Tarifaço de Trump: a dias do fim da trégua, EUA só firmou dois acordos comerciais; Brasil não é um deles


Presidente dos EUA determinou uma pausa de 90 dias nas tarifas recíprocas, que acaba em 9 de julho. Brasil ainda tenta uma negociação. Entenda como Tarifas de Trump podem afetar Brasil
Faltando menos duas semanas para o fim da pausa de 90 dias nas tarifas recíprocas instituídas pelo presidente americano, Donald Trump, os Estados Unidos firmaram apenas dois acordos comerciais — e o Brasil não está nessa lista.
Na teoria, o fim do prazo seria no dia 9 de julho. Nesta sexta-feira (27), Trump disse que a data final para negociações das chamadas “tarifas recíprocas” ainda não está completamente definida.
“A data de 9 de julho não é fixa, podemos fazer o que quisermos. Podemos estender [o prazo], podemos encurtar. Eu gostaria de encurtar”, afirmou.
O primeiro acordo comercial firmado pelos EUA foi com o Reino Unido. Anunciado no início de maio, o tratado realinhou cotas e reduziu as tarifas aplicadas por ambos os países sobre produtos importados.
Os EUA mantiveram uma tarifa de 10% sobre os produtos britânicos importados.
O Reino Unido reduziu as taxas sobre os produtos americanos de 5,1% para 1,8%, além de ampliar o acesso dos EUA aos seus mercados.
Já no início deste mês, os EUA chegaram a um consenso com a China após meses de impasse. No entanto, o acordo ainda depende da aprovação oficial dos líderes de ambos os países — o que ainda não aconteceu formalmente.
O tratado determinou uma taxa de 10% da China sobre os produtos americanos; e
Uma tarifa de 55% ao que os EUA importam dos chineses.
Embora representem um avanço na nova política tarifária de Trump, os dois acordos não abrangem a maior parte dos mais de 180 países afetados pelas tarifas anunciadas pelo republicano no início de abril.
“Há uma certa dificuldade diplomática dos EUA em fechar acordos amplos e com múltiplos parceiros. Seja por questões relacionadas à própria política comercial, seja pela geopolítica”, afirma Frederico Nobre, gestor de investimentos da Warren.
No último mês, parte dos esforços voltados à negociação de novos acordos comerciais foi redirecionada para o conflito entre Israel e Irã. Primeiro, houve intervenção militar dos EUA — que atacaram instalações nucleares iranianas — e, posteriormente, uma mediação de Trump para um cessar-fogo.
Diante do atraso nas negociações e da proximidade do fim do prazo, especialistas ouvidos pelo g1, afirmam que a expectativa agora é de uma prorrogação da suspensão por parte dos EUA, permitindo a conclusão das tratativas em andamento.
“Eles não tiveram tempo suficiente para negociar”, afirma Welber Barral, ex-secretário de Comércio Exterior e sócio-fundador da BMJ Consultores Associados. Ele destaca que diversos países ainda estão em tratativas com os EUA, como Coreia do Sul, União Europeia (UE) e Japão.
“Então provavelmente eles vão precisar manter essa suspensão por mais um tempo, e essas negociações vão dar mais trabalho do que eles imaginavam”, diz Barral.
Donald Trump se irritou ao ouvir questão sobre expressão ‘Trump Sempre Arrega’, em 28 de maio de 2025
REUTERS/Leah Millis
Negociações ainda em andamento
Desde o anúncio das tarifas, em abril, diversos países afirmaram que estão tentando negociar com os EUA.
Na última cúpula do G7, realizada neste mês, líderes das principais economias tentaram avançar com seus próprios acordos. No entanto, Trump deixou a reunião mais cedo, alegando a necessidade de lidar com a escalada das tensões no Oriente Médio.
Nesta semana, o primeiro-ministro do Vietnã, Pham Minh Chinh, afirmou durante um fórum econômico na China que espera concluir o acordo comercial com os EUA antes do fim do prazo de suspensão das tarifas, em julho.
Líderes da União Europeia se reuniram na quinta-feira (26) para discutir se optam por um acordo comercial rápido ou se continuam buscando condições mais vantajosas.
Recentemente, a UE — que passou meses tentando negociar uma taxa inferior aos 10% mínimos impostos por Trump — declarou estar preparando uma série de tarifas retaliatórias como estratégia para garantir um acordo mais favorável à região.
Entre os países que já indicaram estar em negociações com os EUA estão:
Índia;
Canadá;
Taiwan;
Austrália;
Paquistão;
México;
União Europeia;
Suíça;
Itália;
Alemanha;
Tailândia, entre outros.
E o Brasil?
Embora o Brasil não tenha sido um dos mais impactados pelas tarifas, com alíquota de 10%, especialistas destacam que o país continua sujeito às tarifas sobre aço e alumínio, em vigor desde o início deste mês.
Antes fixadas em 25%, as tarifas foram elevadas para 50% por meio de um decreto assinado por Trump. Tanto o aço quanto o alumínio são produtos estratégicos para as exportações brasileiras, e o Brasil é um dos principais fornecedores de aço para os EUA.
Como mostrou o g1, além de uma possível redução nas exportações brasileiras por conta das tarifas, especialistas já haviam destacado que as medidas também afetam fortemente o setor siderúrgico — sobretudo as empresas com forte presença no mercado externo.

“O país precisará, sim, avançar nas negociações bilaterais com os Estados Unidos, especialmente do lado do Itamaraty e do MDIC [Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços], para garantir que cotas preferenciais ou isenções tarifárias sejam aplicadas para o aço brasileiro”, afirma Nobre, da Warren.
O ministro do Desenvolvimento e vice-presidente, Geraldo Alckmin, chegou a se pronunciar algumas vezes nos últimos meses sobre os impactos das tarifas de Trump para o Brasil e o mundo, mas sem detalhar o andamento das negociações.
No início deste mês, Alckmin afirmou que a melhor forma de mitigar os efeitos seria aprofundar o diálogo com os americanos, destacando a criação de um grupo de trabalho bilateral com o secretário do Comércio dos EUA, Howard Lutnick, e o USTR (representante do comércio dos EUA).
Pelo lado do Brasil, o grupo conta com a participação do Ministério da Indústria e do Ministério das Relações Exteriores. Procurado, o MDIC afirmou ao g1 que as negociações foram iniciadas em março e que, desde então, “uma série de reuniões presenciais e virtuais” tem sido realizada para dar continuidade às tratativas.
“Neste momento, enquanto as negociações seguem em curso, não é possível divulgar detalhes sobre o conteúdo das discussões, sob pena de impactar o andamento e a efetividade do processo negociador”, informa o ministério.
O MDIC acrescentou que segue comprometido com a defesa dos interesses dos exportadores brasileiros, “tanto em relação às tarifas recíprocas quanto no enfrentamento de medidas adotadas sob o argumento de segurança nacional”.
“A relação comercial entre Brasil e Estados Unidos é sólida, histórica e de relevância estratégica para ambos os países. Os EUA mantêm superávit comercial com o Brasil, e o intercâmbio entre as duas economias é complementar, trazendo benefícios mútuos”, completa o ministério.

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