investigado em outro processo por morte de paciente.
Fernando Henrique Dardis é réu acusado de provocar as mortes de Helena Rodrigues e Therezinha Monticelli Calvim entre 2011 e 2012
Reprodução/TV Globo
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