
Igreja Adventista do Sétimo Dia investiu na criação de sua própria plataforma de IA e elaborou até um Código de Ética para definir os limites do uso da tecnologia. [publicar e inserir vídeo ID 13710232]
Com mais de 50 sermões para preparar por ano, o pastor Jorge Miguel Rampogna encontrou uma aliada para ajudar nessa missão: a inteligência artificial.
Pastor adventista desde 2001, Rampogna já chegou a ter uma pasta com recortes de jornal onde guardava histórias que poderiam ajudar com as pregações. Hoje, é versado em prompts (comandos para a execução de tarefas pela IA).
“Estou fazendo um doutorado em que a minha área de estudo está sendo justamente a aplicação da inteligência artificial na missão da igreja, que é compartilhar a palavra de Deus para mais pessoas”, contou o pastor.
Com o objetivo de levar a mensagem da igreja a um público maior, a Igreja Adventista do Sétimo Dia investiu na criação de sua própria plataforma de IA e elaborou até um Código de Ética para definir os limites do uso da tecnologia.
➡️ Os adventistas são uma denominação evangélica presente em mais de 200 países, conhecida por pregar a iminente volta de Jesus – o “advento”, que dá nome ao grupo. Também são conhecidos por “guardar o sábado” como dia sagrado, reservado ao descanso e à adoração.
A “IA Adventista” pretende:
Responder perguntas sobre a Bíblia
Auxiliar pastores com esboços de sermão
Ajudar na consulta a manuais da igreja
“A nossa IA vai começar a responder as perguntas da mesma forma que outras inteligências artificiais, só que a base de dados de conteúdo é cristã, e especificamente adventista, né?”, explicou o pastor.
A Igreja Adventista do Sétimo Dia investiu na criação de sua própria plataforma de IA e elaborou até um Código de Ética para definir os limites do uso da tecnologia.
Reprodução
‘Máquinas não podem substituir pensamento’
Apesar do auxílio dado pelas ferramentas tecnológicas, o pastor disse que se preocupa com a substituição da autonomia do pensamento por respostas fabricadas.
“Máquinas não podem substituir aquilo que é um dom sagrado do ser humano, que é a capacidade do pensamento”, disse Rampogna.
Assim, ele reforça que para fazer os sermões com a ajuda da IA, não abre mão da pesquisa feita à moda antiga. Veja o passo a passo ao preparar um sermão:
A primeira etapa é a leitura da Bíblia;
Em seguida, Jorge sublinha os trechos que gostaria de destacar e toma notas em um caderno físico.;
Ele passa as anotações para uma plataforma de inteligência artificial, como o ChatGPT, e pergunta se a ferramenta tem mais referências ou livros sobre aquele assunto;
Com a pesquisa completa, escreve o rascunho do sermão;
Recorre à IA mais uma vez, desta vez para revisar o texto escrito.
“Então, [a IA] me ajuda também na edição final desse conteúdo e, a partir disso, agora sim, eu já tenho o sermão escrito”, contou o pastor.
Criação de imagens de santos
O uso de Inteligência Artificial em atividades religiosas também chegou às equipes de comunicação das igrejas. Entre os adventistas, por exemplo, Rampogna destaca a criação de campanhas em redes sociais por igrejas locais.
Entre os católicos, a Congregação Copiosa Redenção, que ficou conhecida pelas freiras do beatbox, usa a IA para criação de imagens de santos – já que são personalidades com pouco ou nenhum registro histórico.
Em seu perfil nas redes sociais, a Copiosa Redenção já publicou imagens criadas digitalmente de São Matias e Santa Mônica, por exemplo.
Imagem de Santa Mônica criada por inteligência artificial e divulgada pela Congregação Copiosa Redenção. Santos têm pouco ou nenhum registro histórico
Reprodução/Instagram
IA não deve ser ‘divinizada’, diz Vaticano
Em um extenso texto de mais de 100 parágrafos, o Vaticano, em janeiro deste ano, falou sobre a relação entre a inteligência artificial e a inteligência humana.
A Santa Sé entende a IA como algo funcional: executa tarefas de maneira eficaz sem compreender, sentir ou julgar moralmente. Já o ser humano é criado para a comunhão, não apenas para tarefas funcionais: isso o diferenciaria radicalmente da IA.
O Vaticano afirmou ainda que a “idolatria tecnológica” é uma tentação moderna, mas que a tecnologia deve ser usada apenas como instrumento complementar à inteligência humana.
“Não é a IA que será divinizada e adorada, mas sim o ser humano, que, dessa forma, torna-se escravo de sua própria criação”, disse o texto.
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Primeira etapa para ciração de sermão é a leitura da Bíblia, diz pastor Rampogna. Inteligência artificial vem depois, como ferramenta complementar.
Priscilla Du Preez via unsplash